HAJA RECEITA COM LIMÃO!

Todas vendemos limões. Ponto. A Dança que escolhemos praticar tem 9, 10 passos “Tradicionais” (por falta de palavra melhor…) o resto é tudo “inventol”. Dança do Ventre é e sempre foi OPINIÃO E MODA (não aguento mais afirmar isso ao silêncio! mas, juro, é só isso!) e o que está acontecendo é que, nesse momento, tem uns 100.000 “Neguinhos” vendendo limão e, daí, fica uma discussão sobre “o melhor limão”, por uma razão (q deveria ser muito óbvia!) de Mercado, de Demanda e Procura, é uma conta que não fecha… Tem muita bailarina pra pouco espaço pra dançar, daí, começa uma histeria…


HISTERIA I: O tal do Ballet e sua “brusca entrada na DV”. Mentira… O Ballet sempre esteve entre nós, mas, como é “opinião e moda”, teve um período q virou Moda e todo mundo copiou. Só isso… Pergunto: VOCÊ, bailarina “inconformada” com a possível “evolução da DV”, tá fazendo o que você acha que é Tradicional? Paga suas contas? Sim? Que bom! Não? Que merda… Eu trabalhei na Indústria Fonográfica por 7 anos. Gostava de fazer, exclusivamente, um trabalho, que era Restaurar/Remasterizar/Masterizar CD´s. Bom… o formato CD “quebrou”, eu não me atualizei, não aprendi outras coisas e fiquei “irrelevante no Mercado de Áudio”, perdi meu emprego e fui “procurar minha turma”. O que há de tão “inaceitável” em mudar de idéia? De menina, eu queria ser musicista. Estudei piano clássico por 7 anos (esse 7 vive na minha vida…) e canto e era uma musicista bem medíocre, sinceramente… Daí, diante do risco de ficar em casa, vendo meu piano empoeirar, dando chiliques porque o “jeito de tocar piano não é mais o que eu gosto de fazer” ou ainda “porque eu preciso de um tempo MEU para tocar o que EU gosto”, deixei pra lá… Continuo envolvida com música, fiz, faço aulas, sempre q posso por absoluta paixão, não dependo da “aprovação” de ninguém pra fazer música. Faço o que gosto, quando quero, quando posso. Por que não?
Com a DV, no meu caso, foi o contrário… Eu só queria fazer “alguma coisa com o corpo” e deu no que deu… Não sou EU quem escolhe, é o PÚBLICO!


HISTERIA II: “Ai que saudade de 1940”. Bom… pra esse grupo eu tenho uma péssima notícia: Os anos 40 não voltarão… Desculpe! E vou citar um fulano cujo nome não decorei, um artista plástico que disse na TV “O artista que não é de seu tempo, não é de tempo algum”. Acho uma PUTA SACANAGEM quando me elogiam “porque sou antiga”, sinceramente, isso me ofende, sabia?: “No nosso tempo é que era foda!” MENTIRA! Sempre teve bailarina boa, ruim, média, periguete, louca… só aumentou o número de cada categoria e eu, particularmente, sou muito mais eu hoje do que há 20 anos, em todos os sentidos. Se eu danço bem é porque eu danço bem e não porque “pertenço a uma geração bla bla bla” porque na minha geração (na sua, na sua, na sua e na sua também!) sempre teve as “figuras de hoje” e eu acho injusto (injusto demais!!!) colocar todo mundo que dança há 20 anos na mesma “Categoria” (éramos foda pacaraio) e todo mundo que começou agora, numa outra mesma Categoria que é “magra, siliconada e dança fusão”. As duas afirmações são ABSOLUTA MENTIRA porque eu “estava lá” há 20 e tantos anos e já tinha, SIM, bailarina “gostosa q se dá bem sem dançar grandes coisas” etc… E estou aqui AGORA (Caralho!!!!) e se faço alguma coisa bem hoje, com experiência, junta essa experiência a uma ralação diária e o desejo de fazer bem. Daí há quem diga “Mas você é a Jade, você pode”. Só que é o contrário! Eu só sou “A Jade” porque faço do jeito que faço, porque meu foco foi, é e sempre será o mesmo, mesmíssimo: Cairo, Egito. Ponto.
HISTERIA III: Estética X Qualidade. E, já deixo aqui um desafio: Pra esse bando de gente (sem assunto, sem problemas, sem macho, sei lá…) que fica dizendo que “hoje em dia a menina tem um corpo ‘feito a base de plásticas e silicone’ e é ‘seca’ e fica famosa, trabalha mais que bailarinas maravilhosas que não tem a estética ‘padrão'”. Meu desafio: Me diga UM NOME! Um que seja! Pode ser por inbox, não precisa “se arriscar” (mundinho de merda que todo mundo tem um monte de opinião grosseira sobre tudo e fica nessa baixaria de “indiretas e insinuações veladas”) diga o nome! Melhor! Não contrate, não faça aula com ela, afinal, é só “mais uma gostosa” na DV. Simples, não?


HISTERIA III: Técnica X Sentimento
UMA MOÇA QUALQUER DIZ: “Tipo… meu… assim… eu, tipo, cara, gosto do cara, tá ligado? Só que tipo, meu, ‘hello’… eu quero ver o cara, mas, mano… ‘oi’ depois o eu fico, sei lá… sabe, assim? meio quase q, tipo com uma – como chama… como chama… lembrei! – quase dependencia (sem acento!) do mano que, tipo, cagou pra mim e eu, meu, hello, né?”
DAÍ A CLARICE LISPECTOR DIZ: “Gostaria de poder continuar a vê-lo, sem precisar tão desesperadamente disso!”
O “Sentimento” é o mesmo, a diferença de um e outro discurso, é a “Técnica” (nesse caso, com a Língua Portuguesa, com Gramática, Ortografia). Sentimento sem técnica, só quem aguenta, minha filha, é quem te ama! Ou o FDP do psicanalista q vc paga pra te ouvir dizer seus devaneios.
Vendemos limões! É preciso ter sinceridade com isso, sabe? Ver o seu trabalho, o nosso trabalho, de um modo um pouco mais profissional… Então, se vale aqui um “Toque”, olhe mais pra vc, pra sua história, veja, de verdade, se VOCÊ está oferecendo o tal do “Super limão, delícia, tradicional, com sentimento” que você tanto busca OU administre a dança em você de um modo que seja saudável! Deixa o novo entrar! A verdade tem perna longa, a verdade sempre vence! E, (ISSO É A COISA MAIS IMPORTANTE DESSE POST! TOMARA Q VC TENHA CHEGADO ATÉ AQUI!) meta nessa sua cabecinha que a sociedade não paga NINGUÉM pra fazer o que quer, a sociedade paga as pessoas para fazerem o que ELES precisam, entende? Pagam vc pra fazer o que vc sabe!Entende que não é a manicure que escolhe a cor do esmalte? Entende que não é o padeiro que decide qual é o “melhor pão”? Então, faça o “pão que vende mais” (é um caminho!) ou, faça um pão que SÓ VOCÊ FAZ! (é outro caminho, bom também!) ou vc pode fazer pão (ou vender limão….) pra quem te ama e acha tudo q vc faz lindo e dar um jeito de pagar suas contas com alguma coisa que alguém queira comprar, pode ser?
Limão é tudo limão!

Sentimento, Técnica, Talento, Esforço…

Sabe o “Rebento” do Gilberto Gil? (“Rebento, a reação imediata, a cada sensação de abatimento… Rebento, o coração dizendo ‘Bata’ a cada bofetão do sofrimento… Rebento, esse trovão dentro da mata e a imensidão do som nesse momento”) na voz da Elis Regina? Já ouviu? Ali tem tudo de bom: composição, execução, arranjo e… a Elis “rebentando” afinadíssima enquanto canta e isso é o que compõe uma obra, esse molho, esse conjunto de coisas!

Clarice Lispector (leitura-experiência obrigatória para os que sentem) sem gramática e ortografia muito bem afinadas teria guardado boa parte do que sente para si. E nós? Como ela poderia contar pra nós? O que seria de Clarices, Elises e Gils sem a técnica? Eles iam ficar ali sentindo e a gente aqui, do “lado de fora”?

“Não durmo, não durmo, não durmo. Jazo cadáver acordado, sentindo… passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada, todas que me arrependo e me culpo e não durmo” (Álvaro de Campos). Como sempre tive insônia, sempre senti isso “Jazo cadáver acordado sentindo, etc.” mas, pra dizer isso, pra sentimentos virarem palavras, foi preciso a “presença de Álvaro” e seu estilo cortante, profundo, sucinto, sua intimidade com as palavras, pra escrever o que sentiu e o que eu também senti e sinto.

E assim é na dança também. Imagine Mikhail Baryshnikov, Denise Stocklos, Fifi Abdo, Ana Botafogo, entre tantos outros, sentindo nada ou só sentindo, como teriam imprimido em nossa alma tudo o que sentimos quando os vemos dançar? Há quem diga que é o talento, ou o esforço ou ainda que “nasceu de quina pra Lua”, mas pra mim é a soma: sentimento + técnica + talento + esforço (nem sempre nesta ordem) mas estas coisas não caminham solitárias, separadas. O “Esforçado sem talento”, o “Talentoso preguiçoso”, o “Bom de técnica sem sentimento”, o “Cheio de sentimento sem muita técnica” (no caso destas pessoa existirem) somente passando o olho nesses rótulos já sentimos que “falta alguma coisa” e falta sim! Falta o “resto” e cada um tem o seu “resto” pra buscar. Além disto, tem o momento de cada coisa. Eu já elogiei alunas que achei muito boas – pra quem estava começando! – e, a partir do meu elogio o “muito boa” virou “pronta”, virou “você não precisa fazer aula” e não era nada disso, não existe artista que esteja “pronto”, especialmente na visão dele mesmo e é assim que, na minha opinião, deve mesmo ser porque a gente sempre pode melhorar e, por outro lado, claro, a gente sempre pode, também, piorar.

Aproveitando a presença da Clarice: “Renda-se como eu me rendi, mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo entendimento”.

El Tarab…

Nada que diz respeito ao Mundo Árabe é possível de ser colocado em um envelope, lacrado e etiquetado. Política, Religião e Tradição se entrelaçam o tempo todo. Dentro da Tradição, existe a Cultura e, dentro da Cultura, a Arte, ainda entrelaçada com estas “outras coisas”, assim são a música e a dança árabe: Tudo depende… É Tarab? Depende… E este é um bom jeito de começar a ensinar, explicando que não será possível aprender uma coisa só. “Só Tarab” ou “Só Religião”, não, não dá…

Existem alguns cantores e compositores que trabalharam somente dentro deste “ambiente”, como é o Caso da Oum Kalthoum. Tudo que Oum Kalthoum canta é, obrigatoriamente, Tarab, por ser ELA cantando, então, qualquer música que tenha sido cantada pela Oum Kalthoum é Tarab? Não, não é. Se for feito um “remix” de uma música, tirando dela características originais de arranjo e composição, bem como somando outras, pode ser que permaneça sendo Tarab ou não.

O que não é Tarab? Esta é fácil!: Folclore, fusion, shaabi, moderno, Ocidental. O que é Tarab? É um Universo, é uma Sensação, é um “Elevar-se”, é um Portal, um portal que não pode ser visto de longe, é uma fonte, uma fonte que não aceita cantis, uma fonte onde somente é possível mergulhar ou admirar de longe, muito longe.

Há alguns bons anos, uma bailarina dançar um “Tarab” seria a mesma coisa que a Carla Peres fazer uma performance com uma música do Paulinho da Viola. Não agradaria nem aos fãs de Paulinho, nem de Carla Peres, seria o cruzamento de dois Universos, até então, Paralelos. Até que Suhair Zakie decidiu incluir músicas da Oum Kalthoum em seu Show e, como é comum às grandes estrelas como a Suhair, passou a ser permitido. Assim é a Dança do Ventre: Uma estrela autoriza e todas nós, “mortais”, podemos experimentar, como foi o caso da Fifi Abdo com Shishas e insensos, como foi a Dina, com relação aos figurinos, Madame Suhair Zakie, para nossa sorte disse “Sim, pode!” e, agora, pode.

Depois de algumas discussões sobre o Contexto Histórico destas composições (discussões sobre História e Geo-Política no Oriente Médio, bem como língua árabe), em sala de aula, podemos seguir alguns passos para, absolutamente nuas, mergulharmos nesta Fonte e, quem sabe, experimentar este mistério que é o Tarab…

A LETRA

Eu e, por consequência, as bailarinas com quem trabalho (de quem sou professora ou orientadora), no caso de músicas cantadas, partimos da letra. Conhecendo algum “Vocabulário Romântico” em árabe já é possível ter uma ideia do que se trata a letra, este conhecimento, somado à uma mão do nosso “Senhor Google” e Voilà! É possível ter uma ideia do que se trata a canção. Com a letra na mão (ou seria no coração?) partimos para coisas mais técnicas.

ESTRUTURA DE COMPOSIÇÃO DE MÚSICAS TARAB

Existe uma Estrutura “mais ou menos fixa” nas composições que é a seguinte:

– História

– Detalhes da História

– Lamento

– Solução/Resignação

Esta forma (exceto pela primeira e quarta partes) não é, necessariamente, linear. Às vezes, há a história, detalhes, lamento, mais detalhes, repetição da história, etc…

Existe, por convenção, nas composições Tarab, a supervalorização do Virtuosismo e do Improviso, portanto, no momento da execução, uma composição que tinha, originalmente 20 minutos, passa a ter 40, 50, porque “o clima” ou “o momento” impulsionaram músicos a estender um Taksim ou um Mawal. Mais uma vez, “Depende”.

Já temos a letra “dissecada”, separados os “Quatro Momentos”, portanto, já podemos pensar em técnica.

Quais são os instrumentos que fazem os “Taksims” (Improvisos)? Como estes instrumentos devem ser interpretados ? Qual a diferença entre um “Violino Lamento” e um “Violino contando a história”? E, a medida que conhecemos melhor a música, a dança vai se formando dentro de nós.

TÉCNICA RECOMENDADA

Técnica recomendada seria a mesma coisa que “Gramática recomendada”. Se a pessoa que escreve não tiver uma “boa ideia”, não há gramática que dê jeito! O que é a expressão a final? Etimologicamente falando, é a “ação de demonstrar uma coisa implícita” se falarmos de sentimento, o que é a expressão na Dança do Ventre? É a ação de demonstrar um sentimento, certo? Então, se o sentimento for “não tenho ideia do que estou fazendo”, esta será a expressão, da mesma forma que, se o sentimento for “é uma delícia dançar”, isto será o que “está na cara”. Então, a técnica é uma coisa que se usa para expressar uma ideia (qualquer técnica, qualquer ideia)…

Uma menina pode dizer à outra “Eu gosto dele, sabe… mas tipo… sei lá, me faz tipo meio mal… eu queria sair com o cara mas… daí depois eu fico, tipo esperando que, sei lá, ele venha atrás de mim… sei lá… eu…”, e a Clarice Lispector disse “Gostaria de poder continuar a vê-lo, mas sem precisar tão desesperadamente disso!”. O sentimento das duas é o mesmo, mas a Clarice tem “Técnica para Expressá-lo”, a outra menina, não. Então, posso afirmar que não há sentimento que fique belo em sua revelação, sem que haja técnica para revelá-lo.

E, já que falamos em etimologia, o que é “revelar”? É “velar uma vez mais” para que a coisa possa ser vista, como se você tivesse a sua frente uma maçã invisível que, coberta com um véu, através do véu, fosse possível ver, sutilmente, que ali há uma maçã! A “Revelação” implica em um tempo e um desejo do interlocutor, de ver o que está sob o véu, é uma coisa diferente de “mostrar”, mostrar é uma coisa para se fazer “em sala de aula”, “isso aqui se faz assim!”, para o público (o Publico!!! Eles sim, eles é que contam!) fazemos “revelações” e não “demonstrações”. Isso é Dança do Ventre! É desafio, exposição, revelação, é Tarab, sou eu, você e todos os ventres do Mundo. Ensinar? Tenha a confiança de suas alunas, se entregue a elas e aperte, aperte, aperte, que sai!

Visual – Tradição, mito e modismo

O visual da bailarina árabe é e sempre foi moda. Nos anos 50, era aquela estética “pin-up” (cabelo curto, enrolado pra dentro, carinha de menina e beicinho). Assim faziam Samia Gamal e Marilyn Monroe. Nos 70, cabelão “fofo”, feito no bob, sobrancelha quase depilada e delineador carregado – assim eram Aza Sharef e Catherine Deneuve. Nos 80, era o horror! Cabelo pigmaleão, tudo bufante, tudo fofo, tudo sintético; assim eram a Fifi Abdo e o resto do planeta (engraçado como moda “feia” anda mais rápido e mais longe, não?). Nos 90, uma confusão! Um pouco de vontade de voltar para os 70, somada a um “chute” do que seriam os 2000… tudo era “meio New Wave”. Assim era a Dina e também o resto do mundo.
Ou seja, o “visual tradicional” é mais um mito. Nunca existiu! E a moda é o que sempre foi: vai quem quer! Nós artistas? Bom… no nosso caso, “vai quem quer ter sucesso”, porque “enfiar o seu desejo goela abaixo do seu público” é que não vai funcionar, mesmo! Eu vejo pela rua pessoas vestidas de “sei lá o quê” e acho legal! Que legal que a pessoa veste o que quer, mas só vai até aí… até o “Que legal!” e ponto.
A estética atual é quase Drag Queen! Eu percebi isso há alguns anos, vendo um Carnaval Gay na TV. Parecia um Festival de Dança do Ventre! De repente a ficha caiu! É a estética do “ou tem ou compra” (cabelo, bunda, peito, pele etc.). Assim somos eu, a Beyonce, a Dina, a Madonna. É uma escolha estética. É um direito ao uso do próprio corpo.
Eu gosto! Eu gosto muito! Eu acho que se uma mulher como eu não puder fazer o que bem entende com o corpo, sendo livre, artista, polêmica, feminista e feminina, que será das “mulheres comuns”? Hoje em dia, somos atendidos por médicas e advogadas que têm silicone, megahair, tatuagem, piercing… é moda! Ainda e de novo… é moda!
Quando a Dina veio ao Brasil, em 2005, ficou muito impressionada com a qualidade das alunas aqui e fez dois comentários: “se as brasileiras aprendessem árabe, não teria pra ninguém!” e “por que vocês usam roupas dos anos 90?”. Eu, muito atenta e sempre “louca pela Dina”, parei pra pensar sobre isso e, em mim, suas palavras causaram um “impacto” muito grande. Nestes nove anos eu “reinventei minha personagem” e aprendi árabe direito (hoje falo com fluência, graças a Deus!) e, a partir desta reinvenção, tive mais sucesso e, consequentemente, passei a ganhar melhor.
Então, eu não engordo, não uso roupas “noventistas” (franjas, mangas, coroas, coisas passando pelo corpo, coisas “fofas”, em geral), e gasto uma porcentagem bem alta do que ganho com meu cabelo, pele e alimentação, pois percebo que isso é bom para mim! Então, a estética boa para mim é essa que vocês estão vendo: peitão, pernão, cabelão, roupa colada no corpo e, claro, continuo estudando e aprendendo todos os dias, porque esta “reforma”, se tivesse sido feita “só do lado de fora”, teria tido o efeito contrário, eu teria “piorado”, teria “perdido a essência” e sabe-se lá mais o que teriam dito. Quando uma menina decide mudar, tem que mudar de dentro pra fora!
E tem também a questão da idade! Se uma menina de 20 anos engordar, dirão “Fulana está gorda!”; se eu engordar, dirão “A Jade está velha!”, e eu sou muito mimada por esse mercado! Minha autoestima não toleraria uma “rejeição” dessas e iria influenciar em meu trabalho.
Eu não só “concorro” com meninas 20 anos mais novas que eu, como também, com meninas que cobram metade do que eu peço (ou menos, ou nada; algumas até pagam, que eu sei!) e não sou a pessoa “mais diplomática do mundo”, muito pelo contrário. Esta minha “autenticidade” me custa bem caro! Então, a mim, que sou ruim de política, de jeitinho, de diplomacia, e exijo mais que a média, tanto de alunas quanto de contratantes, me resta estar sempre no meu melhor estado! O seu melhor estado é aquele que te faz sentir confortável com você mesma, com a roupa que você deseja vestir, executando a técnica que você escolheu. Então, há que se “buscar este estado” e mantê-lo! Tem gente “do lado de fora” que não entende bem isso, que me vê dizer “não” para algumas guloseimas, comentar “Hoje eu não como, porque à noite tenho Show!”, e brinco, digo, “Olha, segunda-feira, você estará de pé às 7h! Eu durmo até as duas! Você tem ‘bônus’, seguros, ticket. Eu não! Uma juíza não pode ter tatuagens nas mãos. Eu tenho. Ela pode pesar 120 kg. Eu não!”. É meu trabalho, meu trabalho exige e pronto. Tanto quanto exige que eu dê aulas de 6 horas, depois de voar por três, tendo acordado às 5 horas da manhã, tudo isso de bom humor, maquiada, com a aula na ponta da língua! Eu concorro (e muito) comigo mesma! O show de amanhã tem que ser muito melhor que o de ontem! Na técnica, na essência, na estética, em tudo que pode ou não ser avaliado, especialmente, por mim!
O que eu acho de bailarina gordinha, de cabeça raspada, de dread, roupas dos anos 90 etc? Eu acho que todos nós temos direito de escolher a “cara da nossa bailarina” e ir atrás disso, porque esse papo (furado – já falei muito disso ultimamente!) de Sentimento OU Técnica, como se fossem coisas opostas, como Beleza OU Técnica é só isso mesmo, papo furado! Porque “o cara que paga a conta” está “andando” (gerúndio que mantém o nível deste texto!) pros seus sentimentos ou aulas ou genética, ele quer TUDO e é esse tudo que eu quero oferecer! Tem gente que me ama, tem quem odeia também, mas a turma do “ama” é a que me importa. É para eles, somente para estes e para os que “vêm abertos” que eu trabalho, que eu danço, que eu escrevo.
E, principalmente, pra você que, mesmo com um ou outro engasgo, chegou até o final deste texto e, quem sabe, querendo, possa também se reconstruir (primeiro dentro!) e gozar no final!