A MULHER MÁ…

A mulher má acorda todas as manhãs e, ao se deparar com sua própria desgraça no espelho (não é uma “desgraça física” é a desgraça de olhar-se nos próprios olhos, de ser ela mesma, sem ter pra onde escapar!) e pensa: “Quem eu vou f… hoje?” Então, revê sua lista de desafetos (sim, ela sempre teve uma lista enorme de ódio ou vingança ou ambos) e começa seu dia…
Envia um email aqui, uma mensagem ali… curte uma coisinha, faz um comentário… derruba umas lagriminhas, conta umas historinhas tristes do seu passado e… “sin-salabin-bin-bin” Voilà! Aconteceu uma grande merda no mercado de DV, na vida de alguém e mais pessoas brigam, desfazem amizades, iniciam intrigas e ela, diante de seu espelho, celebra. Assim atua a mulher má há anos, muitos anos… E, não, ela não quebra, ela não desiste, ela não some, ela não arreda o pé… A mulher má estará, para sempre, entre nós, enquanto houver uma mulher que dance, que brilhe, que faça sucesso para ela tentar destruir.
O que foi que ela me fez? De mim ela tirou contatos profissionais, envenenou amigos (amigos?) e alunos, assedia meus alunos de toda forma que é capaz, em público e eu sempre fico sabendo, me agride privadamente e faz “homenagens tortas” em seu blog… E, para coroar minha “revelação do dia” vou contar um breve história… Em 2010, por razões emocionais ligadas a esta infeliz criatura, tive uma paralisia facial (bem séria que, milagrosamente, desapareceu sem sequelas) e a Mulher má, depois de ter celebrado minha doença entre sua então “Corte”, me enviou a seguinte mensagem: “Se eu pudesse paralisar alguma coisa em você, certamente, não seria só um músculo da face, porque você merece muito mais!”. E uso esta historinha pra ilustrar caso ainda haja gente suficientemente louca para acreditar que há algo “mal entendido entre mim e esta psicopata”. Não, não há. Ela é uma pessoa que adoeceu profundamente e vive para suas armações, maldades, assédios morais e ações judiciais e eu sou uma bailarina árabe que está tentando fazer seu trabalho.
Isto é uma “provocação” à mulher má? E eu, lá, sou doida? Claro que não! Isto é uma resposta. A cada vez que ela me fizer uma maldade (ainda que seja uma maldadezinha) eu venho aqui contar uma historinha dela pra vocês! Tem outras! Tem umas bem boas! Poucas coisas me assombram nessa vida e esta mulher má é a própria personificação da sombra…
Passei 5 anos “no salto” enquanto ela se refestelava pelo Brasil (e pelo mundo!) com meu nome, não quis me rebaixar, mas… a nobreza é um idioma que não se fala sozinho.
to be continued…. for sure!

Ouvi dizer que…

Ouvi dizer que, quando um artista vai para o palco, ele leva consigo o que aprendeu na vida e não em sala de aula… Mas, o que você passou, não é tão importante ou pessoal assim, eu, sua mãe e minha mãe, e a Rainha da Inglaterra e a moça que vende coxinha também passamos. O que interessa mesmo é o que a gente fez com o que a gente passou.

Nossas dores, amores, mágoas, decepções, medos, fez o que deles? Virou muleta? Amuleto? Esconderijo? Psicopatia? Pode ser também, mas também dá pra metabolizar isso… A arte é um caminho, a dança, então… Que caminho!

Peguei uma dor aqui, um amor ali… umedeci com lágrimas, gozo, saliva, até que ficasse molinho, que virasse onda, oito, círculo e vou lá, na frente de todo mundo, derreter os meus sentires… Decantei a raiva (e quanta raiva!) até que ficasse seco demais, tenso demais, pra tremer a raiva, não tremer de raiva porque não tenho tempo, preciso sorrir e preciso sorrir agora! A vida é urgente! “É importante viver o hoje” é uma bobagem enorme, porque insinua que tem outra forma de viver que não seja o hoje e não tem, não. Ou tem?

Então eu vou dançar o que eu sinto e me recuso a guardar essas coisas em diários. Eu quero mais é que todo mundo veja! Que goste, que odeie, que tema, o que for, mas não existe descoberta pessoal! Olha pra essa palavra “descoberta”. Tá descoberto, pronto, já foi e agora, pertence a todos nós!

(Jade El Jabel – julho de 2011)

Para onde vai o Mercado de Dança do Ventre

Aí está uma pergunta cujas respostas estão se formando bem diante dos nossos olhos. Antigamente, uma cantora, para ser “uma Madonna”, precisava de uma Grande Gravadora, hoje em dia, uma artista como a Madonna tem seu próprio selo, administrado por ela mesma, total liberdade, assim como administra sua carreira e escolhe os rumos que irá tomar. Assim também, é boa parte dos Artistas Plásticos da Atualidade, trabalham em casa, em pequenos Ateliers, em cooperativa com outros artistas da área e, muitas vezes, entregam o “produto”, diretamente na mão do consumidor, sem passar pelas Grandes Galerias que, no passado, eram imprescindíveis para o sucesso de sua carreira. O Mercado de Dança do Ventre “Oficial” existe há, no máximo, 20 anos, é um bebê, comparado à música e às Artes Plásticas (não como arte, sim como mercado) e, como as outras artes, não passará toda a eternidade “Underground” como foi, durante quase todos estes anos. À medida que a Dança do Ventre move mais gente e, conseqüentemente, mais cifras, pouco a pouco, se insere no mercado de arte Global e não continuaremos onde estamos, neste “Lugar Especial”, separadamente das outras artes. Alguns Produtores, munidos de boa vontade (e dinheiro, claro) globalizaram o Mercado – no Brasil, na Europa, no Egito – trazendo/levando/apresentando artistas de várias partes do mundo e, hoje em dia, pode-se dizer que “praticamente todo mundo se conhece”. Os grandes produtores foram fundamentais para este processo de “popularização” da Dança do Ventre. E foram, também, incumbidas da função de informar ao público o que deveria ou não ser referência, tudo isto, sem muita consciência ou intenção. Hoje, já não tem funcionado mais assim, já que alguma criatura incrível criou o Youtube e outra, mais incrível ainda, o Goolge e você pode, dentro da sua casa, escolher o que ver sem jamais ter visto a bailarina em um único “grande cartaz” e muitas vezes, sem querer “esbarra” com uma artista e, simplesmente, se apaixona. Em seguida, à medida que os Festivais foram crescendo pelo mundo, a escolha dos artistas para estar em um evento era baseada no evento que este artista poderia vir a produzir em sua localidade (Estado, no Brasil, País, na Europa) e, a partir deste momento, a norma passou a ser “me leva que eu te trago”. Entretanto, esta “política” está ficando cada vez mais desgastada. Um dos comentários que tenho ouvido por aqui é “Muda o evento e o cartaz continua o mesmo” e, assim, algumas professoras e bailarinas que também produzem, acabam perdendo credibilidade no seguinte sentido: “Minha professora – mestra, predileta, ídolo, etc – não escolhe outras professoras baseada na qualidade e sim, em quem irá convidá-la para seu próximo evento”. Deu errado. É uma política que está muito perto do fim. O contrário, aqui na Europa, funciona da seguinte maneira: As alunas/bailarinas que têm interesse em uma determinada bailarina/professora se organizam e contratam a bailarina para o “Job”. Muitas vezes o “Job” consiste em Workshops, Aulas Particulares e Shows. Quase sempre, trabalham para 80, 100 pessoas e não 800, 1000, como vinha acontecendo. As redes sociais aproximaram os artistas do público, portanto, “qualquer um” hoje em dia, pode contatar um artista, diretamente, pedir um orçamento, fazer contas e descobrir, inclusive, que seu dinheiro estava sendo investido em sabe-se lá qual bolso, já que os artistas não estão acendendo charutos com notas de cem (ou estão?). Como foi que algumas grandes gravadoras sobreviveram à nova ordem? Selecionando e pagando melhor os artistas e (esta é a melhor parte!): prestando mais atenção ao desejo dos consumidores de música. O que, penso eu, já está acontecendo, também, no Mercado de Dança do Ventre. Eu produzo pequenos eventos no Brasil, sempre na casa dos 200 convidados, sempre lotados até a última cadeira e já convidei artistas que jamais me convidaram para nada (e convidaria novamente!) e o contrário também. Furei a fila do “Me leva que eu te trago”, e furei várias vezes! Pisei em boa parte dos maiores palcos do Mundo, sem ter, jamais feito uso de nenhuma estratégia política e/ou pago para dançar (que também é uma política em uso há muitos anos no Brasil e no Mundo) e este ano, ministrarei aulas no Ahlan Wa Sahlan no Cairo, onde tantas pessoas já haviam dito que “só funciona na politicagem”, fui convidada pela própria Mm. Raqia Hassan, estou em Turnê na Europa, 8 cidades, todas, sem exceção, produções pequenas, de artistas que admiram meu trabalho, furei a fila de novo, portanto, dá. Entre os artistas que me contataram, houve também os contatos do tipo “Jade, estou muito interessada em seu Mercado, quero dizer, no seu Trabalho, se você me levar para o Brasil…” ao que eu respondi que sinto muito – não por não gostar do trabalho da menina, por outras três razões, a primeira, que eu não produzo eventos para bailarinas de fora da minha Companhia, a segunda, por não acreditar no formato e a terceira porque eu sempre soube que isso – também – iria passar. Eu gosto muito de pensar por esta perspectiva, que as coisas passam, até porque não sou nada saudosista, nunca fui! Não tenho a menor saudade do Cinturão de Franjão de canutilhos, porque já usamos, já vimos, já passou. O início do mercado em São Paulo e o que fazíamos há 15, 18 anos era muito bonito e cheio de paixão, mas os anos não voltam e, sendo assim, melhor olhar para frente, como qualquer profissional e as bailarinas que, neste momento, estão “ralando” na frente do espelho – que é onde todas deveriam estar – é o que eu quero ver no palco nos próximos anos! Com ou sem cinturão, ou tradição, ou fusão, ou seja lá qual for o “ão” do ano. E, quando chegar a hora de eu estar na platéia e não na coxia, eu prometo a vocês que não vou dizer “no meu tempo é que era bom” porque o meu tempo é agora, o seu também, e amanhã será nosso também, um outro tempo, outras formas e a única coisa que não muda nunca é que o mercado pertencerá a quem sempre pertenceu: Às grandes bailarinas de Dança do Ventre que fazem seu trabalho com amor e profissionalismo. Todo o resto é momento e o momento sempre passa.

(Jade El Jabel – 2012)

“VENTREVEST”

Um grupo de 10 vestibulandos sentam-se à mesa do bar e fazem um Campeonato de Adivinhação da Tabela Periódica, definindo que o último a acertar paga a conta. A brincadeira dura apenas poucos minutos, pois todos os 10 a sabem de cor. Dá empate técnico, 4 deles demoram o mesmo tempo para lembrar a tabela toda e, portanto, devem pagar a conta. A conta chega: $ 160,00 a serem divididos pelos 4 perdedores e um deles pergunta: – Alguém tem uma calculadora?

É claro que estou aqui para falar de Dança do Ventre e contei esta historinha hipotética para fazer um paralelo com o que pretendo colocar: A atual Dança do Ventre (há exceções, sempre há, muitas, Graças a Deus!) está numa fase “Dança pré-vestibulanda”, onde decoram-se fórmulas e esquecem-se coisas simples, entretanto, fundamentais para o dia a dia de uma bailarina, como divisão (por 4!) na vida de qualquer criatura.

A menina entra para dançar: Linda, bem vestida, com um figurino “recomendado” de Costureira X ou Y, a custo de “Costureira da Moda” ou ainda (pior!) “Condição para ser aceita”. Cabelo e maquiagem impecáveis, sorriso aberto, corpo “dentro dos padrões definidos por sei lá quem”. Tudo que disseram que ela deveria fazer para ser aceita.

Entra no momento certo da música, com muito impacto, gira, sorri, ocupa todo o espaço com uma meia ponta de deixar qualquer Fifi Abdo de queixo caído e então lá vem ele… um violino! Um violino é um instrumento arredondado, pequeno, acinturado, que é tocado coladinho ao corpo, às vezes de olhos fechados o que, traduzindo para “Dançadoventrês”, pede (ou exige?) oitos, redondos, ondulações, movimentos cheios de sinuosidade, sensualidade, poesia e a “Candidata” (ui!) faz… braços! Molduras pré-aprovadas, perfeitas, organizadas. Então, surge um Qanoon, desenhando ondas trêmulas no ar, trêmulos pequeninos, irregulares, que sobem, descem, desaparecem e ressurgem de longas pausas de delicioso silêncio e a candidata… gira, gira, faz cambrés, arabesques, tudo muito lindo, muito limpo e… absolutamente fora do lugar.

Daí “tenque”… Tem que fazer uma cara assim, outra assado, olhar para todos os examinadores, sorrir, agradar, agradecer, seguir as regras, as fórmulas, os Guias… Tem que pular loucamente à simples menção de um Mizmar, porque daí é Saaid, tem que “bater cabeça”, numa simples menção de um “Soud”, porque daí, é Khaligie.

Um rítimo “incidental” é uma citação dentro de uma composição e não uma regra para a bailarina e, na minha opinião, o que quer que ela faça com graça, beleza, verdade e prazer, dentro do tempo, com bom gosto, sim, está certo!

Pergunte em uma sala com 30 brasileiros:

– Qual a diferença de Baião e Xaxado?

– De que região do Brasil vem a Catira?

– Qual é a diferença entre Aboio e Repente?

– O que é síncope?

Destas perguntas depende, um sujeito que se julga “músico brasileiro competente” sê-lo de fato, assim como apreciadores da música brasileira.

Depois que constatarmos que não sabemos, sequer o “mínimo” sobre a nossa própria música, podemos voltar a falar sobre ritmo e composição, mas já me adianto: É de uma prepotência sem precedentes acreditarmos que aqui, do outro lado do Planeta, podemos julgar com absoluta certeza, se um ritmo incidental é um Soud, Aiub, Núbio que têm, entre si a diferença de um Baião e um Xaxado (ambos, nós, ignorantes da música brasileira chamamos de “Forró”, que é, também, uma outra coisa, vem de “For all” – “para todos” em inglês – e trata-se da Festa, é um evento, é uma “Festa for all”.

Informação balsâmica para a sua cara de “?”. Dança do Ventre também é for all!!!

Uma dança com figurino e música árabes que não tem oitos, ondulações, redondos e shimmies é Fusão (ou “Fusion”, como a maioria prefere chamar), não é certo nem errado mas “do Ventre”, sem trabalho de Ventre, não, não é.

Como foi mesmo que isso aconteceu com a gente? Por onde e por que começou? Eu palpito que foram dois eventos paralelos aos “Concursos de Dança do Ventre”:

1 – A Dança do Ventre é difícil, mesmo, demora, às vezes dez anos para estar, realmente, Oriental, então começamos a “comê-la pelas rebarbas”, ensinando braços para a dança, ballet para a dança, leitura musical para a dança, coisas. Coisas em volta da dança.

2 – Fazer aula regular anda meio fora de moda… A menina vem para uma turma ou aula particular e eu pergunto “Quanto tempo de aula você tem?” e, depois de muita enrolação para responder, percebo que ela faz “Workshops de Dança do Ventre há X anos” e aulas particulares com o País inteiro para ser conhecida por bailarinas importantes o que irá, certamente (?), ajudá-la a “Passar no Ventrevest” de sei lá quem.

O tempo médio de Graduação em uma Universidade “quase impossível de entrar” varia de 6 a 10 anos. Ninguém ensinou o que fazer depois de “estar lá”, só aprendemos a “estar”, não aprendemos a ser, nem a aprender, nem a permanecer porque fórmulas servem apenas para isto. Estar. O ser é uma construção pessoal, ser profissional, então, uma outra construção que depende de um pouco de talento e muito esforço, então vem a frustração e a menina bate na minha porta uma vez mais “Eu fiz tudo direitinho! Tenho um guarda-roupa incrível, conheço todas as pessoas que deveria conhecer, fiz os cursos que tinha que fazer e ‘não aconteceu nada’!” e então, me resta a terrível função de comunicar a menina que para ser Bailarina de Dança do Ventre ela precisa aprender a dançar Dança do Ventre e, sim, estas coisas óbvias são as que devem ser repetidas porque são as que esquecemos primeiro, buscando a tal da fórmula que em tantos anos de apaixonado exercício de ensinar Dança do Ventre (17!!!) não há diabo que faça a menina convencer-se disso, por mais que eu diga.

Encerrados os meus argumentos, a contra-argumentação é quase sempre a mesma: “Você é a Jade, você pode se dar ao luxo de fazer o que quiser!”, lá vem mais uma informação-bálsamo: É o contrário, Bailarina!!! É justamente o contrário: Foi somente por fazer o que quero – e estudo, e acredito, seguindo o exemplo de algumas das maiores bailarinas do mundo – que eu cheguei até aqui.

Vai pro espelho, Bailarina! Pegue esse tempo de discussão de fórmulas, tome um banho bem gostoso, cuide da sua pele, faça muito carinho em você mesma, coloque uma roupa confortável, faça um chá de frutas vermelhas e vai ver a Fifi Abdo dançar…

É pra você, pra mim, pra Fifi, é for all!

Um ano depois

Um ano depois do início da Revolução aqui no Egito, algumas pequenas coisas mudaram, outras continuam as mesmas.

Os muçulmanos de “galabia branca e barba” estão em maior quantidade, alguns deles com um certo julgamento no olhar, há também mais mulheres de Nikab (aquele traje preto que ficam só os olhos de fora).

Conversando com as mulheres aqui descobri que não é só uma impressão minha, que elas têm amigas que jamais usaram lenço, pondo lenço ou Nikab, de uma hora pra outra.

Na próxima semana será o Segundo Turno das eleições presidenciais aqui. Temos dois candidatos, um da Irmandade Muçulmana (que prega políticas religiosas radicais – que inclui, por exemplo, uma lei que impeça as mulheres de trabalhar) e o outro, parte do Antigo Regime do Mubarak e, independente do resultado, teremos um certo barulho por aqui. Talvez a Revolução seja uma reviravolta no sentido literal: revira – volta. Isso no caso do candidato da Irmandade Muçulmana não ganhar.

Pra mim, que cheguei aqui, sozinha, no dia 26 de janeiro do ano passado, no dia seguinte à “Tomada” da Praça Tahrir, onde eles (“eles” é toda e qualquer espécie de gente e de propósito que você possa imaginar!) estão até agora, está tudo bem! Já sei me virar em países encrencados. Sou brasileira! De São Paulo!

Eu fui ao supermercado, à loja de celulares, à operadora de telefone, do outro lado da cidade, visitar uma amiga, no Zamalek, no Nilo… Vi a Tahrir de onde almocei hoje. É isto. Tem uma coisa acontecendo “lá na Tahrir”, basicamente isto!

Fui a um Karaokê (agora que leio árabe, Karaokê é uma delícia! Passo a noite inteira tentando ler e traduzir coisas) passei a noite ouvindo boa música, fumando shisha, também, sem tiros ou bombas ou pedradas.

No Nilo existe uma coisa que se chama “faluka” que é uma embarcação, normalmente, pequena, varia de 10 a 100 pessoas e elas passeiam iluminadas pelo Nilo, tocando “Shaabi”, as pessoas lá dentro, dançam, fumam, falam, comem…

Como moro na mesma casa que morei no ano passado, conheço meio mundo e do moço que fica na porta (faz pequenos serviços, carrega malas, compra coisas e ganha “bakshishi” que é a “caixinha” aqui) à diretora da escola (moro no prédio da escola onde estudo árabe) me recebem com sorrisos e “Ahlan Wa Sahlan, Ya Jade!” (“Seja bem-vinda”).

Fui ver a Soraia no Fairuz (Restaurante onde ela trabalha no City Stars), linda demais! Fui à casa da Mm. Raqia Hassan e Nelly Fouad (uma bailarina que eu adoro!) estava lá. Tomei chá com a Nelly Fouad!

O mundo está mudando diante dos nossos olhos e o que acontece no Mundo Árabe faz parte desta mudança e será lembrado por isto. Apesar de o Cairo de hoje não ser o mesmo de quando eu comecei a vir pra cá, ainda é a cidade onde eu encontro amigos e ídolos, onde eu como koshari (prato local popular do Cairo), onde eu fumo shisha e onde há um lindo rio escuro chamado Nilo, onde passam falukas cheias de muçulmanos felizes ouvindo Hakin! Eu amo o Cairo!

Trabalho no Exterior – Preconceitos e Surpresas

Eu sempre gostei de brincar com a Língua Portuguesa e minha “flexão livre” predileta sempre foi “udo/uda” e costumo dizer que sou uma Brasileira Brasileiruda!

Sol, samba, futebol, simpatia, miscigenação, tudo isso me encanta desde sempre e, depois de tanto tempo envolvida com a Dança do Ventre e Cultura Árabe, digo que sou uma brasileira “com tahine” (tempero típico da culinária árabe) e, sempre e cada vez mais, brasileira. E, a cada viagem que fiz, essa identidade se fortaleceu mais e mais.

Na primeira vez que viajei descobri que, na hora do “Where are you from?”, nossa resposta gera um imediato “Brazil!!!” (com z, pontos de exclamação e um sorriso). Hoje em dia, quando me perguntam, já me adianto nos pontos de exclamação e sorriso! Somos, aos olhos gringos, criaturas exóticas e divertidas! E tudo bem, vai…

Nos bate-papos pela Europa, algumas confusões (Salsa, Tango, Carlos Menen, pra citar algumas) e repetições (Rio, Ronaldo, Favela, Biquíni) e confesso que num dia muito frio, trabalhando, arrastando malas, cansada, às vezes, me falta paciência.

A visão da mulher brasileira (bonita, vaidosa, “caliente” e, por associação, vulgar, fácil e similares), existe, sim, infelizmente, mas me defendo bem, sempre me defendi. Pela natureza da minha profissão, passo por isso aqui no Brasil também. Sem novidades.

Tem, também, a “pena do Terceiro Mundo”, tratamentos que insinuam isso e um certo receio de estarmos “loucos pra viver na Europa”, que faríamos qualquer coisa para tanto, que estamos por lá procurando por um “Príncipe de olhos azuis”. Daí tem que explicar tudo de novo. “Não, não, obrigada! Eu tenho uma vida maravilhosa no Brasil! Sim, sim, é possível! E não tem serpentes e macacos pela rua…”, etc…

Armada de meus preconceitos, casacos e impressões, lá fui eu em turnê: Paris, Amsterdã, uma passada em Bruxelas para um Festival Internacional de Dança do Ventre e uma cidadezinha no interior da Alemanha. Aulas e Shows. Descobri uma coisa nova, redescobri, me lembrei dessa coisa, que essa coisa, inclusive, não é nova, não: As pessoas são as pessoas e não onde elas nasceram e fui aceita e muito bem tratada na casa de uma Senhora muito culta, viajada, Judia, religiosa, de família francesa tradicional, lugar onde eu jamais teria coragem de me oferecer para ir (detalhe: eu sou Muçulmana!). Ficamos amigas, tomamos vinho madrugada adentro, ela quis saber de mim, da minha vida no Brasil, da minha conversão ao Islã, me mostrou uma Torá, falamos até sobre a paz entre Judeus e Muçulmanos (Ela, inclusive está envolvida em projetos nesta direção) e foi um encontro muito, muito especial. Mas, infelizmente, aconteceu o que eu temia, sim, nesta cidadezinha do Interior da Alemanha, fui tratada pela minha contratante como “A possível garota de programa do Terceiro Mundo”, com todo o preconceito e desrespeito que eu tanto temia. E ela era brasileira. Brasileiríssima!

Sentir-se bem no palco

Diante daquelas pessoas e luzes, ali, acima das cabeças, em evidência, com a banda em suas costas. Têm os convidados, a roupa a música, a integração com a banda, concentração e, sempre, a expressão, que somente existe quando é verdadeira e, por ser assim, de verdade, se a bailarina não estiver sentindo-se bem, este desconforto estará estampado em seu rosto.

Então é preciso se perguntar o que nos faz sentirmos bem na vida, no dia a dia, pra depois descobrirmos como isso pode ser levado ao palco.

Vamos do princípio: Em que situação “precisamos” nos sentir bem? Eventos sociais, entrevistas para um novo emprego, um encontro e, nestas circunstâncias, cada uma a seu modo, ficamos mais bonitas.

Talvez este conforto no palco venha em parte desta sensação de estar bonita, aqui vão algumas dicas, não de embelezamento mas, sim, de inspiração para seu conforto.

1 – Alongue-se pela manhã. Todas as manhãs, religiosamente, uma bela espreguiçada de gato. Em cinco minutinhos, você pode dar uma leve preparada no corpo e se levantará mais disposta.

2 – Cuide dos cabelos e das unhas, sempre. Faça manutenção em casa.

3 – Use cremes para o corpo, rosto e mãos, todos os dias.

4 – Descubra sua maquiagem, que pode ser um rímel e um gloss transparentes e use todos os dias, antes de sair de casa, pra onde quer que você vá.

5 – Vista-se bem, mesmo que seja somente pra ir até ali. A criatividade e o bom gosto não custam caro.

6 – Tome banhos longos, quentinhos, faça esfoliação na pele do corpo, passe um creme no cabelo, lixa nos pés.

São pequenos lembretes, de coisinhas pequenas, do dia a dia, que podem ser esquecidas na correria da nossa vida de mulher moderna, de dupla, tripla jornada, mas, o mais importante, mais importante do que “o que” é “como” fazer essas coisinhas.

É aí que entra a minha dica: Faça tudo, tudo, com muito carinho. Até mesmo escovar os dentes pode ser um ato de carinho, faça massagens em você, escalda-pés, esfoliação, tudo com amor, devagar, com calma, com concentração em seu corpo, trate-se como você deseja ser tratada, com movimentos circulares, lembrando-se de relaxar a expressão do rosto, feche a porta, fique com você, depois faça com o guarda-roupa, com a caixa de bijuterias, faça carinho em você e em suas coisas.

Fique bonita, sinta-se bem, você nem irá perceber e esse conforto, essa sensação de banho longo, cheiroso, quentinho, carinho e movimentos circulares vai estar no palco, junto com você!

Sentimento, Técnica, Talento, Esforço…

Sabe o “Rebento” do Gilberto Gil? (“Rebento, a reação imediata, a cada sensação de abatimento… Rebento, o coração dizendo ‘Bata’ a cada bofetão do sofrimento… Rebento, esse trovão dentro da mata e a imensidão do som nesse momento”) na voz da Elis Regina? Já ouviu? Ali tem tudo de bom: composição, execução, arranjo e… a Elis “rebentando” afinadíssima enquanto canta e isso é o que compõe uma obra, esse molho, esse conjunto de coisas!

Clarice Lispector (leitura-experiência obrigatória para os que sentem) sem gramática e ortografia muito bem afinadas teria guardado boa parte do que sente para si. E nós? Como ela poderia contar pra nós? O que seria de Clarices, Elises e Gils sem a técnica? Eles iam ficar ali sentindo e a gente aqui, do “lado de fora”?

“Não durmo, não durmo, não durmo. Jazo cadáver acordado, sentindo… passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada, todas que me arrependo e me culpo e não durmo” (Álvaro de Campos). Como sempre tive insônia, sempre senti isso “Jazo cadáver acordado sentindo, etc.” mas, pra dizer isso, pra sentimentos virarem palavras, foi preciso a “presença de Álvaro” e seu estilo cortante, profundo, sucinto, sua intimidade com as palavras, pra escrever o que sentiu e o que eu também senti e sinto.

E assim é na dança também. Imagine Mikhail Baryshnikov, Denise Stocklos, Fifi Abdo, Ana Botafogo, entre tantos outros, sentindo nada ou só sentindo, como teriam imprimido em nossa alma tudo o que sentimos quando os vemos dançar? Há quem diga que é o talento, ou o esforço ou ainda que “nasceu de quina pra Lua”, mas pra mim é a soma: sentimento + técnica + talento + esforço (nem sempre nesta ordem) mas estas coisas não caminham solitárias, separadas. O “Esforçado sem talento”, o “Talentoso preguiçoso”, o “Bom de técnica sem sentimento”, o “Cheio de sentimento sem muita técnica” (no caso destas pessoa existirem) somente passando o olho nesses rótulos já sentimos que “falta alguma coisa” e falta sim! Falta o “resto” e cada um tem o seu “resto” pra buscar. Além disto, tem o momento de cada coisa. Eu já elogiei alunas que achei muito boas – pra quem estava começando! – e, a partir do meu elogio o “muito boa” virou “pronta”, virou “você não precisa fazer aula” e não era nada disso, não existe artista que esteja “pronto”, especialmente na visão dele mesmo e é assim que, na minha opinião, deve mesmo ser porque a gente sempre pode melhorar e, por outro lado, claro, a gente sempre pode, também, piorar.

Aproveitando a presença da Clarice: “Renda-se como eu me rendi, mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo entendimento”.

Primeiros Passos

Você quer aprender a dançar a Dança do Ventre? Ainda não sabe como/onde/quando começar? Aqui vão algumas dicas pra esses primeiros passos:

A escolha da Escola:

Visite mais de uma escola que tenha horários compatíveis com os seus e, nesta visita, veja como é a Infra-estrutura da escola (salas de aula, banheiros, vestiários, espelhos, limpeza, etc) Verifique, ainda, se a escola oferece programação das aulas e currículo das professoras. Eu já vi estruturas incríveis sem conteúdo o contrário também. Não se deixe seduzir apenas pelo visual.

A escolha da Professora:

Antes de escolher sua professora, procure vê-la “em ação”. Verifique se ela está “em cartaz” e vá vê-la dançar, se não, veja se há vídeos disponíveis desta professora no mercado ou na Net, para ver se você se interessa pelo estilo e assista a uma aula antes de matricular-se (Sim, há vários estilos diferentes de bailarinas de Dança do Ventre).

Disciplina:

Evite faltas e atrasos porque, normalmente, as aulas têm seqüência e, perdendo uma, você começa a “boiar” e acaba desanimando.

Sua professora é autoridade dentro de sala de aula e disso depende o desenvolvimento de todas, inclusive o seu.

A única via eficiente de transmissão de conhecimento é a afetiva!

Não é possível aprender/ensinar sem amor! Dizendo isso, assim, parece uma coisa tão difícil, tão inalcançável, pensar em “amar a professora de Dança do Ventre”, mas eu não falo de amor de “morrer por ela”, falo do amor simples, amor comum, de dia-a-dia que desenvolvemos pelas pessoas de nosso convívio. O respeito, a entrega, o trato com boa vontade, essas coisas são sempre mútuas e, se não houver troca é porque elas não têm espaço.

O foco da aula deve ser o conhecimento e não o aluno ou o professor e, neste sentido, confie em sua sensibilidade e, ainda contando com sua sensibilidade, reflita sobre a diferença que pode haver entre uma bailarina que dá aula para completar o orçamento e uma professora de dança. São duas coisas completamente diferentes e que contam muito em sala de aula.

Postura, braços, mãos e véus… um só assunto!

Eu sempre disse em sala de aula (“meio” de brincadeira) que não precisa “Aula de véus”, que se a postura estiver correta, bem como braços e mãos, o véu vai ficar bonito em qualquer movimento. Essa semana recebi uma “informação” (repare nas aspas porque nunca se sabe…) que a bailarina egípcia Samia Gamal foi quem introduziu o véu em cena pois, até aquele momento, ele era um instrumento utilizado para estudo de braços! Pra mim, fez o maior sentido! Uma coisa está diretamente ligada à outra! Uma postura correta, bonita, bem como braços e mãos bem colocados, muitas vezes, especialmente no caso de Músicas Lentas, equivale a 50% da performance, ou seja, de grande importância. Além disso, a postura incorreta pode vir a causar dores e, em alguns casos, até mesmo problemas físicos mais graves. Aqui vão algumas dicas de estudo para melhorar nesse “assunto”:

POSTURA:

– Alongue-se pela manhã! São apenas 5 minutinhos, uma espreguiçada caprichada, feito a dos felinos já dá uma “preparada” no corpo. Estique, torça, boceje, tudo bem devagar, lembre-se que você acabou de “ligar o motor”!

– Cuide de sua postura, especialmente quando estiver “à paisana”, no dia a dia. Costas retas, quadril levemente encaixado, queixo paralelo ao chão e joelhos levemente (beeeeeeeeeeem levemente!) flexionados. Observe como você caminha, se senta, levanta, etc. Facilite seu trabalho na hora de dançar, já deixando isso “pronto” fora de sala de aula e/ou palco. Pra quem trabalha sentada, diante de computador, principalmente, vale colar um “recadinho” pra você mesma: “Alongue as costas, relaxe o rosto”, porque tendemos a “franzir a testa” enquanto digitamos.

BRAÇOS:

– Pense que a movimentação dos seus braços começa lá nas costas, na musculatura das “asas”. Com os braços ao lado do corpo, em pé, imagine um fio levantando seus braços a partir do cotovelo (sempre arredondando as linhas, nunca com “ângulos”). Erga os braços até mais ou menos a altura dos seios, as palmas das mãos, para o chão (o ombro paradinho, paradinho! Ele não sobe junto com o braço!). A partir deste momento, o fio que ergueu seus braços pelos cotovelos passa a ser puxado do chão, havendo assim, uma rotação obrigatória nos cotovelos, as mãos continuam com as palmas para baixo. Desça os braços, novamente. Enquanto isso, observe os pulsos, arredonde as linhas, depois, partindo desses princípios (força nas “asas”, linha puxando o cotovelo, linhas arredondadas) você pode brincar à vontade com os braços (alternados, paralelos, um pela frente e um pelo lado, etc). Sempre muito lento e de olho no espelho!

MÃOS:

– Encha uma banheira de bebê ou piscina ou tanque, qualquer recipiente grande com água e brinque com as mãos na água, movimentando a água o mínimo possível. Sem uma determinada força, claro, as mãos não se mexem e sem muita delicadeza, a água se movimenta demais. É um exercício para trabalhar leveza.

BAILARINAS PARA ESTUDAR:

Postura: Randa Kamel

Braços: Nagwa Fouad

Mãos: Suhair Zakie

DANÇA COM VÉU

Respeitando os princípios tratados acima, lembre-se que movimentação de véus pertence à categoria de movimentos Sinuosos, portanto, redondos, oitos e ondulações. Prontinho! Isto feito, o resto é absolutamente livre para brincar… Mostra, esconde, cobre, descobre, solta, gira… Leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeve…

Dicas por escrito, claro, nunca substituem a presença de uma boa professora apaixonada por seu trabalho mas podem dar uma boa ajuda!