O vô Lídio, o Bola e o Cachaço

Lídio. De acordo com a Wikipédia, O modo lídio forma-se estabelecendo como tônica a quarta nota da escala diatônica, podendo ser classificado como um modo maior. Entendeu? É um modo. Ponto.
E também é o nome do meu avô, que faleceu no dia 1 de abril passado (bem humorado o vô Lídio!). O vô Lídio era louro, de olhos muito azuis, alto, muito alto, devia ter uns 3 metros. Com o passar dos anos ele foi diminuindo como tudo que conheci no Paraná, diminuiu! Eu brincava de montar em melancias e demorei um tempão, até que meu irmão mais velho me informou: “Não! As melancias do Paraná não são gigantes! Você era bebê quando montava nelas!” o que me deu uma certa frustração.

Eu achava que Lídio era um modo Menor… Talvez porque o tom que falava meu avô parecia “meio menor”, além do fato dele falar uma língua própria que somente minha avó entendia.

Ele não era, originalmente, meu avô! Ele era um “homi alto do zóio azul” que roubou minha avó do meu avô original. Um cearense me disse, certa vez, que as baianas são assim, mesmo: “É minha filha… baiana é assim… um belo dia ela pega uns panos de bunda e dá no pé!” disse o taxista (abandonado por uma baiana boa?).

O Original, era mistura de português com Negro (de onde veio meu super cabelo-duro!) e minha avó, baiana, de ascendência evidentemente indígena (daí, os olhos puxadinhos que todos herdamos do papai!). Ela era linda! Linda, benzedeira, feminina, sempre de lenço na cabeça e uma gargalhada que fazia tremer o chão da cozinha!

Me lembro desses dois, com muito amor e um pouco de “maquiagem da minha memória”, talvez. Eu fui tão feliz nesse período “meio lá meio cá”, construindo minha identidade “meio caipira” da qual me orgulho tanto, que talvez tenha excluído um detalhe aqui e ali! Lembro do cheiro do pão saindo do forno a lenha, da bicharada sendo frita na panela, dos pés descalços de minha avó e de suas “feitiçarias”. Meu avô ficava mais lá fora, mesmo, cuidando dos bichos vivos, matando coisas que ele considerava condenadas à morte (como cobras e raposas) e somente entrava para comer ou dormir. O restante do dia era na lida, na roça, na Tuia e, no final da tarde, na varanda com seus cigarros e sua cachaça.

Quando estávamos todos lá (eu, meus pais, meus – à época, 3 – irmãos), além de possíveis “anexos” da minha família, essa rotina era interrompida pela nossa barulhenta presença mas, como lugar de homem era pra fora e, de mulher, pra dentro, passei muito tempo nessa cozinha com minha avó, seus pães, queijos e carnes. Era tudo que a gente comia, além, claro, de melancias gigantes, mangas que manchavam minhas roupinhas e toda a frutaiada e coisas verdes de Horta.

Minha mãe a chamava de mãe e lhe devia obediência, portanto, com quatro filhos, sendo três moleques que não paravam quietos nem um segundo, eu “sobrava” para minha avó, o que era um privilégio imenso! Hoje, o vô Lídio, minha avó Maria e meu pai estão juntinhos no céu, partilhando deliciosas lembranças, enquanto eu e minha mãe fazemos o mesmo aqui na Terra.

O Bola era um cachorro. Na verdade, foram vários, todos chamados Bola, ao longo de minha infância. Como a terra do Paraná é muito vermelha, os cães eram todos, meio cor de tijolo. O vô Lídio tinha um jeito todo peculiar de lidar com animais em geral. Por razões dele que JAMAIS questionamos, principalmente porque ele andava com, no mínimo, um revólver e um facão, daquele jeito lento, com botas enormes (com espora de verdade!) e a gente via o “facão cantar” toda hora! Lá vinha o vô: Cigarro na boca, um bicho morto numa mão, o facão ensanguentado na outra e uma longa história, cheia de detalhes de quase morte na captura do animal.

Seu procedimento com os Bolas era sempre o mesmo: Castrava, cortava fora o rabo e as orelhas. Daí, sem rabo, nem bolas, nem orelhas, virava uma “Bola cor de Tijolo” e minha avó (sabe como é baiano…) manteve o nome, já que a aparência do cão era sempre a mesma.

Ela dizia para o cão (do mesmo modo como falava com todos, exceto com o vô Lídio, para quem ela se dirigia muito pouco e em um tom mais “respeitoso”, dizia: “Bola, meu, fi, pegue ali a galinha, a do pescoço pelado, assim, assim…” e, lá ia o tal do Bola, voltava com a galinha “semi-morta” na mão, dava na mão da minha avó, abanava seu não rabo esperando alguma coisa que ela jamais deu e ficava assistindo à cena. Ela pegava a galinha, botava em cima da pia, pegava um facão de cozinha e “zap!” sacava-lhe o pescoço, do ombro pra cima (galinha tem ombro?). Pendurava a bichinha de cabeça pra baixo, em baixo do pescoço (ou ombro?), botava uma bacia pra escorrer o sangue. Desse sangue, fazia uma espécia de “chouriço de galinha”, o restante, ia tudo pra panela! Desde pequena, como pés, pescoço, asas, moelas e, numa família com 5 homens (no mínimo!) uma menina como eu experimenta uma coxa de frango, praticamente, depois dos 12, 13 anos de idade. Eu continuo preferindo pés e asas. A vovó separava essas coisinhas pra mim numa bacia de plástico pequena, dava na minha mão (sem talher nenhum, claro!) e adorava me ver me lambuzando de galinha. Escrever isso me dá água na boca e nos olhos…

Todo mundo trabalhava, inclusive o Bola! Eu aprendi a depenar galinha e passei a fazer esse “serviço”, com uns 5 ou 6 anos. Debulhar milho seco pra galinha, pilhas de milho, é um serviço bem dolorido. Pode parecer inacreditável, mas até descascar amendoim (pilhas e pilhas) machuca demais as mãos. Me lembro de enfiar minhas mãozinhas na água gelada do Paraná pra aliviar essa dor. E, olha, que eu era “café-com-com-leite” nessas atividades. Mais tarde, já com uns 9 ou 10, podia manejar facas e, à exceção da decapitação, todo o restante eu poderia fazer, exceto, claro, também, cozinhar a bichinha, já que a mão da minha avó era o que, realmente, valia.

Meu pai tinha um irmão por parte do vô Lídio com sabe-Deus-quem (eles nunca explicaram essa parte da história mas o que entendemos foi o seguinte: Vovô era viúvo e tinha um menino, vovó era casada e tinha 11 meninos. Meu avô propôs (nos anos 50, no interiorzão de Minas, quase divisa com a Bahia) “Foge comigo, Maria! Larga tudo pra lá! Eu levo meu menino, você escolhe um dos seus e a gente vai-se embora pro Paraná, onde ninguém vai achar a gente!”. Plano perfeito! “Perfeito”, pelo menos, pra mim, porque o menino que ela escolheu foi, exatamente, meu pai. Não era o mais jovem, nem o mais velho, nem o único menino e quando eu, já adulta, tive coragem de perguntar o que ninguém havia perguntado “Por que o meu pai, vó?” Ela respondeu “Ah… era o que tava mais na mão…” e deu sua gargalhada de tremer o chão. Ponto. Eles cresceram assim: O meu pai era dela e o meu tio, dele. Cada um tinha seu filho, “meio juntos”… Na cozinha, meu pai se dava bem e se lascava na roça, meu tio, o contrário.

Se a minha avó cozinhasse uma galinha só, na ausência do meu avô (o que era raro, mas acontecia), as coxas e o peito eram do meu pai e o restante, dividido entre nós. Aquilo não significava nada, nenhum tipo de injustiça ou sofrimento, porque a ordem geral das coisas era totalmente diferente do “normal”. Os homens eram “machos armados” e nós os servíamos.

Meu pai deu uma boa transgredida nessa ordem e, às vezes, somente pra “provar minha macheza” em público, me botava pra montar ou atirar, coisas que ele me ensinou e eu adorava fazer! Montar um cavalo sem cela ou atirar de espingarda, aos 6, 7 anos de idade faz a Disney parecer uma grande piada… No meio do mato, crianças não são “poupadas” de quase nada. Cresci vendo animais sendo abatidos, já beirando a adolescência (aquela chatice, Deus me Livre…) tive uma fase-frescura que não queria comer carne porque tinha dó dos bichos, mas como na minha casa não tinha muito essa de “criança querer”, a frescura passou rapidinho e aquilo era uma coisa “da vida”.

Cachaço é o nome dado ao Porco não castrado, usado para reprodução. Na minha memória, o cachaço (também trocava de cachaço…) era do tamanho de um rinoceronte, uma coisa tenebrosa, da qual a gente não podia nem pensar em chegar perto! Eu entrei muito em chiqueiro, pra pegar os porquinhos bebês no colo e pegar bicho de pé. O bicho de pé é um vermezinho que entra no pé de crianças sem noção que ficam sambando em chiqueiros. Meu micropezinho era um feudo de bichos de pé. Meu avô me pegava no colo, pegava seu facão e, com a pontinha do facão, tirava os bichinhos de mim. Doía muito e eu jurava pra todo mundo que nunca mais entraria no chiqueiro. Mas daí, vinha aquela ninhada… Porquinhos cor-de-rosa, prontos para serem ninados e eu não resistia… Bebê porquinho no colo o dia inteiro, no dia seguinte, lá vinha o vô, com 3 metros de altura “deixa eu ver esse pé!” e sacava seu facão…

Eu comia tudo que via pela frente, queria experimentar: frutas verdes, verduras, direto da horta e até mesmo coisas que não eram de comer, tudo sem lavar… Dias descalça, aprontando… Meu cabelo ia virando um rastafari e eu estava sempre uma imundice. Meu pai brigava com minha mãe “Maria, pelo amor de Deus, dá um banho, penteia, põe uma roupa nessa menina, parecendo um tatu!” e ela dizia “Eu não venço! Ela não pára!”. E voltava pra casa com bicho de pé, vermes na barriga, coisas coladas no cabelo e essas coisas somente apareciam em São Paulo, no Paraná, a gente nem percebia!

E então, um Certo Bola cismou que era porco e começou a frequentar o chiqueiro. Com o tempo, foi ficando com jeito de porco, cara de porco, cheiro de porco, comendo lavagem. Um belo dia, depois de assuntar essa coisa do
Bola ter virado porco, meu avô pegou seu revólver e ia caminhando em direção ao chiqueiro. Eu, não me lembro como, entendi o que iria acontecer: O Bola seria sacrificado e eu tinha que fazer alguma coisa.

Comecei com o “charme com beicinho”, murmurando entre manhas “Vô… não… não… por favor… não mata o Bola… ele é bonzinho!”. Eu era muito pequena mas sabia que raposas matavam galinhas, cobras picavam pessoas e vacas e porcos, a gente comia! Então, todos estes tinham lá “seu bom motivo pra morrer”, mas o Bola! Cachorro não faz mal a ninguém e ele trabalhava, até começar a andar entre os porcos… Era uma fase…

O charme com beicinho sequer ralentou o passo do meu avô e então, tive que tomar uma atitude mais drástica e entrei no “modo Chilique”. Foi um show à parte! Eu comecei a gritar, me joguei no chão, agarrei a perna do meu avô (que me arrastava junto com suas passadas) e mentalizava “Pai! Me ouça! Eu estou quase morrendo!”. Outra técnica que aprendi de menina era gritar de um jeito, com “voz de cabeça” que eu ia ficando roxa, até que, de nossas costas, ouvi a voz do meu pai “Lídio!” – ele nunca chamou meu avô de pai! – e o véio Lídio parou. Meu pai vinha andando com um olhar que quase me fez me arrepender, mas o Bola tinha uma chance!

Estava funcionando! Larguei a perna do meu avô, enchi os pulmões de ar e fui gritando, dramática, roxa, descabelada “Paaaaaaaaaaaaaaaai! Paaaaaaaaaaaaaaai! Nãaaaaaaaaaaaao! Nãaaaaaaaaaaaaao!!!” e ele, desesperado, me botou no colo, ensopada de lágrimas, tremendo de medo – medo de tudo! até de um possível duelo de bang-bang. Seria assim: Meu pai e meu avô virariam as costas um para o outro, contariam dez passos e isto duraria uma eternidade que assistiríamos eu, o Bola e o Cachaço, todos torcendo para o meu pai! “Bang!” meu avô cairia duro e eu traria o Bola comigo para São Paulo. O plano estava todo armado!

Meu pai tinha um jeito de olhar nos olhos de botar muito (mas, muito!) medo – esse, eu também aprendi! – “O que tá acontecendo, Lídio?”. Eu estava no colo, os dois, armados, de chapéu, olhos nos olhos. Era a filha única do filho único da Maria-Baiana-Bruxa-que larga a família. Meu avô estava quase encrencado. Falando tudo meio atropelado, eu em bebenês engasgado de choro e o vô naquele lidiês que só ele entendia, até que meu pai disse “Vai matar o cachorro porra nenhuma, Lídio! Que isso?”. Minha avó, lá da janelinha da cozinha, muito malandra, grita “Deixa de bestage cês dois e vem comer!”.

Assim, em silêncio, voltamos. Enquanto isso, no chiqueiro, Bola e os porcos celebram sua vitória num abraço coletivo.

No dia seguinte, meu avô foi pra Roça e eu passei o dia tentando convencer o Bola a voltar a suas atividades de cão e, para tanto, entrando no chiqueiro, o que também já havia sido proibido. Sentia que estava complicada. Até a última vez que vi meu avô, já com quase 40 anos, todas as vezes que o vi na vida, pedi sua benção e beijei sua mão. Naquele dia, fiz um desenho, fiz coisas de “menina bonitinha”, tentei chantagear minha avó para que ela intervisse, coisa que ela jamais faria, já que “Criação é coisa de homem!” e esperava que ele voltasse de bom humor.

Ele chegou da roça, pedi sua Bênção, puxei seu velho saco (meu avô sempre teve a mesma idade! Ele sempre foi velho, somente diminuiu de tamanho com o tempo) e ele me olhava de esgueia (nesse contexto o “lh” da palavra “esguelha” ficariam absolutamente inadequados!). Não tocou no assunto do Bola, mas eu não resisti.

“Vô, o Senhor não vai matar o Bolinha, vai?” e ele, falando baixo e lentamente me explicou “O Cachaço vai matar ele, fia… Quando as porca entrá no cio, cê vai vê! Eu ia matar ele com um tiro, um tiro só, bem na cabeça, não dói nada, os porco vão judiá dele e a culpa é sua!”. Eu não entendi nada… Pensei “as porca entrar onde? que cio? elas não saem daquele chiqueiro véio!”. E fui perguntar pra minha mãe: “Mãe, onde fica o cio?” (afinal, era só não deixar as porca entrar!) ela “O que?” eu repetia a pergunta e ela repetia o “O que?” até que eu expliquei o que havia me dito o vô Lídio. Ela riu sem jeito e me explicou “é quando elas estão prontas pra ter bebê!”.

Dentro do chiqueiro havia um “quartinho” onde ficavam a porca e seus bebês “Já sei onde é o cio!”. O plano era simples: Era só fechar a porta do quartinho e não deixar que as porcas entrassem… Quando você tem 6 anos de idade, realizar um plano destes exige muito tempo e cuidado. Levei um dia inteiro, entre a busca de uma boa oportunidade, sem testemunhas, desculpas esfarrapadas e muitos “eu te amo, mamãe, eu te amo vovó”, bem bonitinha, pra ninguém desconfiar.

Meu pai, quando passávamos mais tempo no Paraná, claro, ia pra roça como todos os homens e, ao voltar pra casa, deu falta de mim e foi direto ao meu “canto preferido-proibido”. Chega no chiqueiro, está a seguinte cena: Eu lá dentro, pura merda de porco da cabeça aos pés, tapando a porta do quartinho da porca com coisas que eu peguei sem autorização nem fiscalização de nenhum adulto, já escurecendo.

Ele chama meu nome daquele jeito… Tinha um jeito que era, praticamente, “Vem apanhar”. Tinha o grito, meia dúzia de xingamentos (que não passavam de “menina boba” “menina feia” “menina porca”) e o som inesquecível da cinta passando nervosa pelos passantes da calça dele. É, eu iria apanhar, mas era por um bom motivo: As porcas, simplesmente, não entrariam no cio!”. Ele me desceu a cinta, sem dó! Meu avô vinha logo atrás dele (engraçado isso, quando um exagerava, o outro segurava a barra) “Que isso, Joel? Batendo na menina?”. Meu pai apontou a palhaçada que eu tinha feito no chiqueiro e me disse “Você vai arrumar isso agora!”. Meu avô intercedeu “Já está de noite, amanhã a gente vê isso”. Me estendeu a mão (uma mão enorme, áspera de puro calo e rachaduras!) e eu entrei pra casa. Agora era uma coisa coberta de merda de porco, xixi (o meu próprio, já que cintadas sempre estimularam o funcionamento da minha bexiga), descabelada, descaça e quase sobra pra minha mãe. Meu pai, cinta na mão, disse “se essa menina entrar no chiqueiro mais uma vez – balançou a cinta, que sorria de satisfação, sentindo-se uma Naja Venenosa – a gente vai conversar” (com aquele olhar pavoroso que ele fazia).

O clima na mesa estava de cortar com faca! Dois revólveres sobre o guarda-comida. Dois homens putos, duas Marias apavoradas, tudo culpa minha e meus três irmãos me olhando com fúria! Um deles ainda disse pro outro, entre dentes “se fosse a gente, heim!” e eu pensei, meu Deus! Acho que meu pai iria capá-los, cortar as orelhas e o pinto, já que eles não tinham rabo. Fiquei pensando por que é que a gente, que é gente, não tem rabo e concluí, comendo um pé de galinha, que era porque os homens usavam calças e se fizesse um buraco na bunda, pra passar o rabo pra fora, a bunda apareceria, o que era absolutamente proibido.

No dia seguinte, quando o Sol nasceu e os homens foram pra Roça, minha mãe correu concertar a cagada que eu havia feito no chiqueiro e falou comigo, muito sério, que eu não poderia, definitivamente, mais, entrar lá ou ELA tomaria uma surra… Nela, ela batia de mão, mesmo, era feio e esse foi “O” argumento que me convenceu. Adeus chiqueiro.

Nós, quando crianças, desenvolvemos um certo tipo de intuição quando os adultos estão escondendo alguma coisa e esse era o clima da casa. Todo mundo sabia de alguma coisa, menos eu. Meu irmão, o mais jovem dos três, estava com cara de choro, minha mãe também, tinha um silêncio estranho e os homens não estavam na casa, nem na roça (não era dia de roça, não me lembro bem porque). até que eu escapuli e segui meu instinto.

Lá estavam os 4. Meu avô e meu pai dando um jeito na “cena do crime”, o cachaço fumando um cigarro,  ótimo e sem culpa e o corpinho do bola estraçalhado, aos pedaços pelo chão… Minha mãe havia aberto a porta do cio, as porcas entraram lá e o Cachaço matou o Bola, como meu avô havia explicado… Meu pai me olhou de um jeito que dispensou palavras e eu saí correndo.

Minha mãe me pegou no colo pra me consolar. Aquilo, pra mim, era quase como morrer e eu disse “Mãe eu juro, juro, juro que nunca mais vou entrar nem no chiqueiro, nem no cio!”. Ela riu de mim e me abraçou com um amor enorme, como ela me abraça pra me consolar, com aquele peito macio dela, sua voz de Soprano, seu cheirinho. Enxugou as lágrimas que ela continua enxugando, me olhou por um tempo e disse “O que é que eu faço com você, heim?”. E não fez nada, só me amou. Dormi. Esqueci. Dias depois,havia um outro Bola e eu falei pra ele que nem ele nem eu podíamos, nunca mais, que eu havia prometido, entrar no chiqueiro. Muito menos, no cio!