Nosso Mercado e Nossa auto-estima

Esse é daqueles textos que escrevo sem a certeza de que aquele que lê, de fato, compreende o que quero dizer… Não é uma questão de subestimar a capacidade de interpretação das pessoas, no mínimo, não somente isso, mas é um texto que toca numa ferida muito profunda da nossa Cultura, daquelas que muita gente se recusa a ver… Aqueles que “não admitem que há racismo/machismo/nazismo no Brasil” não irão, de jeito nenhum, “tolerar esse texto”. Mas… a Situação pede e talvez seja eu, mesmo, a pessoa a tocar em mais essa ferida que é a baixíssima auto-estima do Brasileiro, de um modo geral, e a necessidade de consumir qualquer coisa, contanto que seja “Maide in Seilaonde”, contanto que não seja nossa…

Vou começar pela “Escova Progressiva” que foi desenvolvida aqui no Brasil, mais exatamente, no Rio de Janeiro, onde cabeleireiros do Mundo inteiro se ocuparam em visitar para aprender a técnica que é vendida mundo afora como “Alisamento brasileiro” e, aqui no Brasil, os nomes “Escova Francesa”, “Escova Marroquina” foram o que fizeram o “negócio engrenar”.

Acabo de voltar do Egito e, como em todas as vezes que visitei o Egito, fui ver a Soraia (Zayed, brasileira, brasileiríssima, trabalhando no Cairo há 15 anos) e, mais uma vez, constatei que é (sem nenhuma possibilidade de comparação!) o quadril mais “ágil” da história da Dança do Ventre. Pode “não gostar”? Acho que sim… Pode não gostar de chocolate, também, agora, dizer “que não é bom”? Acho que não… O que faz da Arte, Arte de fato, entre outras coisas é o Artista ter-se inventado e reinventado, assinado claramente seu trabalho e influenciado o meio por onde circula! Tem “Mestres Egípcios” que sequer conhecem a Soraia (ou admitem conhecer, sei lá) que ensinam “Coisas de Soraia” em suas aulas e é possível ver essas “coisas de Soraia” em corpos que jamais tiveram contato com ela, pessoalmente, porque ela faz parte da História da Dança do Ventre Moderna, parte das transformações dessa história e influenciou, ainda sem querer, ainda sem “ser amada por todos” a Dança do Ventre, como um todo. Tenho a nítida impressão de ser a única pessoa no Brasil (sim, fora do Brasil, muita gente sabe disso!) a ter constatado isso…

No final do Ramadan, vem “O Feriadão do Mundo Árabe” que é “Eid”. Essa é uma época de celebração, de “recompensa” pelo mês de Jejum (entre outras “limitações” impostas aos Muçulmanos) e é hora de “deitar o cabelo”. O Egito é e sempre foi o “lugar ideal de deitar o cabelo”! Tem festa, cabarés, Dança do Ventre, arguille, o Egito não dorme, o Egito é “Laico” (entre aspas, mas é!) o que significa que até mesmo uma “pecaminosa cervejinha” pode ser encontrada em toda parte! Assim, a Arábia Saudita “desce toda pro Cairo” pra aproveitar. Esse ano, vi grupos de mulheres sauditas (sem a “proteção de seus homens” é, o Mundo mudou!) em cabarés… Com essa presença maciça deles, o cabaré fica “Todo Khalige” (toca músicas do Khalige, pessoas dançam danças do Khalige) e vi mulheres (algumas bem cobertas para o ambiente, outras, penduraram seus “hijabs” no Toillet e saem de shorts curtos, minissaias) livres, celebrando sua vida, uma coisa muito linda de se ver. Inspirada nessa alegria, nessa liberdade “de curto prazo”, me reapaixonei pelo Khalige e voltei para o Brasil muito a fim de estudar, preparando um número e figurino para meu próximo trabalho aqui, com aquele “delicioso friozinho na barriga” do desafio, da coisa nova, do desejo de ser aprovada (sim, claro que tenho, como todo mundo, especialmente, apresentando coisas fora da minha “região de conforto”). Fui, Youtube adentro, em busca de inspirações…

Vi muita “Baixaria” (mulheres se esfregando no chão, umas nas outras, algumas coisas de gosto bem duvidoso, no intuito óbvio da “sedução escrachada”, coisas dispensáveis para os olhos de uma mulher, de um modo geral), continuei minha busca… Poucas mulheres árabes, especialmente, “nos anos 2000” e, com a palavra chave “Khalije” ou “Khalige” cheguei na Warda Maravilha (brasileira, brasileiríssima) e posso dizer aqui, sem medo de errar: A melhor bailarina de Khalige de todas… Não só a melhor como, na verdade a única que, pros meus olhos, “entendeu esse negócio que vi no Egito”, essa “liberdade volátil”, essa “celebração sem pano preto cobrindo o rosto”, das mulheres sauditas… É bonito, é forte e delicado, tem uma sensualidade “cuidadosa”, uma coisa bem especial e, principalmente, uma energia totalmente diferente da Dança Oriental ou Dança do Ventre Clássica… Outra coisa, de outro povo… Um povo com o qual a Warda tem convivido por (acho que) uns 20 anos. Uma coisa que só ela “pegou”.

Minha apresentação no Egito é, sempre, uma certa “dor de cabeça” pra mim… Tenho que estar no meu melhor (melhoríssimo!) modo, apresentar alguma coisa que seja “eu, com certeza”, na frente dos maiores mestres de Dança do Ventre do Mundo (já dancei pro Mahmoud Reda, Nagwa Fouad, Mona Saiid, Raqia Hassan, Farida Fahmi, Dina, Randa, Tito, Yusri Sharif, somente pra citar alguns) é uma coisa que faço com o coração na mão (e, porque não dizê-lo, com um figurino de 4 dígitos, 4 “dígitos-dólar”, quero dizer) e, claro que a presença de olhos familiares na platéia deixa tudo mais gostoso! Juntos, os que “me testam” e os que “me adoram”, formam um grupo bem delícia de me apresentar. São “dois desafios em um” porque agradar fãs, não necessariamente é uma coisa fácil. O fã tem a “sua Jade” e não tolera menos do que a “Jade que traz para o Show em sua memória e em seu coração” é aquele público que pode “não gostar dessa vez” pode “gostar do que você fazia antes”, é uma presença importante pra mim, pra que eu não corra o risco de “me perder”.

O que aconteceu no Egito esse ano foi um tanto pior do que nos anos anteriores, quando boa parte dos brasileiros que estavam no Cairo, estavam ocupados com passeios e não puderam me ver. Esse ano não havia UM ÚNICO BRASILEIRO na platéia no dia do meu Show. Além da divulgação oficial do Festival, fiz também, uma divulgação minha, em bom português, com o dia e horário do show e da minha aula. A “gringaiada” que não estava atenta às divulgações, foi me parando no Festival pra perguntar “quando você vai dançar?” e estavam todos lá. Algumas brasileiras me disseram outra coisa (isso, nos 5 anos que dou aula no Egito!) “Jade, queria tanto ver seu show/ir à sua aula, mas, infelizmente, não vai dar porque vou seilapraonde”. Nenhum olhar familiar, nenhum aplauso “em português”, nenhuma foto comigo e meu figurino de deixapralá quantos dólares…

No dia seguinte, foi minha aula… Duas brasileiras no grupo. Uma excelente bailarina em ascensão no Mercado brasileiro e, pra minha sorte, minha aluna aqui de São Paulo (a Bruna Nasif, a saber) e a bela Jéssica, que pegou segundo lugar no Concurso Profissional no Festival que vive e trabalha (muito bem, obrigada)  em Paris.

Da parte dos “Mestres” o que ouvi foi que “não há o que dizer ou ensinar ou somar ao meu trabalho”. O respeito que a Randa Kamel tem pelo meu trabalho é suficientemente provado pelo fato de ela me convidar para trabalhar com ela (não sei se alguém “reparou” mas eu não organizo grupos para ir para Festivais no Egito! Estou no meu segundo Festival e, em ambos, fui convidada pele qualidade do meu trabalho). A Mona Said que é, junto com a Fifi Abdo, minha “primeira professora” me “aprovou” em 2006 (há dez anos). Essa aprovação de meus mestres, mais “a fama internacional”, mais eu estar “aqui” há 25 anos, mais o fato de que, de cada 10 bailarinas incríveis no Brasil, 8, 9 passaram, ou ainda passam, pelo “meu espelho” me dão segurança (só faltava não ter nem isso, né?) de que meu trabalho é bom sim e muito bom.

Então, chego a conclusão que o “Problema” que tenho, na opinião do Mercado de Dança do Ventre do Brasil é o mesmo da Soraia e da Warda: nasci aqui. E o que quer que tenha sido “made in Brasil” não é, mesmo, grande coisa… Bailarinas estrangeiras que pedem pra tirar foto comigo, que fazem ou fizeram aula comigo fora do Brasil já foram convidadas para trabalhar aqui em condições que jamais foram ou serão oferecidas para mim (ou pras minhas contemporâneas, Soraia e Warda) entre estas “convidadas”, inclusive, meninas que tem menos tempo de vida do que nós três, de experiência profissional na Dança do Ventre.

A Soraia e a Warda saíram fora… Estão lá do outro lado do mundo, ralando, “concorrendo” com meninas que têm metade da sua idade e um “passaporte árabe”… Tenho muito orgulho delas! Somente elas sabem, na real, o “preço” (altíssimo!) de passar uma vida inteira longe de casa, “encarando o Mundo Árabe”, são guerreiras, são vencedoras, são meninas que mancharam muitos travesseiros de delineador negro em noites solitárias, com o corpo quebrado, sem uma mãezinha por perto. São mulheres que aplaudo de pé!

Eu insisti no Brasil. Eu fiquei. Eu recusei todos os convites. Eu “acreditei na gente” e, sinceramente, somente agora, pela primeira vez, tantos anos depois, todas as “coisas realizáveis” realizadas, tendo vivido coisas que jamais ousei sonhar (como dar aula no Egito, por exemplo) sinto uma ponta de arrependimento por isso… Não me sinto “recompensada” à altura da minha entrega por essa Dança que tanto amamos.

E esse é um texto “urgente”, uma questão que toca a todas nós, envolvidas com Dança do Ventre, dançando, aprendendo, ensinando, contratando bailarinas e, ao mesmo tempo, muito pessoal e, sim, admito, muito, muito magoado… Meu orgulho desaprova a publicação desse texto, mas a verdade que aperta meu coração, mais uma vez, é maior que meu orgulho, é maior que o risco de “magoar possíveis contratantes” e, por mais uma razão, não ser a “bailarina convidada”… Estou na minha casa e esse é o preço mínimo que exijo como “recompensa”: O que quer que aperte meu coração, ainda que ninguém ouse dizer, eu estarei aqui para dizê-lo em bom português, caso contrário, nada terá valido a pena…

DANÇA DO VENTRE e SOLIDARIEDADE

Acho que todo mundo do meio da Dança do Ventre que circula pelas redes sociais deve ter percebido que muitas bailarinas, atualmente, têm se envolvido com ações solidárias o que é uma coisa muito bonita, que me enche de orgulho, ver essa nossa “paixão” botar roupa no corpo, comida no prato de quem precisa! Parabéns pra nós!
Mas… como quase tudo tem um “mas…”, tem um “outro lado”, esse virou, também um recurso de Marketing muito mais que eficiente: a moça oferece Workshops de estrelas para seu público sem gastar um único real, faz uma “moral” com suas alunas e sai muito bem na foto, de “bailarina solidária”! Esse é o “outro lado” que, somado ao primeiro (a ajuda real!) tudo bem, é um “efeito colateral”.
A questão é que, por alguns “eventos isolados” estou percebendo que tem um oportunismo envolvido nisso. Há casos em que o modo que a menina se aproxima pra te “convidar” te dá um certo “Opa!” imediato. Aconteceu comigo e com colegas minhas também e ao ouvir “não” a reação é sempre um “biquinho”, sabe? Aquele “ok” que você enxerga o beicinho na mensagem?
Nunca falei sobre isso “aqui”, mas a situação, realmente, pede: Fiz algumas ações grandes e com muito êxito, uma para mulheres vítimas de violência doméstica, esta incluía, roupas, itens de higiene, calçados, maquiagem, um show e um bate-papo comigo. Foi lindo! O que consegui (conseguimos, claro, passei o chapéu entre minhas alunas e amigas!) deu para, além de distribuir entre as mulheres, fazer um bazar, já que ganharam coisas belíssimas que valeria a pena fazer um din din para coisas mais urgentes.
Depois, foram duas ações para Refugiados sírios (à época, dava aulas de português para mulheres árabes, trabalho voluntário, claro, duas vezes por semana e estava envolvida com elas quase que diariamente, dando uma mãozinha em suas comunicações aqui no Brasil). Uma das ações era para as “moradias” e, até mesmo, cama, geladeira, fogão eu consegui, foi lindo demais, outra, agasalhos e outra, para crianças, que incluía brinquedos, fraldas e material escolar, além de roupinha. Ganhei até carrinho e berço de bebê!
Fiz outras duas ou três (chá beneficente com show e palestra minha, no meu estúdio ou, simplesmente, “meninas, precisamos alimentar um pessoal aí!”) e, neste momento, estou iniciando uma para angariar agasalhos.
E dei aqui um “breve histórico do meu lado solidário” pra que os “decodificadores de sílabas” (aqueles que “lêem o que querem ler”) entendam que, não, eu não sou uma pessoa que “só pensa em dinheiro bla bla bla” e, sim, faço “parte da minha parte” (porque sei que poderia fazer muito mais!).
Em todas estas ações, recebi muito amor e ajuda, dos dois lados e, claro, recebi roupas (inclusive de bebês!) que não serviriam nem para limpar móveis, trajes ridículos de festa a fantasia cheirando a mofo, alimentos e itens de higiene vencidos, “conselhos e dicas” sobre como deveria proceder, “lições de moral” do tipo “quem ajuda tem que ensinar a pescar e não doar o peixe”, além, claro, daquelas mensagem dos “desconfiados de plantão” que queriam entregar seus itens, pessoalmente, nas instituições que ajudei. Somente pra contar algumas situações – chatérrimas, desestimulantes – que envolvem estas ações.
As pessoas que me mandaram as “sacolas de lixo” de suas casas dormiram bem naquela noite porque “fizeram sua parte”, sabia? Fazer sua parte é uma coisa que depende do julgamento moral de cada um que é, absolutamente, pessoal.
Em nenhuma dessas ações eu trabalhei no “modo chantagem” para conseguir alguma coisa e, muito menos, escrevi “posts mal criados” pra quem não me ajudou, por uma razão muito simples: não é da minha conta e meu foco é outro, é em quem AJUDA e em quem PRECISA da ajuda. Quem quer e pode contribui com o que quer e pode e pronto!
Outra coisa importante de explicar é esse projeto incrível que a Mahira Hasan fez, o “Dança Ração” do qual eu, obviamente, participei, já que a esta altura, uma meia dúzia de leitores desavisados estão tentando “encaixar meu texto em algum lugar” e podem encaixar no “Dança Ração” que está bombando.
A Mahira milita DIARIAMENTE pelos bichos. Ela, pessoalmente, resgata, acolhe e, consequentemente, paga altas contas por eles e, portanto, estender a mão à Mahira nesta ação é colaborar “suavemente” com o que ela já faz todos os dias, sob nossos olhos.
Outra coisa importante sobre o Dança Ração: A Ação foi programada com um ano de antecedência e, quando ela entrou em contato, já tinha todos os horários programadinhos pra gente escolher e a divulgação que ela fez em cima disso trouxe benefícios para todos os envolvidos! Do gatinho mais faminto até eu, todos fomos tratados com muito carinho, respeito e, claro, profissionalismo.
Mais algumas coisas sobre a Mahira: Excelente aluna, bailarina, professora e produtora, se ela fizer um único show por ano (com cachê, pois ela sempre paga!), tem uma probabilidade de 90% de ela me contratar. Como ela é muito ocupada, faz menos aulas do que gostaria mas, se fizer uma única aula, também, existe a chance de ser comigo. E uma outra coisa incrível sobre ela é que ela sabe tanto dizer quanto ouvir NÃO com muita classe, direta, sem frescuras por uma razão muito simples: O que ela faz ela, realmente, faz por amor, por compaixão, movida por sentimentos nobres e todo mundo (ou quase todo mundo) diz SIM a Mahira e aos seus bichos, exatamente, pelas razões que descrevi acima.
Então, galera… Quem quer fazer, faz, quem quer ajudar, ajuda e é todo dia, não é pra “trazer gente pro seu estúdio”, pelo menos, não somente pra isso.
Eu não canso de me “absurdar” com o tipo de coisa que são capazes de fazer as pessoas que querem o tal do “lugar ao Sol”… É um “vale tudo”, sem classe, moral, peso ou medida.

“Meu Deus! É ela!!!” – De cara com meu ídolo

Dei de cara com meu ídolo! E agora? O que fazer? Aquela figura que vejo há anos, na TV, no Youtube, nas redes sociais, na mídia, na boca dos outros está aqui, bem diante dos meus olhos!

Passei por esse momento, “de cara com meu ídolo”, algumas vezes na vida… Com a Dina (a “Rainha da Dança do Ventre no Egito”, há 30 anos, no Trono), por exemplo, foi assim: Havia me preparado para esse grande encontro e ensaiado tudo, bonitinho, em árabe… No meu ensaio imaginário, eu ultrapassava um mar de “Cortesãs”, me aproximava dela e dizia, em árabe decoradinho “Muito obrigada, seja bem-vida ao Brasil, eu te amo, você é linda, eu sou bailarina por sua causa!”. Mas, na realidade, ela se sentou ao meu lado, vinda sei lá de onde, e me pediu um isqueiro… Sem pompa, sem corte, sem frescura e eu fiquei olhando pra cara dela, com uma cara pasmada, respondendo a tudo, monossilabicamente… Teve o Edu Lobo (comprei roupa pra encontrá-lo! À época, iria trabalhar, como assistente, na restauração de uma de suas maiores obras, “O Grande Circo Místico”, no qual tive a sorte de participar… ). No ensaio, ele chegava e eu o recebia, sorridente, à porta, e dizia “Maestro, muito obrigada, é uma honra enorme trabalhar com o Senhor!”, mas, quando cheguei no Estúdio ele já estava lá e eu, ao notá-lo, tive um ataque de riso e foi bem ridículo… Saí correndo, me recompus e voltei, com cara de bunda, de novo… Depois teve o Djavan… Um amigo comum nos apresentou (depois de seu Show, num jantar) e – nesse caso, não havia ensaiado nada, foi uma surpresa – quando meu amigo disse “Djavan, essa é a Jade!” Ele abriu um sorriso enorme e veio em minha direção cantarolando “Jade” do João Bosco (tem que ser muito estrela – de verdade! – pra ter uma generosidade destas, né?) e eu, somente, sorri. Muda como uma flor. Passei por outras situações assim (no Egito, com grandes Estrelas da Dança do Ventre e, no Brasil, diante de Feras da MPB) e percebi que, quanto maior a Estrela, mais gentil e generosa ela é e é nelas que me inspiro, quando sou eu a “tal da Estrela”. (“Enxergo longe porque me apóio nos ombros de Gigantes!” Não me lembro quem disse isso, quisera tivesse sido eu, porque esta máxima é um dos “faróis” que sigo em minha carreira!).

Circulando pelo “Olimpo” (tive muita sorte na vida, nesse sentido, e cruzei pessoas que jamais sonhei conhecer pessoalmente) sempre achei muito admirável e elegante a postura desses “Monstros” e percebi, ainda, que uma das maiores torturas para a alma humana é ser a ela delegada uma “Média autoridade”. A Média autoridade é uma coisa que gera na pessoa uma histeria e ela precisa provar o tempo todo, para quem está “abaixo”, que ela, sim, está acima e para quem está “acima” que ela, sim, está a caminho. É um sofrimento enorme!

No Microcosmo onde transito (a Dança do Ventre) há 25 anos, num Mercado que existe há 30 (no máximo!) sou, sim, uma espécie de “Djavan” (mal comparando, claro, ao Macrocosmo que é a MPB no Brasil) e todo mundo me conhece (ama, odeia, despreza, sei lá, mas, que conhece, conhece!) e, inspirada no comportamento dos meus ídolos (“me apoiando no ombro de gigantes”) nunca me dei o direito de desfilar com cara de “Ai, que dura, a minha vida de estrela!”, aquela cara de mulher de marido rico, desfilando no Shopping, puta da cara com o tédio de sua vida maravilhosa, sabe? Acho isso um horror, um nojo… Mas… (sempre tem um tal de um “mas”!) Essa postura mais aberta dá um certo trabalho…

Na semana passada, li sei lá onde “Bondade é como blush, se você usar demais, vão achar que você é palhaça!” e expandiria o “Bondade”: Pode ser “simplicidade”, “simpatia” ou, até, a simples e vulgar “boa educação”, porque a Nobreza é um Idioma e, às vezes, você agir com Nobreza com uma pessoa que não fala “nobrez” dá bem errado e eu tenho o trabalho de explicar ao interlocutor (fã, figura que pede pra tirar uma foto ou começa uma conversa qualquer) que eu não sou uma “coisa que pertence a todos” por ser “famosa”. Algumas pessoas que consideram a mim e a elas mesmo como sendo “VIP”, imediatamente, consideram-se “íntimas” e outras, que não se acham nada VIP, tendo um acesso, uma proximidade comigo (ou com qualquer artista), às vezes, não sabem bem o que dizer ou fazer num contato “olhos nos olhos” e toda a sorte de esquisitices começa a acontecer…

Certa vez, quando eu usava meus cabelos naturais (que são crespos, bem crespos, armados) estava do lado de fora do Teatro, depois do Show (cumprimentando pessoas, agradecendo elogios, fazendo fotos, essas coisas) uma mulher de cabelos longos e lisos (belíssimos cabelos, diga-se de passagem) aproximou-se e disse (assim, sem prefácio) “Jade, quer meu cabelo emprestado pra você dançar?.. Todas as bailarinas dizem que têm inveja do meu cabelo!”… Sim… aconteceu… Outra boa… A mulher se aproximou, elogiou, elogiou e, ao final, disse “Eu faço aula de Dança do Ventre, mas não quero ser bailarina, não, porque dá muito trabalho, tem que pôr silicone, malhar, etc, e eu gosto de mim do jeito que eu sou!”. Nessas situações eu dou um jeito de sair correndo, às vezes, literalmente, mesmo, simplesmente, saio, porque não há o que dizer, mesmo…

Tem, também, o modelo “Omeumarido…”, tem “Agarra o meu marido!”, tem “Meu marido ficou de p… duro te vendo dançar!” (juro por Deus! Essa é bem comum!), tem “Meu marido não quer que eu faça aula com você porque é muito sensual” ou “Meu marido quer que eu faça aula com você!”, e um sem fim de coisas que começam com “Meu marido”… Na hora da foto, “Pode agarrar que eu deixo! É meu marido!”. Nessas situações, normalmente, eu e o “meumarido” ficamos sem jeito e eu sinto muita pena dele porque eu vou sair andando, mas ele não… Afinal, é o marido dela, uma coisa dela, um bem que a ela pertence.

Tem o pessoal que “trabalha com Seguros de Saúde” (só pode ser!) que quer saber meu nome de registro, quantos anos tenho, onde moro, se tenho filhos, tem também o pessoal do Raio X, que quer saber o que é ou não “natural” no meu corpo, tem ainda algumas “mães de plantão”  que dizem “Ah, mas você não tem filhos, né?” (nesse caso, a cara é ótima, é uma coisa “ahá! é por isso!”) e o pessoal do “Ah, bom!”, do tipo “É silicone, né?… Ah, bom!” ou “Você não tem filhos, né?.. Ah, bom!”.

Tenho unhas enormes, naturais e tem as que perguntam “Mas, essa unha não é sua, né?” e quando eu digo que sim, agarram minha mão para uma investigação mais “apurada”. Tem outra bem intrigante, que é a mulherada que quer dar uma “apalpadinha”… Algumas pedem “Posso pegar no seu peito?”, outras, simplesmente, pegam… No meu peito, no meu cabelo… Outro dia, levei uma “encoxada” (juro!) e, como acontece, quando fico muito nervosa, tive um ataque de riso… Ela chegou e disse “Me dá vontade de te encoxar!” e, simplesmente, me deu um “junta”, diante de uma fila de pessoas que aguardavam para fazer uma foto. Pensei se o pessoal da fila não iria querer mudar a ordem da fila e vir “por trás” mas, graças a Deus, uns riram, outros fingiram não ver e houve uns que, de pura vergonha alheia, se retiraram…

E tem, também, um outro grupo que é aquele que chega no Djavan (vou usar o Djavan porque, essa analogia com meu próprio nome seria “anti-ético” da minha parte) e diz: “Eu amo o seu trabalho, eu acompanho o seu trabalho desde 1982, fui a vários shows seus, fiz um Workshop seu em Seilaond, seilaquando…” e, daí em diante, envereda para vários caminhos…. alguns são: “se não sou eu, sei lá o que seria da sua carreira!”, “não acredito que você não lembra de mim!”, “todo mundo acha meu trabalho igualzinho o seu” ou (acho que esse é o pior!) “Você e o Frank Aguiar são os melhores cantores do Brasil, na minha opinião!” (Sorry, Frank… sorry fãs do Frank, mas compará-lo com o Djavan é meio demais…) e tem alguns (esse, acho até bonitinho, apesar de não ser a melhor coisa de se ouvir) que são fãs “saudosistas” que amam o trabalho que o Djavan fez em 1973 e dizem coisas do tipo “Eu ainda gosto de você, mas em 73…”.

Tem os “místicos” que vêem coisas enquanto eu danço, como Entidades, Espíritos (às vezes “do bem”, às vezes “do mal”), reencarnações de pessoas famosas ou antigos Deuses do Egito, evangélicos com informações de última hora, como “Jesus te ama”, análises e previsões para o meu futuro, pessoas que pedem para ler minha mão, astrólogos que, quando digo “É Touro!”, fazem uma cara de “Ah… claro que é Touro!” e saem falando tudo o que isso significa, tem os “Fiscais da Saúde” que querem saber (e aconselhar sobre!) o que eu como, tem Vegetarianos desapontados “Não acredito que você come cadáveres!”, anti-tabagistas “Ai, Jade… Que decepção! Você fuma?!” e sapecam “A” informação que faltava para eu largar o cigarro: “Isso faz mal!”.

Em tempos em que todo mundo tem uma câmera na mão, o trabalho de nós, artistas, aumentou (demais!) e tem, sempre, uma longa série de fotos (antes, depois e às vezes, durante minha apresentação). Temos um probleminha linguístico… “Selfie” é uma coisa, significa “fotografar-se a si mesmo”, mas virou um apelido para “close, feito por mim mesma, com a câmera virada pra mim, mais sei lá quens ao lado, fazendo alguma palhaçada”, então, a pessoa te pára, pede pra alguém fazer a foto e, depois, “Agora, vamos fazer um selfie!” e, muitas vezes, te pede pra fazer biquinho, careta ou sei lá o quê. Isso tudo, às vezes, suada, cansada, com fome, depois de um vôo longo, antecedido de uma noite mal dormida, a ida, às vezes, antes do nascer do Sol, para o Aeroporto, dar tudo certo com o tal do vôo, chegar ao destino e tudo pode acontecer nessa chegada… tem gente que quer te mostrar a cidade, levar pra conhecer a sua Academia, apresentar para a mãe, mostrar a casa onde cresceu, etc., quando tudo o que preciso é ir para o Hotel, descansar minimamente e me preparar para o Show. Às vezes, esse momento das fotos acontece quando faz 20 horas que eu não durmo ou não como ou ambos.

Encaro a “sessão de fotos” como parte do meu trabalho. Como maquiar, arrumar o cabelo, me alongar é, simplesmente, uma coisa que “tenho que fazer”. Dia desses, num show, após dançar, morrendo de fome, pedi que me servissem alguma coisa na cozinha, ao invés do local onde estavam os convidados, para que eu pudesse comer com algum sossego e privacidade. Comeria rapidinho e já sairia para as fotos e uma moça que descobriu meu “paradeiro”, entrou na cozinha e disse “Jade, eu tenho que ir embora! Precisamos fazer a foto agora!” e eu respondi “Cinco minutos, amor… Já vou lá pra fora!”. Ela ficou ali, parada, me olhando comer, com uma cara de “Vai logo que eu tenho mais o que fazer!” e, cansada de me esperar, disse “Ah, sinto muito, mas vai mastigando, mesmo!” e me abraçou, sentada, com a boca cheia, com seu celular na mão, câmera virada para nós… Eu tive que fazer alguma coisa, disse “Peraí… eu já vou sair e a gente faz a foto!” e ela ficou muito brava, foi embora com sua câmera, me olhando muito feio… Essa mesma moça já havia perguntado minha idade num outro momento… Tem também a que finge estar tirando foto de si mesma, me focando ao fundo, às vezes, com o figurino pela metade ou me alongando ou, ainda, sem roupa… (sim… acontece…).

Tem, ainda, o pessoal que acredita que eu seja a “Porta da Esperança” e me pede toda a sorte de coisas… Emprego, emprego no Egito, marido árabe, aula ou show ou ambos (de graça), roupas (há quem escolha a roupa que quer que eu dê!), traduções de músicas, feedback de vídeos, contatos em outros Países, passar em meu estúdio pra “bater um papo”, conselhos sobre assuntos diversos, sem nenhuma conexão com meu trabalho (o “top” dessa lista foi uma aluna que, numa uma aula particular, decidiu dividir comigo o fato de ter atração sexual pelo próprio filho! Juro que isso aconteceu… ), aconselhamentos médicos (o que fazer com dores na lombar, menopausa, cirurgias) e “uma mãozinha” em Concursos onde farei parte do Juri. Permutas “Você dança no meu Evento de graça e eu danço no seu” (esse vem de pessoas que, nem me pagando, eu escalaria em uma Produção minha) e tem jeitos bem bizarros de pedir essas coisas, às vezes, num tom “Que bom que te encontrei aqui! Só você poderá me ajudar!” ou ainda “Estou te dando a honra de trabalhar pra mim de graça, pois isso será a mãozinha que faltava para sua carreira” e, esse é ótimo, o “Você TEM que me ajudar! SÓ VOCÊ poderá me ajudar!”. É doido, doido demais!

Nesses tropeços com fãs, também vivi momentos de profunda delicadeza e beleza, recebi presentes, às vezes, de pessoas que escolheram coisas em seus próprios guarda-roupas, fotos antigas comigo, cartas, flores, lágrimas de amor sincero, elogios que dá vontade de contar pra todo mundo, chiliques emocionados de fãs, pessoas que choram, que se arrepiam, que me olham com um amor que me sinto obrigada a ser “melhor que eu mesma” para merecê-lo e, em nome desses momentos deliciosos, “encaro as doidas” porque, amarrar a cara me livraria de malucas, sem noção ou sem educação, mas também me privaria  da delícia de conhecer pessoas muito lindas e dar a elas um “sonhado abraço’ meu.. Já recebi declarações de amor, homenagens e agradecimentos, em muitos formatos, alguns de uma singeleza comovente como comidinhas, cartinhas, desenhos feitos por crianças, pessoas que batizaram bichos com meu nome e, muitas vezes, estas coisas complementam o meu cachê, às vezes, vêm depois de trabalhos onde não havia uma cadeira ou um copo d’água no camarim, às vezes, não havia, sequer, um camarim, hotéis horríveis, comida ruim e volto pra casa, ainda cansada, com o corpo dolorido e venho, no avião, revendo estes momentos e pensando que minha carreira vale a pena…

Quase sempre, a educação, a discrição e o bom gosto andam juntas, o contrário também, então, pessoas que não têm nada a dizer, são as que mais falam, mas em todo monte de areia, há grãos de ouro, em todo o monte de gente, há pessoas, em todo o monte de nada, há seres recheados de amor e é nestes seres que eu foco, esperançosa, cada vez que uma voz que não conheço diz “Jade”, com aquele sorrisinho sem jeito, de quem me conhece, sem me conhecer. Pelo sim, pelo não, atendo, sempre, sorrio sempre, faço as fotos, os “selfies”, autografo as coisas, porque esse amor que algumas pessoas sentem por mim, ainda que seja, somente, pela minha personagem, vale o risco de ouvir algumas bobagens e estas bobagens viram “histórias pra contar no Bar”, enquanto declarações de amor gratuito ficam tatuadas para sempre, na camada mais profunda e macia da minha alma!

Ele está no meio de nós

Desde sempre, investimos nosso tempo e dinheiro para arrasar no palco. Tudo que fazemos, da escolha da bijoux ao perfume, é pensando no que funciona bem no palco. Ultimamente, temos falado muito sobre “comportamento de coxia”. Assunto abordado entre as “Dicas” do meu último DVD, lançado em abril p.p.

Falamos sobre ter classe, bons relacionamentos, estar sempre bem arrumada, ser pontual, evitar tititis, etc etc etc…Tudo ou quase tudo que se fala sobre Camarim é dirigido às meninas, já que estas são maioria, certo? Sim… só que, atualmente, estamos dividindo este espaço, quase meio a meio com meninos e alguns pequenos ajustes precisam ser feitos…

Na semana passada, estava em um camarim “misto” e uma moça entrou para me cumprimentar… Quando ela saiu, um menino (artista, claro!) que estava a um metro de mim comentou com o outro “você viu? nem olhou na minha cara! pra quem tava pegando no meu pau na semana passada na rua…” e, como ele repetiu a expressão “Pegando no meu pau” umas três vezes, tão próximo de mim, não consigo imaginar que não fosse, no mínimo “inclusive” pra eu ouvir… E é um cara cujo nome eu, sinceramente, decorei tem uns seis meses… Lá estava ele, “dividindo vicissitudes de sua vida sexual com Jade El Jabel”, coisa que ele poderia, perfeitamente fazer, de outra forma, num outro momento, com delicadeza, e poderia ser uma conversa adorável, já que sou uma mulher que não tem problema nenhum em falar de sexo com homens…

Na semana retrasada, teve um outro evento no qual um grupo de rapazes assumiu uma postura “Gaviões da Fiel” ou “Fundão da Sexta F” que a mim, particularmente, incomodou um pouco. Achei inapropriado, fora de hora e lugar… Não pensei em dizer nada aos meninos por uma simples razão: Tinha uma mulherada junto, dando uma força e muitas pessoas em volta (quase todas, meninas, bailarinas), achando legal…

Na verdade, não estavam achando nada legal e isso virou um comentário geral sobre o evento… Foi quando comecei a pensar sobre escrever esse Texto. Percebi que tem um certo papel social que, sempre, sobra pra mim, nesse Mercado. Não acho correto, não acho legal, quando você gosta de uma pessoa e vê ela tendo um comportamento que não te agrada, simplesmente, não dizer nada…

Numa outra ocasião, um moço entrava “sem querer” no Camarim, naquele corre-corre e, assim, “sem querer” viu algumas meninas se trocando… Depois eu soube que alguém comentou, que alguém soube que isso foi “assunto entre os homens”… Falando em assunto de homens, também circula um Boato, que um grupo de meninos aí tem um Grupo no Watsapp onde eles postam fotos de bailarinas para “avaliação e esculhambação” dos amiguinhos…

Essa conversa do grupo do Watsapp, a mim, particularmente, não incomoda, porque sou uma figura pública e qualquer pessoa no mundo pode destacar uma foto minha e fazer coisa muito pior do que “comentar minha barriguinha”, mas soube de meninas que ficaram bem arrasadas por estarem entre as “selecionadas para avaliação”. Já que nos conhecemos pessoalmente, é, no mínimo mais grosseiro do que fazer isso com foto de estrelas de Hollywood. Com os meninos, mesmo, ninguém falou.

No último Mercado Persa, um rapaz que eu jamais havia visto na vida, pegou um top meu do meu Stand (um Fernando Corona de Mil dólares, diga-se de passagem), sequer olhou na minha cara, com o top na mão, virou pra um moço que estava do lado dele e falou “Aí, fulano, serve pra você!”. Eu disse, didaticamente, “coloca meu negócio aqui de volta, coloca… por favor… obrigada”, que nem com criança… Ele riu muito da “própria graça” e ainda recordou-me o evento quando me encontrou, assim, “tipo” super íntimo, meu brother! Continuo não sabendo quem é…

Outro dia, um menino que, que eu tenha notado, chegou anteontem ao mercado postou um texto enoooooooooooorme, falando da inveja alheia, desabafando seu sufocamento de pop star, assim, seguido por páginas e páginas de comentários, quase 100% deles, claro, de meninas… E eu tinha acabado de elogiá-lo! Pensei “Olha, o menino leva jeito… tá aí, virando alguma coisa!”. Não, não tá… Já tá sofrendo o peso do seu auto-proclamado sucesso…

Tenho visto, da platéia, da coxia e, até mesmo, pelas Redes, Festivais e Shows onde o professor e/ou artista mais bem pago é homem… O cachê mínimo de um músico varia de duas a seis vezes mais que o mínimo de uma bailarina… Os Festivais, no mundo inteiro, têm a Grade de Mestres, cheia de homens.

Ops… Peraí… Então, se eu entendi bem, os meninos estão aí, uns ganhando mais, outros comendo meio mundo, contando pra todo mundo, outros, ainda, não comendo e, também, comentando por aí, esculhambando com as bailarinas, sendo consolados, apalpados, chupados, etc etc etc, no Mercado de Dança DO VENTRE? É isso, mesmo?

Alguns meninos que conheci nos meus 25 anos de caminhada são meus melhores amigos, pessoas com quem posso contar pra qualquer parada, alguns, são pessoas incríveis e esse comportamento (o “escroto”, quero dizer) é reflexo de uma puta boiada que NÓS estamos dando pra eles…

Então, eu não estou aqui para “jogar indireta para os homens”  e sim, para falar, diretamente, com as mulheres: Meninas, como de costume, “sobra pra nós” educar adultos, com atitudes um pouco mais firmes e profissionais. O romance pode, sim, acontecer no trabalho, sempre acontece, somos cercados de casais adoráveis que se formaram no meio da Dança do Ventre, mas acho que putaria (e isso não é um texto de “caráter Moral”, digo “putaria” como uma coisa natural aos solteiros, os fervidos, os que estão na pista, nada que seja da minha conta!) então, putaria pura podemos deixar pra fazer “lá fora”, não? É um pouco mais seguro para todos, porque eu já vi dar cada merda… mas, cada merda… Acho que não preciso dizer que “o cara que come todo mundo” não se prejudica no seu trabalho como a “moça que dá pra todo mundo”, preciso?

O que valida o que um artista diz é sua obra, dentro da Arte, portanto, um cara que tem 15, 20 anos “de praça”, toca, dança, ensina, tudo isso, muito bem, quando ele faz alguma “cagada”, o seu histórico de carreira, sua Obra, pode tornar essa cagada, até, um pouco charmosa e talvez seja por isso (pela minha obra) que eu possa dizer as coisas que digo, porque “o meu tá feito”, porque meu trabalho eu faço muito bem, nunca estacionei, nunca parei de estudar e sou, de fato, uma pessoa famosa em nosso meio.

O que acontece é que o que eu vejo é mais o contrário disso, quanto menor a obra e o sucesso, maior o barulho e acredito que ainda haja tempo de refletirmos, meninos e meninas, sobre essa convivência, sobre os deliciosos frutos que podemos, a longo prazo, colher juntos.

Saindo um pouco dessa questão “machista” ou “machuda”, ou ainda, “machenta” dos meninos, quero falar da acensão e destaque dos meninos da Dança do Ventre (eu não sei se tem algum hétero que dança, não reparei, se tiver, me adianto no pedido de desculpas ao referir-me a vocês com certas liberdades!).

Enfim, as bichas… As bichas estão arrasando, sim! Algumas delas porque dançam muito, outras, porque têm carão, outras porque têm contatos, igualzinho às meninas e, ainda assim, tenho visto da platéia, shows onde o destaque da noite é um menino. Como foi que isso aconteceu? Explico: (hoje eu tô explicando tudo!) Aconteceu que as meninas deixaram de lado o fato de ser mulher e a maravilha que isso é, especialmente, na Dança do Ventre, quando se desfocaram do Ventre e passaram seu foco para braços, giros, força e aquele shimmie “duro/grande/seco/e só”, todas estas, coisas que um corpo masculino faz com mais facilidade, já que tudo depende de força. Olha que simples!

Eu acho que vale a pena pensar (e essa parte, sim, tem um caráter político) que os Cabeleireiros, Maquiadores, Estilistas e Chefes de cozinha, por exemplo, que “vieram pro lado de cá” bem depois de nós, hoje em dia, em muitos casos, têm mais êxito e Status do que mulheres com as mesmas habilidades, enquanto a Marta, da Seleção feminina de Futebol (que foi escolhida como melhor futebolista do mundo por cinco vezes consecutivas, um recorde entre mulheres e homens) ainda não está nas “Mesas Redondas” cagando regra pros homens, ainda que ela, por qualidade comprovada, embolse 3 ou 4 jogadores da Seleção, juntos!

Então, como acontece com os meninos, músicos e bailarinos de folclore árabe, com a maioria dos outros meninos (os da Dança do Ventre) tenho um ótimo relacionamento, tive a honra de amadrinhar um evento feito só pra eles (que foi incrível, diga-se de passagem), não é com eles que estou falando, é com as meninas, de novo…

Menina, menina… O ventre! É do ventre! Não é do joelho, não é do braço, não é da força, não é do impacto, a Dança é do Ventre! Não é uma questão de gosto, nem de estilo, é uma questão de sucesso, prestígio e, consequentemente, grana! Que tal aplicar este “carinho sensual” um pouco mais, NO palco e um pouco menos fora dele? É a mesmíssima energia, o mesmo fogo, focado em você, para o público e não para o “habibi” que acaba de chegar? O problema é maior onde falta, até, do que onde sobra!

Os homens são muito bem-vindos! A chegada deles (machos e bichas) sempre traz consigo uma festa, um frisson, um ruído, é uma mudança perceptível do Astral, para melhor! Por mim, os meninos ficam, sim, claro, e que venham muito mais, mas isso não quer dizer, de jeito nenhum, que nosso espaço esteja à sua disposição! Enquanto estiver por aqui, ainda, apóio, e muito a presença deles, mas eles têm que saber que estão na nossa casa e não o contrário. Xixi de porta aberta, meninos, não, não pode!