Um ano depois

Um ano depois do início da Revolução aqui no Egito, algumas pequenas coisas mudaram, outras continuam as mesmas.

Os muçulmanos de “galabia branca e barba” estão em maior quantidade, alguns deles com um certo julgamento no olhar, há também mais mulheres de Nikab (aquele traje preto que ficam só os olhos de fora).

Conversando com as mulheres aqui descobri que não é só uma impressão minha, que elas têm amigas que jamais usaram lenço, pondo lenço ou Nikab, de uma hora pra outra.

Na próxima semana será o Segundo Turno das eleições presidenciais aqui. Temos dois candidatos, um da Irmandade Muçulmana (que prega políticas religiosas radicais – que inclui, por exemplo, uma lei que impeça as mulheres de trabalhar) e o outro, parte do Antigo Regime do Mubarak e, independente do resultado, teremos um certo barulho por aqui. Talvez a Revolução seja uma reviravolta no sentido literal: revira – volta. Isso no caso do candidato da Irmandade Muçulmana não ganhar.

Pra mim, que cheguei aqui, sozinha, no dia 26 de janeiro do ano passado, no dia seguinte à “Tomada” da Praça Tahrir, onde eles (“eles” é toda e qualquer espécie de gente e de propósito que você possa imaginar!) estão até agora, está tudo bem! Já sei me virar em países encrencados. Sou brasileira! De São Paulo!

Eu fui ao supermercado, à loja de celulares, à operadora de telefone, do outro lado da cidade, visitar uma amiga, no Zamalek, no Nilo… Vi a Tahrir de onde almocei hoje. É isto. Tem uma coisa acontecendo “lá na Tahrir”, basicamente isto!

Fui a um Karaokê (agora que leio árabe, Karaokê é uma delícia! Passo a noite inteira tentando ler e traduzir coisas) passei a noite ouvindo boa música, fumando shisha, também, sem tiros ou bombas ou pedradas.

No Nilo existe uma coisa que se chama “faluka” que é uma embarcação, normalmente, pequena, varia de 10 a 100 pessoas e elas passeiam iluminadas pelo Nilo, tocando “Shaabi”, as pessoas lá dentro, dançam, fumam, falam, comem…

Como moro na mesma casa que morei no ano passado, conheço meio mundo e do moço que fica na porta (faz pequenos serviços, carrega malas, compra coisas e ganha “bakshishi” que é a “caixinha” aqui) à diretora da escola (moro no prédio da escola onde estudo árabe) me recebem com sorrisos e “Ahlan Wa Sahlan, Ya Jade!” (“Seja bem-vinda”).

Fui ver a Soraia no Fairuz (Restaurante onde ela trabalha no City Stars), linda demais! Fui à casa da Mm. Raqia Hassan e Nelly Fouad (uma bailarina que eu adoro!) estava lá. Tomei chá com a Nelly Fouad!

O mundo está mudando diante dos nossos olhos e o que acontece no Mundo Árabe faz parte desta mudança e será lembrado por isto. Apesar de o Cairo de hoje não ser o mesmo de quando eu comecei a vir pra cá, ainda é a cidade onde eu encontro amigos e ídolos, onde eu como koshari (prato local popular do Cairo), onde eu fumo shisha e onde há um lindo rio escuro chamado Nilo, onde passam falukas cheias de muçulmanos felizes ouvindo Hakin! Eu amo o Cairo!