O que vou fazer depois?

Ops! Pergunta errada! A pergunta certa é “O que fazer durante/enquanto dança?”. Quando temos vinte e poucos anos pensamos: “Depois que eu me casar e tiver filhos eu paro!” ou “Depois eu penso!” e nem uma coisa nem a outra funciona, a primeira, porque não temos bola de cristal pra saber SE vai casar, SE vai ter filhos e quem será esse marido aí? Um príncipe num carrão branco (porque cavalo hoje em dia, não dá!) que irá te laçar num palco qualquer, te dar uma casa, um bebê e um emprego? E “pensar depois” já será depois!

Como a minha experiência é “só o que tenho”, vou falar dela:

Como eu disse na matéria anterior (que é um bom “gancho” pra essa aqui!) dos 23 anos que estou envolvida com DV, “vivo de DV” há apenas 7, sempre tive atividades paralelas e passei a trabalhar somente com DV quando não tinha mais agenda para outros trabalhos, porém, nunca parei de estudar, nem de produzir. E foi meu outro trabalho que “montou meu guarda-roupa e me mandou pro Egito” pela primeira vez.

No lançamento da minha capa da Shimmie, aproveitei para fazer um Vernissage (Telas a óleo e esculturas) e as duas telas que vendi pagaram o vinho chiquérrimo que servi no Vernissage e ainda sobrou um “cachê” para mim! Pinto desde 2000, esculpo desde 2010 e escrevo desde que aprendi a escrever. Tenho dois livros escritos, prontos para publicar, entretanto, por falta de tempo, devido ao meu trabalho, ainda não os lancei, além das telas inacabadas (tempo… ai o tempo que nunca dá!) e esculturas “preparadas” que ainda não “foram para o barro”. Somente aí, tenho “trabalho acumulado” desde já, e olha que eu tô bem longe de ter “tempo sobrando”…

Em 2005, quando fui ao Cairo pela primeira vez, Mm. Raqia me pediu pra traduzir o Workshop da Soraia e eu passei uma semana “pensando em DV em inglês” (o Cairo fervendo lá fora! Passeios, Baladas e eu, “presa em casa, estudando”), me preparando pra isso: um “trabalho não remunerado”, um “favor pessoal” que fiz com o máximo de profissionalismo que pude… Mais tarde, quando Mm. Raqia me convidou para dar aula no Egito já sabia que eu poderia dar uma boa aula em Inglês! Minha “apresentação” já havia sido feita, por mim mesma.

Percebi, nestas idas ao Cairo que aquele “árabezinho” que eu falava impressionava os egípcios e as bailarinas e me “abria portas”, então, valeria a pena investir: Contratei um professor particular aqui no Brasil em 2006 e, a partir de 2008, comecei a estudar no Cairo, anualmente… Ainda era pouco… Um dia, um taxista me falou: “três meses e você aprende direito!”. Bom… Três meses no Cairo… Preparei mala, fiz uns contatos, guardei dinheiro e lá fui eu… Mas… estourou uma Revolução e nada do que eu havia planejado seria possível em 2011… A medida que eu fui contando as histórias que via por lá para meus amigos aqui, começaram os pedidos “Escreve um livro!”. Aproveitei o tempo ocioso (que era quase todo o tempo que tinha, sozinha, amedrontada, deprimida) e este é o segundo livro que escrevi, que aguarda tempo para Publicação.

Em 2008 conheci uma moça da França que me disse que havia um “Grupo de Estudos” do meu trabalho em Paris, resumindo, em 2009 eu estava lá, dando aula pra elas… Percebi que as francesas não falam inglês (Não falam! Não é que “falam e não querem” como dizem, não falam, mesmo…) e que gostavam muito do meu trabalho… Pensei “preciso aprender francês!”. Em 2011 soube que a Dina (sim! a Dina!) havia lançado um livro em francês e reencontrei este grupo de Paris no Egito, quando me contrataram para um Show (num jantar, no Cairo). Juntei minha necessidade profissional de ler o que a Dina tinha a dizer com o amor que vi que estas parisienses tinham por mim e prometi a elas: “Na próxima vez que eu encontrar vocês, iremos conversar em francês!”. O livro? Li! É uma aula de DV, de Cultura Egípcia, e uma explicação do “porque a Dina é a Dina”, valeu cada minuto de leitura!

Matriculei-me numa escola de francês aqui no Brasil e, enquanto estudava, fui “alinhavando” uma ida para a França, pra passar um mês estudando “in loco”… Uma pessoa disse pra outra, que disse pra outra e, quando eu vi, tinha uma Turnê, com 9 cidades na Europa que duraria três meses. Fui morar numa casa de família e estudar francês, durante a Turnê. Trabalhava nos finais de semana e, durante a semana, estudava (muito!) na escola e sozinha. Quando fui para Paris dar aula, depois de 3 meses de estudo aqui e um mês na França e, conforme prometido, tanto as conversas quanto as aulas foram em francês! O que, afinal, eu conheci na França, morando lá por 3 meses? Um pouco de Cultura e Idioma. Não, não visitei lugares incríveis porque tinha outras prioridades para meu tempo e dinheiro. Opção, como tudo!

Daí, pintou um convite para o Chile… Tinha dois tradutores na minha aula, um que falava árabe e uma que falava português… Mas… Não precisei de ambos porque estudei espanhol antes de ir (apenas espanhol falado, suficiente para as aulas) e falar o idioma local ganha tempo e, principalmente, “moral”! Mas meu espanhol tá muito “mequetrefe” e, como minha contratante no Chile reiterou o convite para este ano, estou me matriculando em uma escola de espanhol JÁ! Além de ter “mais assunto” sobre DV que no ano passado, estarei falando um espanhol melhor!

Cheguei a pensar na Copa do Mundo! Afinal, 5 idiomas e “jeito pra lidar com gente” eu poderia fazer um “freela”, só que ainda não tenho tempo livre pra freelas porque estou ocupada com DV.

Então, o que fazer depois? É só aproveitar o tempo que terá livre pra continuar o que vinha fazendo antes! E, esse ano, se Deus me Der tempo, volto a estudar música, por puro capricho, porque adoro música! O dinheiro? Virá! O dinheiro vem de coisas que você faz bem feitas! E, pra fazer bem feito tem que ralar, estudar, se dedicar, investir… Não tem outro caminho!

DICAS!

– Preste atenção aos elogios, críticas e conselhos e especialize-se e aprimore-se no que você faz bem, dentro e fora da Dança do Ventre.

– Guarde dinheiro (ainda que pouquinho!) e o que gastar, gaste com coisas duráveis, de qualidade, se você se apertar, faz um “brechó” e tem um extra pra reinvestir.

– Mantenha suas amizades e seus relacionamentos de fora (Lembre-se: Esse monte de gente que é apaixonada por você, na verdade, ama a sua personagem e tudo bem! É assim que tem que ser!). Porque se você passar dez anos “Divando na balada árabe” e só, vai ficar um pouco só daqui há dez anos.

– Não se esqueça que “a sorte é o encontro do preparo com a oportunidade” então, esteja sempre preparada e a oportunidade vai aparecer!

No começo foi assim

Quando a gente tem 20 anos, saindo da adolescência, se sente ficando velho pela primeira vez. Eu senti. Depois de novo aos quase 30, depois com uns trinta e cinco e, por incrível que possa parecer, passa. E esse sentimento, esta sensação de urgência, muitas vezes é o que nos move. Foi assim que comecei a dançar. Porque “já estava” com 21 anos e precisava fazer alguma coisa para cuidar do corpo. E foi neste exato momento que encontrei uma amiga minha tinha ido à Khan El Khalili (Casa de Chá, em São Paulo) e, numa conversa sobre isso, sobre estarmos precisando ter um carro, um emprego, um namoro sério que surgiu essa questão de cuidar do corpo. E ela disse “Jade, eu achei esse lugar a sua cara!.. Eu vi que lá tem aula de Dança do Ventre!” e me deu um cartão.

Eu tinha acabado de arrumar um “bom emprego” e folgava às quintas. Na minha primeira folga, com o cartãozinho na mão fui até lá.

Tinha uma aula que começava às duas e eu podia experimentar! Como eu era meio “hippie”, a roupa que estava usando (saia comprida e blusinha) era adequada para a aula.

Entrei pela primeira vez no Harém da Khan El Khalili e fiquei aguardando a professora.

A professora: Layla. Treze tatuagens no corpo, cabelo vermelho merthiolate, blusa de onça, micro saia e cuturno. Olhos grandes e verdes e voz de veludo.

Me lembro, claro como se fosse hoje, da primeira música que ouvi. Era “Wa eh yanni”, do Omar Diab. Era a música do aquecimento.

Na minha turma, mulheres exóticas, tipos que eu nunca tinha visto fora da TV, na distante periferia onde nasci e fui criada, na Zona Leste de São Paulo.

O cheiro de insenso, a Layla, aquela música… Parecia um sonho e, ao mesmo tempo, uma coisa que sempre havia estado em minha vida, uma confortável e inédita sensação de “pertencimento” de estar em um lugar que era adequado pra mim, que combinava com as minhas roupas, com o meu cabelo, com as coisas que eu julgava belas. Eu não sabia o nome daquilo, mas era o “Mundo Árabe” entrando de maneira sutil e definitiva na minha vida.

Naquele dia comprei fitas K7 (Henkesh, Omar Diab, George Abdo e Najua Karam). Ao chegar, antes de entrar em casa (embaixo de casa era a Imobiliária do meu pai) pedi para o meu pai comprar um espelho pra mim! Subi com o espelho na mão “Mãe, me ajuda aqui!” afastei uns móveis, botei o espelho na parede, um tapete no chão e nunca mais saí de lá.

Não tinha nenhuma intenção de me profissionalizar, sequer pensava nisso, mas a dança me dava muito prazer, vi naquele espelho uma beleza que eu não tinha visto antes.

A Layla me disse, lá pela terceira ou quarta aula: “Você será uma bailarina brilhante! Queira ou não, é uma coisa que tá em você, na sua vida! Você tem que estudar bailarinas egípcias, seu estilo é egípcio e não tem nada a ver com o que a gente faz aqui!” Eu não sei bem se acreditei ou não, sinceramente mas sou um tipo de aluna que, se eu confio na professora eu faço o que ela manda e ponto. Me levou na casa da Samira (Samia) e no Omar (Naboulsi) e comprei vídeos pra estudar: Fifi Abdo, Mona Saaid e alguns vídeos que eram “moda” na época.

Estudava todos os dias, ainda estudo muito. Porque gosto, mais do que porque preciso, estudo tudo que posso, arte, idiomas, política, esculpo, pinto, escrevo, porque gosto. E vou dizer exatamente o que foi que aconteceu: De tanto me dedicar aprendi e, de aprender meu telefone começou a tocar. E, 19 anos depois estou aqui, contando essa história absolutamente real.

El Tarab…

Nada que diz respeito ao Mundo Árabe é possível de ser colocado em um envelope, lacrado e etiquetado. Política, Religião e Tradição se entrelaçam o tempo todo. Dentro da Tradição, existe a Cultura e, dentro da Cultura, a Arte, ainda entrelaçada com estas “outras coisas”, assim são a música e a dança árabe: Tudo depende… É Tarab? Depende… E este é um bom jeito de começar a ensinar, explicando que não será possível aprender uma coisa só. “Só Tarab” ou “Só Religião”, não, não dá…

Existem alguns cantores e compositores que trabalharam somente dentro deste “ambiente”, como é o Caso da Oum Kalthoum. Tudo que Oum Kalthoum canta é, obrigatoriamente, Tarab, por ser ELA cantando, então, qualquer música que tenha sido cantada pela Oum Kalthoum é Tarab? Não, não é. Se for feito um “remix” de uma música, tirando dela características originais de arranjo e composição, bem como somando outras, pode ser que permaneça sendo Tarab ou não.

O que não é Tarab? Esta é fácil!: Folclore, fusion, shaabi, moderno, Ocidental. O que é Tarab? É um Universo, é uma Sensação, é um “Elevar-se”, é um Portal, um portal que não pode ser visto de longe, é uma fonte, uma fonte que não aceita cantis, uma fonte onde somente é possível mergulhar ou admirar de longe, muito longe.

Há alguns bons anos, uma bailarina dançar um “Tarab” seria a mesma coisa que a Carla Peres fazer uma performance com uma música do Paulinho da Viola. Não agradaria nem aos fãs de Paulinho, nem de Carla Peres, seria o cruzamento de dois Universos, até então, Paralelos. Até que Suhair Zakie decidiu incluir músicas da Oum Kalthoum em seu Show e, como é comum às grandes estrelas como a Suhair, passou a ser permitido. Assim é a Dança do Ventre: Uma estrela autoriza e todas nós, “mortais”, podemos experimentar, como foi o caso da Fifi Abdo com Shishas e insensos, como foi a Dina, com relação aos figurinos, Madame Suhair Zakie, para nossa sorte disse “Sim, pode!” e, agora, pode.

Depois de algumas discussões sobre o Contexto Histórico destas composições (discussões sobre História e Geo-Política no Oriente Médio, bem como língua árabe), em sala de aula, podemos seguir alguns passos para, absolutamente nuas, mergulharmos nesta Fonte e, quem sabe, experimentar este mistério que é o Tarab…

A LETRA

Eu e, por consequência, as bailarinas com quem trabalho (de quem sou professora ou orientadora), no caso de músicas cantadas, partimos da letra. Conhecendo algum “Vocabulário Romântico” em árabe já é possível ter uma ideia do que se trata a letra, este conhecimento, somado à uma mão do nosso “Senhor Google” e Voilà! É possível ter uma ideia do que se trata a canção. Com a letra na mão (ou seria no coração?) partimos para coisas mais técnicas.

ESTRUTURA DE COMPOSIÇÃO DE MÚSICAS TARAB

Existe uma Estrutura “mais ou menos fixa” nas composições que é a seguinte:

– História

– Detalhes da História

– Lamento

– Solução/Resignação

Esta forma (exceto pela primeira e quarta partes) não é, necessariamente, linear. Às vezes, há a história, detalhes, lamento, mais detalhes, repetição da história, etc…

Existe, por convenção, nas composições Tarab, a supervalorização do Virtuosismo e do Improviso, portanto, no momento da execução, uma composição que tinha, originalmente 20 minutos, passa a ter 40, 50, porque “o clima” ou “o momento” impulsionaram músicos a estender um Taksim ou um Mawal. Mais uma vez, “Depende”.

Já temos a letra “dissecada”, separados os “Quatro Momentos”, portanto, já podemos pensar em técnica.

Quais são os instrumentos que fazem os “Taksims” (Improvisos)? Como estes instrumentos devem ser interpretados ? Qual a diferença entre um “Violino Lamento” e um “Violino contando a história”? E, a medida que conhecemos melhor a música, a dança vai se formando dentro de nós.

TÉCNICA RECOMENDADA

Técnica recomendada seria a mesma coisa que “Gramática recomendada”. Se a pessoa que escreve não tiver uma “boa ideia”, não há gramática que dê jeito! O que é a expressão a final? Etimologicamente falando, é a “ação de demonstrar uma coisa implícita” se falarmos de sentimento, o que é a expressão na Dança do Ventre? É a ação de demonstrar um sentimento, certo? Então, se o sentimento for “não tenho ideia do que estou fazendo”, esta será a expressão, da mesma forma que, se o sentimento for “é uma delícia dançar”, isto será o que “está na cara”. Então, a técnica é uma coisa que se usa para expressar uma ideia (qualquer técnica, qualquer ideia)…

Uma menina pode dizer à outra “Eu gosto dele, sabe… mas tipo… sei lá, me faz tipo meio mal… eu queria sair com o cara mas… daí depois eu fico, tipo esperando que, sei lá, ele venha atrás de mim… sei lá… eu…”, e a Clarice Lispector disse “Gostaria de poder continuar a vê-lo, mas sem precisar tão desesperadamente disso!”. O sentimento das duas é o mesmo, mas a Clarice tem “Técnica para Expressá-lo”, a outra menina, não. Então, posso afirmar que não há sentimento que fique belo em sua revelação, sem que haja técnica para revelá-lo.

E, já que falamos em etimologia, o que é “revelar”? É “velar uma vez mais” para que a coisa possa ser vista, como se você tivesse a sua frente uma maçã invisível que, coberta com um véu, através do véu, fosse possível ver, sutilmente, que ali há uma maçã! A “Revelação” implica em um tempo e um desejo do interlocutor, de ver o que está sob o véu, é uma coisa diferente de “mostrar”, mostrar é uma coisa para se fazer “em sala de aula”, “isso aqui se faz assim!”, para o público (o Publico!!! Eles sim, eles é que contam!) fazemos “revelações” e não “demonstrações”. Isso é Dança do Ventre! É desafio, exposição, revelação, é Tarab, sou eu, você e todos os ventres do Mundo. Ensinar? Tenha a confiança de suas alunas, se entregue a elas e aperte, aperte, aperte, que sai!

Aluna? Professora? Ou seríamos, todas, os dois?

Tem duas frases que explicam muito do que eu sinto sobre o Magistério: “Só aprende quem ensina e só ensina quem aprende” (autoria desconhecida) e “A única via eficiente de transmissão de conhecimento é a afetiva” (esta, de minha autoria). Ou seja, pra ser uma professora “razoável”, 1 – Tem que continuar aprendendo e 2 – Tem que ter amor pelas meninas. Partindo destes dois pontos é que vem todo o resto!

Quando a menina está pronta pra dar aulas?

– Quando tiver (muita!) gente pendindo “Me ensina!”

– Quando ela tiver um conhecimento “Amplo” sobre DV (até mesmo sobre os assuntos que não domina com propriedade, para que possa reconhecer e indicar quem o domine, de acordo com os questionamentos que surgirão de suas alunas).

– Quando “Mamãe dizer que pode”. Isso, pra quem tiver uma “mamãe”.

Entretanto… O que leva uma menina a querer “virar professora” costuma ser um outro – paupérrimo! – argumento: “Levantar uma graninha pra ajudar a bancar a Dança do Ventre”. Já pensou se a moda pega? O sujeito que faz medicina, por estar gastando muito com sua formação “resolve virar médico”? E esse é um ponto do texto que alguém vai dizer “Ah, mas não tem nada a ver!” Pois é… tem sim! Pra mim, tem! Se eu fosse médica, administraria minha carreira, exatamente, como administro: Com profissionalismo e seriedade, me mantendo atual, sem abrir mão das “técnicas tradicionais” que acumulei no decorrer da minha experiência…

Vou brincar com a analogia do médico: A bailarina que tem “Naima Akef Centrismo” é como um médico que deseja trabalhar com Lobotomia e Sanguessugas em 2013. Simples assim! Tem que saber quem é a Naima, conhecer a técnica dela, estudar, adaptar o que ela fazia ao seu corpo e ao seu tempo. E mando outra frase de efeito: “O artista que não é de seu tempo não está em tempo algum!” (não me lembro onde ouvi) e um trecho de uma música da Oum Kalthoum que a Suhair Zaki cita em uma entrevista: “Se você quer voltar aos velhos tempos, pergunte a eles se ele podem voltar!” (e essa é muito boa!).

Então, aquela aula “Sente a música e segue aí!” é a “nossa Sanguessuga”, já foi! Foi legal! Ensinou muita gente mas… Foi há muito tempo, agora, é uma outra coisa! A aluna joga um negócio que você cita no Google e na semana seguinte traz mais informações do que as que você mesma tem… E daí? E daí que, se “na casa dela, sem gastar um real” ela tem “o mesmo que você”, você perde uma aluna e ela está certa e seguir seu rumo! Se”o seu rumo” for um devaneio da aluna, melhor ainda pra você! Você ganha em perder!

Uma vez, no exterior, dei uma aula (polêmica…) teórica sobre Oum Kalthoum e uma aluna disse à contratante que “tudo que eu havia dado na aula ela poderia encontrar na Internet” e eu disse “Peça a ela, por gentileza, mandar os links que eu devolvo o dinheiro dela e da turma inteira!”. Bom… Europa, foi literal! Ela disse, mesmo, à menina e esta, nos dias que se seguiram, me escreveu, pedindo desculpas. E a sua aula? É sua? O que você chama de “pesquisa”? Vale refletir…

Eu acho que nasci para o Magistério! A primeira coisa que eu quis ser na vida foi professora! Nesta minha “fase bailarina” eu dou aula de dança, quando esta passar, darei aula de outra coisa mas eu, particularmente, preciso ensinar, se não eu explodo, eu acumulo demais, não cabe em mim, eu tenho que passar, é um dom, mesmo, ao qual sou muito grata! E, mesmo acreditando nisso, quando me convidaram pra dar aula pela primeira vez (o que eu achei ótimo porque, se Dança do Ventre é caro hoje, vocês não imaginam o que era esse “caro” há 20 anos atrás!) e eu liguei para minha (eterna, única, insubstituível) professora, a Layla que me disse: “É cedo pra você, Jade!” eu insisti! “Mas a moça quer!” e ela “O que é seu nesse mundo é só seu e te aguarda!” eu perguntei “Quanto tempo eu preciso mais de aula?” e ela disse “Um ano! Peça pra ela te ligar de novo daqui há um ano!”. Eu, confesso, meio frustrada, sem botar muita fé, liguei pra moça e disse exatamente o que a Layla mandou dizer. Um ano depois, a moça me ligou de novo e foi como eu consegui meu “primeiro emprego na Dança do Ventre”. Com mais de 6, 7 anos de Magistério mais a “bênção” da Layla. Fui lá: confiante, com uma professora que eu amava e que me amava também para me orientar neste início. Eu comecei assim!

E como foi que eu banquei a Dança até “o dinheiro começar a entrar”? Trabalhando, ué! Do jeito que as pessoas da minha classe fazem para aprender as coisas… Trabalhando, economizando, tendo prioridades…

Eu vivo de Dança do Ventre há apenas 6, dos 22 anos que eu danço. Por que? Porque, como conta minha mãe, a primeira coisa que eu disse na vida foi “Eu não quero!” e pra poder dizer tantos “Eu não quero” (não vou, não faço, não gosto…) que eu disse – e continuo dizendo! – na minha carreira, eu precisava de uma fonte de renda porque, com o Sapato furado você tende a “topar” muito mais do que com a sapateira em dia (e aqui, caberia uma “piscadinha”!).

Já crescidinha, durante o exercício de minhas diversas profissões, queria ser musicista, estudei piano, canto, queria ser regente… Só que a sociedade está “andando” pro que você gosta ou deixa de gostar de fazer! Ela te paga pra fazer o que você faz bem! E é por isso que eu sou bailarina! Porque danço direitinho! Olha que simples! A música? O que sei sobre música (foram 7 longos anos de conservatório pra “nunca ter pisado num palco pra tocar”!) é o que nutre minha personagem, é o que “assina” a minha dança, então, não houve o “tempo perdido” e eu continuo envolvida com música, canto uns bolerões em família, “tiro uma onda”, virou diversão, atividade “extra”. Agora, se eu dou aula de música? Não, claro que não, por razões muito simples: O que sei não é suficiente, tem gente muito melhor que eu pra ensinar isso, porque não tenho “Campo” e porque não faria aula de música comigo mesma!

E lá vou eu falar de opinião de novo! Esta é SÓ a minha opinião! Acho que a menina tem que se questionar, sabe? E, de onde tirar o dinheiro que se gasta com Dança do Ventre? Do seu bolso, oras bolas! De pessoas que desejam aprender um negócio que você ainda não está pronta é que não deve ser!