Ele está no meio de nós

Desde sempre, investimos nosso tempo e dinheiro para arrasar no palco. Tudo que fazemos, da escolha da bijoux ao perfume, é pensando no que funciona bem no palco. Ultimamente, temos falado muito sobre “comportamento de coxia”. Assunto abordado entre as “Dicas” do meu último DVD, lançado em abril p.p.

Falamos sobre ter classe, bons relacionamentos, estar sempre bem arrumada, ser pontual, evitar tititis, etc etc etc…Tudo ou quase tudo que se fala sobre Camarim é dirigido às meninas, já que estas são maioria, certo? Sim… só que, atualmente, estamos dividindo este espaço, quase meio a meio com meninos e alguns pequenos ajustes precisam ser feitos…

Na semana passada, estava em um camarim “misto” e uma moça entrou para me cumprimentar… Quando ela saiu, um menino (artista, claro!) que estava a um metro de mim comentou com o outro “você viu? nem olhou na minha cara! pra quem tava pegando no meu pau na semana passada na rua…” e, como ele repetiu a expressão “Pegando no meu pau” umas três vezes, tão próximo de mim, não consigo imaginar que não fosse, no mínimo “inclusive” pra eu ouvir… E é um cara cujo nome eu, sinceramente, decorei tem uns seis meses… Lá estava ele, “dividindo vicissitudes de sua vida sexual com Jade El Jabel”, coisa que ele poderia, perfeitamente fazer, de outra forma, num outro momento, com delicadeza, e poderia ser uma conversa adorável, já que sou uma mulher que não tem problema nenhum em falar de sexo com homens…

Na semana retrasada, teve um outro evento no qual um grupo de rapazes assumiu uma postura “Gaviões da Fiel” ou “Fundão da Sexta F” que a mim, particularmente, incomodou um pouco. Achei inapropriado, fora de hora e lugar… Não pensei em dizer nada aos meninos por uma simples razão: Tinha uma mulherada junto, dando uma força e muitas pessoas em volta (quase todas, meninas, bailarinas), achando legal…

Na verdade, não estavam achando nada legal e isso virou um comentário geral sobre o evento… Foi quando comecei a pensar sobre escrever esse Texto. Percebi que tem um certo papel social que, sempre, sobra pra mim, nesse Mercado. Não acho correto, não acho legal, quando você gosta de uma pessoa e vê ela tendo um comportamento que não te agrada, simplesmente, não dizer nada…

Numa outra ocasião, um moço entrava “sem querer” no Camarim, naquele corre-corre e, assim, “sem querer” viu algumas meninas se trocando… Depois eu soube que alguém comentou, que alguém soube que isso foi “assunto entre os homens”… Falando em assunto de homens, também circula um Boato, que um grupo de meninos aí tem um Grupo no Watsapp onde eles postam fotos de bailarinas para “avaliação e esculhambação” dos amiguinhos…

Essa conversa do grupo do Watsapp, a mim, particularmente, não incomoda, porque sou uma figura pública e qualquer pessoa no mundo pode destacar uma foto minha e fazer coisa muito pior do que “comentar minha barriguinha”, mas soube de meninas que ficaram bem arrasadas por estarem entre as “selecionadas para avaliação”. Já que nos conhecemos pessoalmente, é, no mínimo mais grosseiro do que fazer isso com foto de estrelas de Hollywood. Com os meninos, mesmo, ninguém falou.

No último Mercado Persa, um rapaz que eu jamais havia visto na vida, pegou um top meu do meu Stand (um Fernando Corona de Mil dólares, diga-se de passagem), sequer olhou na minha cara, com o top na mão, virou pra um moço que estava do lado dele e falou “Aí, fulano, serve pra você!”. Eu disse, didaticamente, “coloca meu negócio aqui de volta, coloca… por favor… obrigada”, que nem com criança… Ele riu muito da “própria graça” e ainda recordou-me o evento quando me encontrou, assim, “tipo” super íntimo, meu brother! Continuo não sabendo quem é…

Outro dia, um menino que, que eu tenha notado, chegou anteontem ao mercado postou um texto enoooooooooooorme, falando da inveja alheia, desabafando seu sufocamento de pop star, assim, seguido por páginas e páginas de comentários, quase 100% deles, claro, de meninas… E eu tinha acabado de elogiá-lo! Pensei “Olha, o menino leva jeito… tá aí, virando alguma coisa!”. Não, não tá… Já tá sofrendo o peso do seu auto-proclamado sucesso…

Tenho visto, da platéia, da coxia e, até mesmo, pelas Redes, Festivais e Shows onde o professor e/ou artista mais bem pago é homem… O cachê mínimo de um músico varia de duas a seis vezes mais que o mínimo de uma bailarina… Os Festivais, no mundo inteiro, têm a Grade de Mestres, cheia de homens.

Ops… Peraí… Então, se eu entendi bem, os meninos estão aí, uns ganhando mais, outros comendo meio mundo, contando pra todo mundo, outros, ainda, não comendo e, também, comentando por aí, esculhambando com as bailarinas, sendo consolados, apalpados, chupados, etc etc etc, no Mercado de Dança DO VENTRE? É isso, mesmo?

Alguns meninos que conheci nos meus 25 anos de caminhada são meus melhores amigos, pessoas com quem posso contar pra qualquer parada, alguns, são pessoas incríveis e esse comportamento (o “escroto”, quero dizer) é reflexo de uma puta boiada que NÓS estamos dando pra eles…

Então, eu não estou aqui para “jogar indireta para os homens”  e sim, para falar, diretamente, com as mulheres: Meninas, como de costume, “sobra pra nós” educar adultos, com atitudes um pouco mais firmes e profissionais. O romance pode, sim, acontecer no trabalho, sempre acontece, somos cercados de casais adoráveis que se formaram no meio da Dança do Ventre, mas acho que putaria (e isso não é um texto de “caráter Moral”, digo “putaria” como uma coisa natural aos solteiros, os fervidos, os que estão na pista, nada que seja da minha conta!) então, putaria pura podemos deixar pra fazer “lá fora”, não? É um pouco mais seguro para todos, porque eu já vi dar cada merda… mas, cada merda… Acho que não preciso dizer que “o cara que come todo mundo” não se prejudica no seu trabalho como a “moça que dá pra todo mundo”, preciso?

O que valida o que um artista diz é sua obra, dentro da Arte, portanto, um cara que tem 15, 20 anos “de praça”, toca, dança, ensina, tudo isso, muito bem, quando ele faz alguma “cagada”, o seu histórico de carreira, sua Obra, pode tornar essa cagada, até, um pouco charmosa e talvez seja por isso (pela minha obra) que eu possa dizer as coisas que digo, porque “o meu tá feito”, porque meu trabalho eu faço muito bem, nunca estacionei, nunca parei de estudar e sou, de fato, uma pessoa famosa em nosso meio.

O que acontece é que o que eu vejo é mais o contrário disso, quanto menor a obra e o sucesso, maior o barulho e acredito que ainda haja tempo de refletirmos, meninos e meninas, sobre essa convivência, sobre os deliciosos frutos que podemos, a longo prazo, colher juntos.

Saindo um pouco dessa questão “machista” ou “machuda”, ou ainda, “machenta” dos meninos, quero falar da acensão e destaque dos meninos da Dança do Ventre (eu não sei se tem algum hétero que dança, não reparei, se tiver, me adianto no pedido de desculpas ao referir-me a vocês com certas liberdades!).

Enfim, as bichas… As bichas estão arrasando, sim! Algumas delas porque dançam muito, outras, porque têm carão, outras porque têm contatos, igualzinho às meninas e, ainda assim, tenho visto da platéia, shows onde o destaque da noite é um menino. Como foi que isso aconteceu? Explico: (hoje eu tô explicando tudo!) Aconteceu que as meninas deixaram de lado o fato de ser mulher e a maravilha que isso é, especialmente, na Dança do Ventre, quando se desfocaram do Ventre e passaram seu foco para braços, giros, força e aquele shimmie “duro/grande/seco/e só”, todas estas, coisas que um corpo masculino faz com mais facilidade, já que tudo depende de força. Olha que simples!

Eu acho que vale a pena pensar (e essa parte, sim, tem um caráter político) que os Cabeleireiros, Maquiadores, Estilistas e Chefes de cozinha, por exemplo, que “vieram pro lado de cá” bem depois de nós, hoje em dia, em muitos casos, têm mais êxito e Status do que mulheres com as mesmas habilidades, enquanto a Marta, da Seleção feminina de Futebol (que foi escolhida como melhor futebolista do mundo por cinco vezes consecutivas, um recorde entre mulheres e homens) ainda não está nas “Mesas Redondas” cagando regra pros homens, ainda que ela, por qualidade comprovada, embolse 3 ou 4 jogadores da Seleção, juntos!

Então, como acontece com os meninos, músicos e bailarinos de folclore árabe, com a maioria dos outros meninos (os da Dança do Ventre) tenho um ótimo relacionamento, tive a honra de amadrinhar um evento feito só pra eles (que foi incrível, diga-se de passagem), não é com eles que estou falando, é com as meninas, de novo…

Menina, menina… O ventre! É do ventre! Não é do joelho, não é do braço, não é da força, não é do impacto, a Dança é do Ventre! Não é uma questão de gosto, nem de estilo, é uma questão de sucesso, prestígio e, consequentemente, grana! Que tal aplicar este “carinho sensual” um pouco mais, NO palco e um pouco menos fora dele? É a mesmíssima energia, o mesmo fogo, focado em você, para o público e não para o “habibi” que acaba de chegar? O problema é maior onde falta, até, do que onde sobra!

Os homens são muito bem-vindos! A chegada deles (machos e bichas) sempre traz consigo uma festa, um frisson, um ruído, é uma mudança perceptível do Astral, para melhor! Por mim, os meninos ficam, sim, claro, e que venham muito mais, mas isso não quer dizer, de jeito nenhum, que nosso espaço esteja à sua disposição! Enquanto estiver por aqui, ainda, apóio, e muito a presença deles, mas eles têm que saber que estão na nossa casa e não o contrário. Xixi de porta aberta, meninos, não, não pode!