Imparcialidade ou covardia?

“Neutro é o que já se decidiu pelo mais forte” (Max Weber)

Se um homem espanca uma mulher ou uma mulher a um cão ou um cão a um gato, “não se meter” significa participar da prática, ser “comparsa” (ou “comadre”?) do homem, da mulher e do cão, na ordem acima, claro…

Há, sempre houve e sempre haverá, sim, o bem e o mal, o certo e o errado e estas coisas não são paralelas, o bem e o certo estão acima, muito acima do mal e do errado. A gente sempre sabe, ainda que ninguém mais no mundo saiba, ainda que a gente finja com muita sinceridade que não sabe, a gente sempre sabe, lá no íntimo, na chama do bem que há em nós que, sim, acabamos de fazer uma merda e/ou cometer uma injustiça…

Passei quase 40 anos da minha vida me envaidecendo (será que foi aí que me dei mal?) do fato de não ter “indisponibilidades”, pessoas que não tolero ou que me fazem mudar de calçada, passei esses anos sendo “quase imparcial” em muitas encrencas, achando que estava sendo justa, que estava cooperando para um “bem estar social”, me julgando capaz de “amenizar as coisas com o meu infinito amor pelas pessoas bla bla bla” na minha família, entre meus amigos e, no meu trabalho (até porque, na minha vida, estas pessoas se cruzam, se misturam)…

Eis que nos últimos anos, as coisas foram se complicando, complicando e, hoje, a lista de meus desafetos beira umas dez pessoas, uma coisa que achei que jamais aconteceria na minha vida, coisa que acreditei estar em minhas mãos e, com a qual, saberia, sempre lidar. É aí, sempre aí, no excesso de orgulho e na falta de atenção, que caímos em armadilhas vulgares…

Quando você caminha ao lado de pessoas às quais você assiste, pessoalmente, travar guerras inúteis contra outras pessoas deve, simplesmente, se afastar delas e ser, sim, parcial! Olhar as coisas, enxergar o bem e o mal, o certo e o errado, saber a distinção entre eles e escolher o lado certo. Sempre há um. Se uma história tem duas versões é porque uma é verdadeira e a outra falsa… Daí, você junta a verosimilhança, lógica e (por que não?) a sua intuição e “aparta-te”!

O ódio gratuito é idêntico ao preconceito… É burro, ilógico e, nessa falta de lógica, um dia pode voltar-se contra você! As pessoas dão sinais o tempo todo… Mas, muitas vezes, o amor da gente (com uma boa dose de prepotência, do tipo “comigo não!”) maquiam as coisas a nosso favor, como os defeitos que o apaixonado não percebe em seu objeto de desejo.

A maldade das pessoas não atinge a ninguém mais do que a própria pessoa má. A maldade, a maldade legítima, profunda, é um tormento, uma doença, um abcesso, que a pessoa que a possui, às vezes, nem percebe. As pessoas más são dignas de pena, prece e esquecimento. Se possível, com muito tempo e nobreza, quem sabe, do nosso perdão. São pobres diabos atormentados, você foi “a pessoa que passou e cruzou a maldade dela”, não chega nem a ser pessoal… Sinto mais pena do que raiva dos maus…

E vou citar mais um cara: “O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos desonestos, dos sem caráter, dos sem ética… O que me preocupa é o silêncio dos bons.” (Martin Luther King).

Não chego aos pés do Martin… o cara é “King”, não alcanço toda essa nobreza e bondade, não enxergo, quase nunca, a “bondade dos que se silenciam”… Estes, sim, eu detesto! Os roedores de corda, os “leva-e-traz”, os vira-casaca. Daí, eu preciso da Clarice (porque ela já disse do melhor jeito, melhor não tentar de outro): “se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão” (Clarice Lispector).

Na minha idade (pois é… já tenho idade pra começar parágrafos com “na minha idade”…) já vi muitas coisas sendo plantadas e, posteriormente, colhidas e enxergo (com o coração tranquilo) que há, sim, uma justiça, independente de mim e de minhas ações… É uma expressão repetida, quase vulgar, mas a tal da “Lei do Retorno” é cumprida à risco, Graças a Deus! É só esperar pra ver!

Eu adoraria dizer o contrário, mas o compromisso que tenho com a verdade é maior do que meu desejo de contar uma mentirinha… Não, eu não desejo o bem para toda a Humanidade, não… Tem uma turminha aí que eu aguardo, sim (sem orgulho nenhum, apenas admito, confesso) que eu vou ver cair, se estabacar no chão e não terei pena alguma. Vida longa e morte lenta a todos os roedores de corda do Mundo! Que venha a conta e que venha bem alta e eu adoraria dizer o que todo mundo diz “Não desejo mal a ninguém” mas, não é uma questão do “meu desejo” (ah, se fosse! ah, se meus desejos, simplesmente se realizassem ao escrevê-los!). Não, não é um desejo, é uma certeza que a experiência me trouxe: “Aqui se planta, aqui se colhe!”. Eu estava lá vendo o “plantio”, muitas vezes, sendo a vitima dele e espero viver bastante para assistir de camarote a colheita e, nessa colheita, a decadência de todas os bunda-moles que se dizem “imparciais” e cooperam para que os maus continuem espalhando sua maldade!