Perfeccionismo e Preguiça

Apesar de opostos, no exagero, ambos acabam nos levando ao mesmo lugar: Parar, estagnar. Aqui vão algumas dicas:

PERFECCIONISMO
“Ninguém é perfeito, mas todo mundo deveria tentar” rs… não sei onde li isso mas assinei em baixo e já andei repetindo por aí… Do mesmo modo que ninguém é “bom o tempo inteiro”, ou “vive sem falar mal dos outros” etc etc etc mas o esforço em uma direção, seja lá qual for, nos aproxima dela, sempre. Eu nunca parei de estudar, que sempre tenho “uma coisinha” pra melhorar, não considero isso um “defeito”, mas acredito que devemos, ao menos, tentar não sofrer com as coisas (os homens, as amigas, as mães, as espinhas). Temos nossas “coisas” e temos que conviver com elas. Receitinha simples: Ria de você mesma! Sempre que possível. Não supervalorize suas próprias limitações. As pessoas q “atingiram a supremacia absoluta” em qualquer área, se tornaram medíocres, limitadas, no exato momento em q chegaram a essa conclusão. Eu conheço uma meia dúzia delas, esse é um exemplo “real”… Quando for a um Workshop, repare em quem “desiste primeiro” (senta, dispersa, entorta a cara, etc…) normalmente são as q “menos levam jeito” e isto, claro, não é uma coincidência… Não é que “quem dança bem gosta de estudar” e sim, “quem gosta de estudar dança bem”… Já disse antes, vou dizer de novo, só talento ou só “ralação” levam a um lugar, a combinação de ambos, leva a lugares q nem mesmo a gente sonhou pra gente mesmo!

PREGUIÇA

Todo mundo tem (bem como perfeccionismo, mães, homens e espinhas…) então a gente precisa facilitar o caminho pra estudar… Ninguém (quase ninguém, pelo menos) tem disciplina pra “toda terça, das 7 ‘as 9 por uma malha e ir pra frente do espelho”. Então, algumas dicas:
1 – Veja vídeos de bailarinas que você gosta (especialmente egípcias)
2 – Ouça música árabe (muita, muita, muita!!!) As pessoas gostam! Bote no meio dos seus CD’s, não precisa “separar os mundos”, crie o hábito de ouvi-las (se não gosta de música árabe – agora vou pegar pesado! – procure outra atividade q não uma dança árabe!)
3 – Tenha um espelho enorme q não esteja “escondido”, q seja perto de onde você ouve música. Música tocando, você passando na frente do espelho, querendo ou não, vai acabar dançando!
4 -Faça aulas particulares! Sua professora vai te dar lição de casa e, sendo “obrigada” a gente acaba fazendo!

O que eu faço com esse cabelo?

Quem é que nunca acordou com essa dúvida? Especialmente nos casos dos “indecisos”, porque se é liso de uma vez, já amanhece pronto, às vezes o crespo também, não tem muito o que fazer mas tem cabelo que vai “mudando de idéia” conforme o dia, o tempo, e a pergunta vem à mente: “O que eu faço com esse cabelo?”

Sobre os lisos, não tenho idéia, os indecisos, uma vaga idéia, tendo a dizer “Larga esse pente pra lá e vamos ver o que acontece” mas a minha “especialidade” é com os crespos, que também são chamados de “ruim”, “duro”, “étnico”, depende de quem chama. Eu, particularmente, costumo dizer “duro” porque o meu, no caso, é duro, mesmo… Se tem cabelo duro e cabelo mole, o meu é duro e, acredite, eu ADORO! Acho lindo! Ando na rua vejo as negras com aquele duro, DURO, em caixa alta e gosto, gosto das esculturas possíveis de se fazer com cabelo crespo, de coques e rabos gigantes, flores, faixas e todas as possibilidades mas é um cabelo “atitude”, como muita gente me diz, a menina tem que ter atitude pra andar na rua com um cabelo que ocupa mais espaço que os demais mas, como na minha opinião, a menina tem que ter atitude sempre, o cabelo é o de menos.

Como todas sabem, sou bailarina e coreógrafa, nunca estudei nada sobre cabelo mas a experiência de cuidar do meu talvez possa ajudar outras “crespas” quando acordam em dúvida.

CALMANTES

Eu sempre faço alguma coisa para dar uma “acalmada” nele. Fiz relaxamentos minha vida inteira e agora meu cabelo “não gosta mais de relaxamento” tenho feito aquela escova com formol e queratina que dependendo do salão (e do desejo do salão de ganhar mais ou menos dinheiro com isso) tem muitos nomes possíveis. Procure um salão de sua confiança e deixe bem claro que quer manter os cachos. Dá uma boa tratada no cabelo e ele fica menos armado, com mais movimento, além de “render” mais (fica mais comprido!).

LAVAGEM

Não lave todos os dias! Cabelos crespos são naturalmente secos. A lavagem é o primeiro passo do banho porque você tem o tempo do banho para deixar o cabelo “de molho”.

Ao lavar, passe pouco shampoo, massageando suavemente a raiz com as pontas dos dedos em movimentos circulares, enxágüe bem, muito bem! Condicionador 1 (que é mais barato, somente para dar uma “soltada” nele) pode passar à vontade, não “esfregue” o cabelo, aplique os produtos como se estivesse fazendo carinho, desembarace com os dedos e enxágüe bem. Daí vem o Condicionador 2 (que já vale a pena investir um pouco mais) que pode ser, também, um creme mais espesso, de tratamento, daqueles de “pote baixo”. Vá separando o cabelo em mexas, passando o creme desde a raiz, aplicando delicadamente com as mãos. Após a aplicação, faça cachos com os dedos e prenda num coque “frouxo”. Agora, enquanto toma seu banho, o tempo faz o resto. Enxágue muito bem no final. Tire o excesso de água com uma toalha.

LIVE-IN

Crespa “séria” tem, pelo menos, uns 3 diferentes para esse momento! Eu uso várias marcas diferentes, normalmente um mais “cremoso”, um mais “gel” e óleo ou silicone, uso os três ao mesmo tempo, comedidamente. Vá passando o (s) creme (s) e óleo na mão e aplicando delicadamente, cacho por cacho, da região do pescoço para o topo da cabeça, fazendo cachos com os dedos, no final, pode dar uma “amassadinha” das pontas para a raiz, lembrando sempre de investir um pouco mais de tempo e creme nas pontas que costumam ser mais secas. Pente? O que é isso, mesmo? Ah! Lembrei! Pois é… Não uso. Meu cabelo é todo “feito à mão”.

Prontinho! Parece trabalhoso mas não é tanto assim, com um pouco de prática, vai ficando rapidinho. Seu cabelo irá agradecer muito por esse carinho todo, ficando mais leve, brilhante e soltinho.

Não passe “um quilo de live-in e pente” que o cabelo fica com aquela aparência de “pesado” e até mesmo “ensebado”, colado na cabeça, é um desperdício, deixe o cabelo voar, crespo é lindo! “Ruim”? Tem cabelo liso tão “ruim” por aí (mal tratado, sem corte, sem cor) e “Duro”? É, pode ser meio duro, sim mas é lindo! Cabelo duro é lindo, sim! Eu tenho, sempre tive e vocês não imaginam o quanto me elogiam por ele, até mesmo as que alisam! E, se alguém insistir no “Porque você não faz uma chapinha?” você responde (sorrindo!) “Porque meu cabelo é lindo! Duro é o seu coração!” (risos…)

O Larousse disse

O Larousse disse que são:

Humilde: Que está no chão, que não se levanta do chão, pouco elevado. 1 – Que tem ou aparenta humildade. 2 – Simples, modesto, pobre. 3 – Respeitoso, submisso. 4 – Medíocre, reles, obscuro.

Modesto: 1 – Que pensa a seu respeito ou fala de si mesmo sem orgulho, despretensioso, humilde. 2 – Moderado, desambicioso. 3 – Simples, pobre.

Orgulhoso: 1 – Que se orgulha, que apresenta um ar altivo, arrogante. 2 – Ufano, feliz, vaidoso.

Prepotente: 1 – Muito poderoso ou influente. 2 – Opressor, despótico. 3 – Que abusa do poder, tirânico.

Destas palavrinhas, as duas primeiras são comumente usadas para elogiar pessoas e as duas últimas, no sentido contrário. Contrário e oposto, como se estas palavras representassem antônimos umas das outras e não o são.

No sentido oposto do Humilde “que está no chão, pouco elevado”, não está o Prepotente “muito poderoso ou influente”, está o Altivo, que não se conforma ou se acomoda, o que tem força de vontade, iniciativa. Da mesma maneira que, na direção oposta do Prepotente “opressor, despótico” está o Justo, que tem bom senso e respeito pelas pessoas e não o Humilde “respeitoso e submisso”.

E, transitando por uma outra via que esbarra nestas características pessoais está o sucesso e a falta dele. Como já disseram, o dicionário é o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho. O sucesso vem do trabalho bem feito. E não é estar na moda, na mídia, não somente isso e a qualquer custo. É o reconhecimento da qualidade, por si próprio, pelo público e pelos colegas artistas, que traz trabalho e, consequentemente, dinheiro, talvez fama. O sucesso sem qualidade é uma coisa efêmera e escandalosa, é um balão de gás colorido, que murcha e despenca, silenciosamente.

Por outro lado, quando um artista se priva do reconhecimento e possível desfrute do seu sucesso está privando a todas as pessoas e não somente a si mesmo, do acesso e da celebração de sua conquista. Não desfrutando, não ensina nem divide.

Fama, dinheiro, qualidade, popularidade e aceitação, não andam juntas o caminho todo e, transpiração, tempo, paciência, força de vontade, estudo, amor e dedicação se abandonados, ainda que já se tenha conquistado o sucesso, este é mais um balão de gás.

Falando em Larousse:

Sucesso: 1 – Resultado feliz, êxito. 2 – Acontecimento, fato, caso, ocorrência.

Agora, volte para o espelho e Aconteça!!!

Eu perdi uma aluna

Uma não, duas! A primeira, ocupadíssima com sua carreira (e que carreira!) é daquelas mulheres tranqüilas que aos trinta e poucos, formada e muito bem formada, vive com a mãe (muito bem, obrigada!) daquele tipo que “não perde tempo com homens”, bonita, segura, forte, tão forte que pode se dar o luxo de demonstrar uma baita fragilidade e até ser menina mesmo com esse currículo todo.

A segunda, aquele outro extremo, relacionamento conturbado com a família, sempre tem o “grande amor da sua vida” ocupando todo tempo e espaço possível, vaidosa, ansiosa e linda, um ruído constante, pouco “tempo e espaço interno”, pouca contemplação, e um tesão, uma vontade de aprender, de fazer as coisas, de mudar sempre, daquelas que não sossega com o cabelo, e que não sai da frente do espelho enquanto o “movimento não estiver perfeito”, aquele olho atento, com vontade de gozar a vida, todos os dias, cada dia de um jeito diferente, chorar a cântaros e gargalhar aos berros.

A primeira, fez Dança do Ventre para relaxar e, quem sabe, uma vez por ano, com suas colegas, se apresentar em um teatro, levar a mãe e as amigas mais próximas, sem muito tempo para estudos extra, com uma carreira que exige que, às vezes, sua assiduidade e pontualidade na dança sejam postos em segundo plano, sem muita intimidade com a professora também. A segunda, tá na Dança pra arrasar! Pra ser bailarina, pra ser melhor que ela mesma a cada apresentação. Daquelas que não faltam (quase!) nunca, avisa quando vai faltar, nos apegamos, nos apaixonamos, por afinidade, com a dança, com a vida, por ser “extrema” como eu, viramos grandes amigas.

À medida que meu grupo foi deixando de ser um “grupo de alunas” e passando a ser uma “Companhia de Dança”, a primeira, olhou a cena e achou tudo muito “lá no alto”… Fora de seu alcance e além dos seus objetivos e desejos. A segunda, foi crescendo, crescendo e vendo a mesma cena como um lugar muito “apertado”, ela quer mais, muito mais, saiu voando pela cidade. A primeira, se desligou enviando um email (frio?) para minha assistente, a segunda, foi num “quebra-pau” (quentíssimo!) comigo mesma. Saíram… foram embora… anos depois, cada uma procurar o seu caminho confortável dentro da dança e acredito que nós três estejamos certas, as três seguindo o que acreditam e também cheguei à conclusão de que cada vez que “ganho” uma aluna, talvez alguma outra professora, do outro lado da cidade, tenha perdido e vice-versa. Neste exato momento, acho eu, uma professora ganha uma aluna que quer se divertir e distrair com a Dança do Ventre e o mercado recebe uma nova bailarina e é assim mesmo que as coisas são.

Eu sou apegada, tenho ciúmes, tenho saudades, admito, mas a vida tem me mostrado cada dia mais que tudo é cíclico, que nada dura para sempre, que os caminhos se cruzam e descruzam, que os relacionamentos são feitos de encontros e desencontros e que aquela velha canção ainda é atual: “O novo sempre vem!”

As aparências enganam?

Quando eu “decidi ser magra”, depois de perder os tais quilos que eram, na minha opinião, “a mais”, confesso que fiquei meio paranóica e transferi essa paranóia para as pessoas a minha volta, falando sobre carboidratos, açúcar e escadas rolantes, que foram terminantemente proibidas. Depois comecei a querer emagrecer o mundo inteiro!

Até que um dia vi uma moça gordinha subindo a escada rolante comendo um churros de doce de leite e ela parecia tão feliz! Daí, me perguntei se no fundo, no fundo, não era uma invejinha e percebi que EU preciso ser magra (sei lá porque, mas sou mais feliz assim), mas ninguém precisa parecer com nada que não queira.

No ano passado produzi um espetáculo (“Faces do Oriente”) e, na platéia, além de artistas envolvidos com Dança do Ventre, havia artistas de outras áreas, intelectuais, donas de casa, crianças, até um músico Norte Americano e um Cônsul! Depois, conversando com parte destes convidados e seus amigos, recebi elogios pela diversidade estética do espetáculo! Havia mulheres de dezoito a cinqüenta anos, de todas as cores, tamanhos e formas, profissionais e amadoras, fazendo parte de uma mesma Obra de Arte que perderia parte de seu colorido, de sua “estampa sofisticada” além de cair no lugar comum onde só entram as assim ou assado.

A escolha do assim ou do assado, somente faz sentido em uma Companhia de Dança, onde o Coreógrafo, como qualquer artista da área da Criação propriamente dita, tem liberdade e direito de definir uma estética. Tem Companhia onde somente dançam bailarinas gordinhas, ou somente nuas, negras, orientais… Algumas exigem medidas exatas, tamanho de seios, altura, outras não exigem nada disso e, no final das contas, todo mundo pode dançar!

Mas… Sempre tem um “mas” quando se fala em aparência, porque tem uma confusão com modismo, preconceito, inveja, padronização, e estas coisas vão se misturando e alguém sempre se ofende. O meu “mas” é o seguinte: Numa situação de teste, concurso, seleção, etc., havendo duas pessoas com as mesmas “qualidades curriculares”, a combinação branco/jovem/magro, no Brasil, ganha. E assim é no banco, no hospital, no comércio, e exceções a essa regra não costumam acontecer com bailarinas de Dança do Ventre. Nesse caso, bom pra umas, ruim pra outras e indiferente para as que não desejam fazer parte deste “Macro Mercado” onde tem, sim, concorrência.

Mas… E esse é um bom “mas”, A qualidade ainda prevalece! A experiência também! As aparências são levadas em conta, sim, às vezes, até enganam, mas estas que só enganam têm vida curta. E todo mundo ainda pode dançar!

A Dança do Ventre do Brasil

A Dança do Ventre veio para Brasil com os árabes, atraídos pelo comércio e, atraídos por eles, outros árabes: libaneses, sírios, iraquianos e os músicos, simplesmente, apareceram. Onde há família árabe, há festa, onde há festa, música e sendo a música árabe, dança do ventre e foi assim que tudo começou no Brasil, em São Paulo, nos anos 70/80. Por todo o Mundo, atualmente, bailarinas brasileiras trabalham e são referência, e, apesar da diversidade étnica e de estilos, há um consenso que há uma “Dança do Ventre Brasileira” e que esta tem algo de especial.

A Dança acontecia em festas e restaurantes árabes, depois em Grandes Eventos (promovidos, também, por brasileiros), surgiram bares e restaurantes com apresentações regulares e, com esta demanda, surgiu o mercado de aulas e Festivais, teve a novela “O Clone” e, com a moda, escolas, Eventos e o Mercado de Dança do Ventre atual, com Festivais Internacionais, patrocínio, etc.

E então nos perguntamos por que o Brasil? Porque o Brasil sempre teve capacidade de absorver outras Culturas, porque as mulheres brasileiras são femininas, bonitas, sensuais, porque virou moda? E então, procurando respostas, fui pro Cairo.

Eu me senti deslocada em diferentes fases da minha vida, no Magistério, no Piano, na Letras, na família “de homens” onde cresci e ser adolescente nos anos 80 não foi nada fácil. Cresci e fui ver o mundo, sozinha mesmo, já havia descoberto que as pessoas são únicas e não tinha mais o desejo adolescente de “não ser diferente da maioria”.

Assim, “deslocada”, “diferente”, me senti na Europa, com “alguma coisa fora do lugar”, a pele, o cabelo, o sorriso, a altura, tudo ou quase tudo em mim era só eu quem tinha, por onde quer que andasse na rua e, no Cairo, nos passeios pela periferia, nos ônibus, indo sozinha ao Supermercado e tendo contato com as pessoas comuns e não somente as treinadas para atender ao “gosto ocidental”, de um certo modo, me senti em casa. Nada de respostas. Fui de novo, mais um mês… Quase, quase… Nos parecemos fisicamente, no astral, no gosto pela conversa, amamos futebol, gostamos de festa.

De volta ao Brasil, a pergunta gritando dentro de mim, fui ouvir o baião, o aboio, o repente e lá estava ele: O ritmo, o molho, a África, a colonização árabe no Nordeste, a mistura, o cabelo duro e descobri (especulei, inventei, decidi, sei lá) que a mulher brasileira e a Dança do Ventre é um reencontro, uma mulher brasileira e uma egípcia se parecem mais do que uma brasileira e uma européia ou uma egípcia e uma indiana, algo muito especial e ancestral no liga.

Especulações à parte, dê uma boa olhada nas ruas do Cairo, tire os preconceitos e os lenços e você irá encontrar seu sorriso, o seu olhar, entre os rostos daquelas mulheres. Voltando ao Brasil, vá a uma quadra de escola de samba ver as egípcias sem lenço, nem preconceito, nem pudor. É tão lindo!

ENTREVISTA

1 – Como você analisa a questão da Fama na Dança do Ventre?

A fama é a fama. Na Dança do Ventre, na Música, nas Artes Plásticas e é, em parte, resultado imediato do sucesso profissional, a “outra parte” é que varia muito, existem vários tipos de “fama” e, pelo que eu percebo, também nas outras artes, sua duração varia muito, de um único Evento a uma carreira inteira.

O que garante sua durabilidade é a autenticidade da “coisa” do Artista.

No “nosso meio”, temos pessoas famosíssimas que sequer pisaram em uma sala de aula! São os “formadores de opinião”, são os que “estão em todas”, os que “se fazem perceber” e temos artistas brilhantes que são bem discretos, especialmente a “Velha Guarda” que faziam parte de um “Mercado exótico e underground” e não gostaram da ideia deste mercado ter-se tornado, também, “Uma moda ditada pela novela das nove”. Algumas meninas se retiraram, elegantemente, neste momento.

2 – Você se considera famosa? Qual o preço da fama?

Sim! No meu caso, em particular, eu “sempre fui famosa”, mesmo antes de ser artista! Dizer o que “se pensa” por si só, traz pra vida da pessoa um “interesse extra” dos demais, porque a maioria das pessoas calcula melhor que eu o que vai dizer, para “evitar polêmica”. Eu fui professora de Educação Infantil, há 25 anos, nem sonhava com Dança, muito menos “do Ventre” e as pessoas, ao me conhecer, às vezes diziam “Ah! Você é a famosa Tia Jade?” e comentavam que tinham ouvido alguma coisa “polêmica” a meu respeito.

O preço? O que é que, nesta vida, não tem preço? Claro que tem! E é caro! Muito caro! Quando a menina está começando, “todo mundo” acha lindo, todo mundo dá uma força, quando esta menina se destaca das demais, esse “todo mundo” começa a minguar e quando o sucesso (e a fama) chega, esse todo mundo se divide em dois: uns amam e uns odeiam, proporcionalmente. O grupo “eu odeio” cresce junto com o “eu amo”!

Eu perdi casamentos, batizados, nascimentos, não vi as crianças da minha família crescerem, não fui às Formaturas, essa, pra mim, foi a maior perda! As pessoas que eu mais amo no mundo, em alguns momentos, não terem certeza disso porque eu estava “sei lá onde” dançando Dança do Ventre, essa é a perda pelo “trabalho”, mais que pela fama. Claro que prefiro crer que a fama seja consequência direta da minha competência mas, não sou “boba”, sei que boa parte das conversas que incluem meu nome começam com “A Jade disse…” e não com “A Jade dançou…”.

E, quando a fama me traz alguma consequência muito chata (tais fofocas infundadas envolvendo meu nome) eu digo “Pois é, eu e a passamos por esse tipo de problema!” porque humor ainda é a minha melhor arma pra lidar com meu Ego! Egos não tem o menor senso de humor! É um excelente antídoto!

Na Europa, inventaram que eu era uma “egípcia que finge ser brasileira porque soa mais sexy”. Eu acho uma delícia de fofoca! Me sinto o próprio Keith Richards! Acho graça, muito mais do que me envaideço, conto pros meus irmãos, rimos disso!

3- Você traz em sua dança um componente de sensualidade bem marcante. Como você desenvolve esse tema com suas alunas? Vc acredita que toda mulher é sensual ou é algo que pode ser aprendido?

“Toda mulher é sensual” é a mesma coisa de dizer que “Todo homem é viril”… Nada é possível de se generalizar, muito menos atributos que são facultativos, como a sensualidade, num país tão “afetado pelo excesso de sexo” como o nosso… Não, nem toda mulher é sensual, muito menos tem o desejo de sê-lo. Boa parte delas têm reações histéricas ao excesso de “pele à mostra”. Sobre sala de aula… Bom… daí, vem uma das vantagens da “Fama”: a pessoa que não tem interesse (ou que tem recalques) com relação à sensualidade estão na turma do “Eu odeio” e não vem à minha aula, sorte nossa (minha e delas!). Para as minhas alunas eu digo o seguinte: Uma mulher que tem a virilha cabeluda, comporta-se como tal, a mulher de mochila e tênis não se comporta da mesma forma quando está de longo e maquiagem, portanto, é sim, uma coisa que pode ser trabalhada, de fora pra dentro e de dentro pra fora ao mesmo tempo, contanto que seu desejo seja real. Até o presente momento, não me deparei com nada que “não se possa ensinar” mas, volto para a autenticidade, a mulher sensual pode criar uma personagem sensual sim, a mulher que não é sensual em si, não tem interesse nisso, que nega, que tem vergonha, não. Vai do ponto onde está, diretamente para o vulgar, o vulgar é a sensualidade forjada, de mentira, é pro outro. Sensualidade só pro lado de fora é quase pornô!

4 – Como você vê o mercado brasileiro da DV na atualidade? Se você tivesse o poder de mudar algo nesta realidade, o que mudaria?

Quando a Dança do Ventre passou a ser mais “técnica” e o papo (furado?) do “basta sentimento” esgarçou sua forma (porque a dança foi ficando mais “profissional” e midiática), aconteceram coisas muito loucas: algumas meninas desistiram (esse foi também o momento do nascimento desse “Mercado Atual”, rejeitado por algumas meninas da “Velha Guarda”) e algumas (muitas) das que ficaram começaram a trabalhar nos circunlóquios da Dança do Ventre. Primeiro, tivemos anos de Supervalorização do Folclore. Todo mundo “tinha que saber” gawazee, melleah, sumbot, núbio, etc, e a Dança Oriental (do Ventre, mesmo!) foi deixada de lado. O momento seguinte foi o da Fusão, belly samba, belly metal, belly funk, tango, afro e sabe-se Deus o que mais, Oriental… nada… depois, entramos na fase “quero ser bailarina clássica” e chegamos aqui, numa dança que está, na minha opinião, castrada e esquartejada… Braços e pernas que trabalham muito, separados do corpo e um quadril esquecido, que andava “ocupado demais com o tônus para que o arabesque funcionasse bem”.

Se eu pudesse mudar alguma coisa nesse mercado… Nem saberia por onde começar, mas mudaria o critério das Avaliações, priorizando duas coisas apenas: Estilo Árabe e técnica Oriental. Acredito que a bailarina possa colocar o que bem entende na Dança, contanto que não tire algumas coisas e, pra mim, Dança do Ventre sem Quadril é jazz… É bonito? Pelo sucesso que faz, muita gente deve achar bonito, né? Mas… não é Do Ventre, para ser Do Ventre, tem que ter oitos, ondulações, shimmies… o de sempre, aquelas coisas difíceis de tão simples, das quais tentamos desistir nos últimos anos.

Tem uma coisa bizarra que acontece no mercado nesse momento que é falar de “Estilo Egípcio” como se fosse uma coisa desvinculada da Dança do Ventre! Imagine uma pessoa que dá aula de Samba “estilo Brasileiro” ou, ainda pior, uma moça que faz aula de samba mas diz que “prefere o estilo tibetano” (peguei o Tibet por pegar, pra evitar saias justas mais do que as que já lotam meu armário filosófico!). A Dança do Ventre está para o Egito como o samba está para o Brasil! Agora, se uma pessoa me diz que é “Professora de Samba” e não quer saber e tem raiva de quem sabe sobre Cultura brasileira… Na minha opinião, será “na trave”, será quase samba, será samba tibetano e, samba tibetano não é samba. É nisso que acredito, é onde invisto meu tempo e dinheiro, é a verdade do meu trabalho. Eu já estava aqui quando “tinha que arrasar no folclore” ou na fusão e não fui à parte alguma, seria, exatamente, por isso que fiquei tão famosa nos últimos anos? Arrisco dizer que pode ser!

5 – Além de dançar, você também trabalha com pintura, escultura, poesia… Qual o papel de outras expressões artísticas para a bailarina?

A expressão artística é uma coisa de ser “Artista”. A diferença da artista pra não artista é que a primeira é bailarina e a segunda é uma pessoa que dança. Para mim, uma só forma de arte nunca foi suficiente, porque eu “sinto demais”, então eu preciso compor coisas “fora do espelho” e, minha experiência nas outras artes coloca meu pé no chão, me coloca em lugares onde sou “anônima”, onde estou numa posição mais passiva, aprendo sobre ensinar e aprender, aprendo a criar, trabalho meus sentimentos, expresso as coisas que a Dança não dá conta de expressar e uso tudo isso em sala de aula (sim! esculpimos, pintamos, desenhamos, cantamos E dançamos). Eu ainda não tive tempo de expor nada, minhas “Obras” são, por enquanto “só minhas”, tem essa coisa gostosa de “criar pela criação”, um espaço que eu não tenho na Dança do Ventre, tem uma “Equipe” que trabalha comigo, meus professores e orientadores, que alimentam a professora e aluna que há em mim, que me dão assunto porque, se “aula de dança do ventre” ensinasse alguém a dançar, nossa vida seria muito mais fácil! Aula de Dança ensina PASSOS, a dançar, aprendemos com a vida, com os nossos amores, com as nossas verdades, com as coisas que vimos, que sonhamos, que lemos e, claro, sob orientação de nossas deliciosas professoras!

6 – Uma das muitas viagens internacionais que você fez, rendeu um livro ainda a ser lançado. Você poderia falar um pouco sobre isso?

O livro! O tal do livro! Tem gente que acha que “já foi”, tem gente que acha até que “já leu” (juro!) mas o livro ainda não foi lançado. Está aguardando uma Editora.

Foi escrito no Cairo, entre janeiro e abril de 2011, no auge da “Primavera Árabe”, durante a queda do Presidente Osni Mobarak, no poder havia mais de 30 anos. O livro não é, exatamente, sobre “Política” (a propósito, eu não teria condições de escrever Análises Políticas do Oriente Médio!), mas este quadro é o Cenário dos acontecimentos que narro no livro. Conto minhas aventuras num País de pernas para o ar e o que é possível se ver e fazer estando naquela situação.

Passei apuros (quase prisão, quase deportação, quase fome) e, depois, sobrevivendo a tudo isso, me encontrei num estado de profunda celebração da vida, que era a coisa mais “urgente a se manter” naquele momento. Conheci um novo Cairo, um novo Brasil e, principalmente, uma “Nova Jade” neste processo e fui registrando tudo. É uma coletânea de contos e crônicas, contando as histórias que iam rolando, vista pelos meus olhos.

Acabou sendo, também, um livro muito didático, já que tive que explicar inúmeras peculiaridades da Cultura Local, onde situaram-se as histórias e expressões que, não sendo em árabe se esvaziam de sentido. Os personagens (todos reais, à exceção de um único conto que é fictício), foram revisitados em 2012, quando retornei ao Cairo e pude ver o que aquele momento histórico havia transformado em suas vidas.

A narrativa? Minha, em primeira pessoa, sem muitas correções, do meu jeito: com muita paixão, sinceridade e humor, que são características que permeiam todas as formas de Arte com as quais me envolvi no decorrer da vida. Coisas, sem as quais, talvez eu fosse muito mais famosa, talvez não atraísse nenhum ódio, entretanto, não seria eu.

7 – Você gosta de ser famosa?

Sim! Gosto, sim! A maior parte do tempo é muito bom, receber tanto amor das pessoas, algumas que sequer me viram dançar, mas “conhecem minha fama”, traz respeito por parte dos colegas, me coloca em Hotéis 5 Estrelas, põe frutas no meu camarim, são muito mais vantagens do que desvantagens.

Graças a Deus, eu consegui construir uma relação muito saudável com a minha personagem e ela só anda comigo quando tenho que trabalhar. O restante do tempo, passo, em maioria, ao lado das pessoas que me conhecem muito antes da fama ou, ainda, as que, como eu, lidam com bom humor com tudo isso. Ainda sou a mesma menina de periferia, que vive grudada na família e dorme agarrada num bicho de pano. Esta sou eu, quando este “Momento El Jabel” passar, serei, ainda a mesma Jade de sempre! A “Brasileira Balady” que sempre fui!

Quebrando a Banca (seus preconceitos, medos e mitos)

Quando começou essa “História” de “Concurso de Dança do Ventre” no Brasil, minha geração achava isso uma grande piada, sinceramente… Nós, simplesmente, nos recusávamos a fazer parte, achávamos bizarro, sem sentido, tínhamos horror a isso!

Talvez, também por esta razão, os “Concursos” passaram a ser “Não concursos”, viraram “Selos”, “Padrões”, etc, mas, na cabeça da menina que dança ainda há uma certa confusão com relação a isto. Percebo quando elas “voltam do Concurso-não-concurso” dizendo que “não passaram, mas fulana passou”, então, sim, concorrem! Às vezes, concorrem a nada, às vezes trabalho, prestígio, visualização, medalha, capa de revista e até dinheiro mas, quase sempre, “as melhores ganham alguma coisa”. Então, no caso, é concurso!

Agora, este formato (também, Graças a Deus!) tem mudado e as meninas têm participado de bancas nas quais, de fato, ganham uma coisa demasiado preciosa: A Avaliação de um artista que ela admira, olhos nos olhos, imediatamente após a “Banca”. Isto eu, particularmente, acho sensacional! Este é o tipo de banca que eu faço com prazer, porque estou oferecendo um “produto” que pode ser mais efetivo e, claro, dentro da área que eu realmente trabalho, que é o Sagrado Exercício do Magistério, coisa para a qual, acredito, eu vim a este Mundo.

Quando eu comecei a dançar, ao lado de feras como Layla, Nájua Sune, Shams, Fátima Fontes, se uma destas meninas, mais velhas e mais experientes que eu me dissesse “Esta maquiagem (roupa, perfume, acessório) não lhe cai bem” ou “Você precisa estudar isto ou aquilo” eu, simplesmente, acatava! Hoje em dia, somente dou dicas e conselhos quando sou paga para tanto, porque o dinheiro é uma garantia de que minha opinião interessa, de fato, à menina porque, muitas vezes “Eu quero sua opinião” quer dizer, na verdade “Eu quero um elogio seu” e também acontece o contrário! Eu digo à menina que ela “tem futuro” e ela ouve que “pode parar de estudar porque arrasa”, então, tenho guardado muitos elogios e críticas para mim mesma… Saio sentida, “devendo a mim mesma” mas… já disse isso antes, meu armário de saias justas está lotado demais!

Se eu vendesse pãezinhos, se a pessoa me pedisse meia dúzia deles, receberia meia dúzia de pãezinhos feitos com muito profissionalismo e cuidado, para esta “cliente” e é assim, exatamente, assim que eu avalio uma menina: Ela compra um produto e eu o entrego, da melhor maneira possível, sem muito “embrulho” (ou seria imbróglio?) para que o produto não seja confundido com a embalagem… Se você se ocupar da parte do “Olha você é linda, eu entendo que você está nervosa, você dança muito bem…” você “ocupa o espaço de um pãozinho no seu embrulho”, entende? Esta parte ela já ouve (da mãe, das amigas, do namorado, etc) o meu produto é outro: Avaliação

Se me permitem aqui vão três dicas para bem avaliar uma bailarina (na minha opinião, claro):

1 – Preste atenção ao que ela tem de bom, de facilidade. Ela sempre terá esta mesma facilidade e vale a pena “investir” nela, porque, provavelmente, esta será a sua “marca”, seu diferencial, seja um “quadrilzão”, um “sorrisão”, um “ouvido incrível”, etc. Apontar sua qualidade e, vale a pena explicar isso, significa “estude mais isto que é prazeroso pra você de estudar/executar, para que isto cresça, pois será sempre a parte mais fácil pra você e, sendo fácil e estando bom, pode tornar-se sublime através do estudo, ou, ‘sua única coisa, desde sempre’, se você se acomodar”.

2 – Aponte, claramente, o que você acredita que ela precisa melhorar, em todos os aspectos da dança que você perceba e ofereça (Sempre!) dicas e caminhos para esta melhora. “Não sei o que você pode fazer para melhorar” ela também já tem das pessoas às quais ela não paga. Portanto, se você perceber uma “coisa para ser melhorada que não é da sua alçada”, tenha humildade para consultar os colegas de banca ou, na falta da humildade (ou de tempo), não diga nada.

3 – Aceite as possíveis rejeições às suas críticas e observações! Lembre-se que nem sempre uma pessoa aceita receber um produto, apesar de ter pago por ele! E haverá rejeições sim! Eu recebo algumas vezes (não diretamente mas, claro, sempre tem alguma “boa alma” para trazer este tipo de comentário) e minha reação é a de sempre: Não faço absolutamente nada. Não faço absolutamente nada com relação a coisas que não me trarão benefícios profissionais e pessoais, nunca. Fofocas, intrigas, críticas grosseiras. Rio e saio para fumar porque “tomar um pito meu” é reservado às pessoas que eu amo e que pagam (de alguma forma) por isso.

Professora, já ta na hora?

E agora, bailarina? Você, aluna, quer mudar de nível, você professora, não sabe bem o que e como fazer…

Quem decide isso é a professora e não a aluna! Às vezes, acontece de uma menina sentir-se “injustiçada” e até mesmo, as colegas podem está-la apoiando “contra a professora” e a professora “perde a aluna”. Também se perde aluna por excesso e falta de disciplina, excesso e falta de apoio, excesso e falta de carinho, etc etc etc… Então, a aluna “perdida” seria perdida de qualquer maneira. Não tem pra onde correr!

Existe em São Paulo – e, arrisco dizer que se espalhou pelo Brasil – basicamente, duas grandes Escolas. Quando digo Escola, não me refiro à estrutura física “espelho, tenda no teto, camelo no canto” porque isso tem muito, muito mais que duas, digo escola como “pensamento”, como orientação, Norte. Estas são a Khan El Khalili e Luxor e respectivos descendentes. Eu “pertenço a Escola Khan El Khalili”, foi La que aprendi e onde passei boa parte da minha carreira de Professora. Comecei em outro lugar, numa escola de Ballet, com 5 bailarinas clássicas na aula, mas isso é outra história…

A Primeira, a Khan, em princípio, deu total liberdade para as professoras ensinarem como e o que bem entendessem e a escolha de nível era, praticamente, feita pela aluna, de acordo com o seu horário e disponibilidade. Eu dei aulas (muitas!) além das minhas próprias turmas na Khan e vi alunas avançadas em turmas Iniciantes e vice-versa (o vice-versa, claro, muito mais!). A Luxor quando surgiu, já surgiu com método, treinamento, tem um trabalho mais padronizado e tem meninas, do mesmo jeito, iniciantes em Avançados e vice-versa, nem um dos dois “métodos mais comuns” é eficiente no sentido de “Definição do que é Nível”. A DV está engatinhando nesse sentido… A DV é a única dança “Étnica” de estilo absolutamente livre, todas as outras têm “pré-requisitos e normas” já definidas, a DV, ainda não e, na minha opinião, estamos muito, mas muito longe disso… E tem, ainda, um “desequilíbrio entre Campo e Academia”. Explico: Umas dançam muito outras escrevem muito… Falta ajuste aí, também aí.

Eu não tenho Iniciantes (por uma razão muito simples, tenho muito mais procura de profissionais, então, tenho três Avançados e dois Intermediários) e nas minhas turmas Intermediárias eu tenho professoras e tenho Intermediárias no Avançado que estão lá por conta do Horário. Todas elas, no meu caso, sabem o seu nível na minha opinião pessoal por conta da minha postura com relação a elas, mas tenho (sempre tem!) uma ou outra “Diva auto-proclamada” e isso, na minha opinião, não é da minha conta. Enquanto sua “Divinisse” não atrapalhar o aprendizado das outras, deixa ela e a sua loucura pra lá que elas duas (a menina e a loucura) se viram. Se a menina começar a ficar boa de verdade, eu chamo no canto e dou um toque. Se a menina continuar “estática divando no mesmo nível” ela vai sair, sozinha, sentido-se “injustiçada”. E tudo bem!

Um professor que não é autoridade (vale lembrar que autoridade vem de Autoria!) dentro de uma sala de aula tem a mesma função do camelo no canto… Serve para “compor o clima” porque, ensinar, sem estar no comando e, de lá do comando, aprendendo com as alunas, na minha opinião, não funciona.

Em grupos muito grandes (acima de 20 meninas) também fica muito difícil “resolver isso” porque é possível, num grupo deste tamanho, “fingir ou forjar” isso e aquilo, num grupo menor, a professora tem mais controle. O que difere, pra mim, uma Intermediária de uma Avançada é o que eu espero e exijo dela, em todos os sentidos! Uma Intermediária tem até um pouco mais de “moleza” no sentido da Disciplina, de uma bailarina/professora eu já não tolero, porque meu trabalho é prepará-la para o trabalho que ela já executa e o nosso, sem muita (muita mesmo!) disciplina não vai pra frente, de jeito nenhum, então, não vou deixar pra um “Contratante” fazer o meu trabalho!

O que temos de melhor e pior são sempre duas faces da mesma moeda e o Melhor-Pior na DV é esta “Democracia”, este “Vale-Tudo” porque, daí, vira tudo opinião (lá vou eu falar de opinião!). Eu lido com isso do meu jeito… Meu jeito? “Bate-Assopra”! Eu sou uma mãe das minhas alunas, sempre fui (transferi essa energia da Maternidade pra elas) e tenho um apego louco com minhas alunas, algumas mais outras menos, mas tenho uma forma de amor-cuidado por todas, encho elas de beijinhos mas já passei cada sabão que eu teria pavor de receber. Se precisar eu boto pra fora… Na “minha casa” não tem festa, exceto quando é Festa, em letra maiúscula, daí elas “vão até o chão”, é catártico, porque no nosso dia a dia, a menina começa, por exemplo, a furar, toma “toco”, falar demais “toco”, causar com o grupo “toco” mas o que me garante a manutenção destas meninas, com tanto “toco” é que o “Produto” que ofereço é muito bom, bem preparado, tenho, mais de 25 anos (ui!) de magistério, sei e amo ensinar, tenho a tal da Autoria que me permite ter Autoridade em sala de aula e o nível do meu trabalho é que tem que contar, o meu trabalho tem que ser Avançado…

Agora, se a menina não aguenta (tem um monte que vem, faz uma aula e… sai correndo!) ela migra pra um “sistema mais aberto e divertido”… Eu costumo dizer “Você quer se divertir? Vá a um parque de diversões porque isso aqui não é, necessariamente, divertido! Não estou aqui para proporcionar ‘alegrias’ e sim ‘realizações”. Muita gente já disse que “com esta postura” eu iria “quebrar” mas, ao contrário disso, não só não quebrei como “metade” desse mercado carrega meu nome! Umas amam, outras nem tanto, tem muitos boatos sobre meus métodos “nada ortodoxos” de ensinar mas eu tenho algumas joias que me cercam (meninas de uma preciosidade rara, bela) que me dão segurança de estar no caminho certo…

O que eu acho dos outros métodos? O que eu acho da “progressão continuada” adotada em algumas escolas? Acho legal! Acho legal que tenha! Eu já achei, no passado, que “Concursos de Dança do Ventre” ou ainda Homens dançando eram “Sinais do Apocalipse”, passados vinte e poucos anos, estas duas coisas estão estabelecidas, praticamente, como “norma” no Mundo Inteiro, então a experiência (que nem sempre é tão libertadora assim) já me ensinou que eu fazendo parte ou não das coisas, elas, simplesmente, estão aí! O que vale, no final, é o brilho da menina, o desejo dela ser bailarina e, claro, um pouco de “sorte”, uma ou outra pessoa incrível no caminho (eu tive várias!) pra ir te botando no chão, caso seu Ego vire “presidente dos seus atos” porque eu já vi menina fazer “tudo certo e dar errado” e vice-versa porque estamos num Mercado em Movimento! Sendo assim, melhor deixar os julgamentos para o Tempo, que sempre decide as coisas melhor do que nós!

O que vou fazer depois?

Ops! Pergunta errada! A pergunta certa é “O que fazer durante/enquanto dança?”. Quando temos vinte e poucos anos pensamos: “Depois que eu me casar e tiver filhos eu paro!” ou “Depois eu penso!” e nem uma coisa nem a outra funciona, a primeira, porque não temos bola de cristal pra saber SE vai casar, SE vai ter filhos e quem será esse marido aí? Um príncipe num carrão branco (porque cavalo hoje em dia, não dá!) que irá te laçar num palco qualquer, te dar uma casa, um bebê e um emprego? E “pensar depois” já será depois!

Como a minha experiência é “só o que tenho”, vou falar dela:

Como eu disse na matéria anterior (que é um bom “gancho” pra essa aqui!) dos 23 anos que estou envolvida com DV, “vivo de DV” há apenas 7, sempre tive atividades paralelas e passei a trabalhar somente com DV quando não tinha mais agenda para outros trabalhos, porém, nunca parei de estudar, nem de produzir. E foi meu outro trabalho que “montou meu guarda-roupa e me mandou pro Egito” pela primeira vez.

No lançamento da minha capa da Shimmie, aproveitei para fazer um Vernissage (Telas a óleo e esculturas) e as duas telas que vendi pagaram o vinho chiquérrimo que servi no Vernissage e ainda sobrou um “cachê” para mim! Pinto desde 2000, esculpo desde 2010 e escrevo desde que aprendi a escrever. Tenho dois livros escritos, prontos para publicar, entretanto, por falta de tempo, devido ao meu trabalho, ainda não os lancei, além das telas inacabadas (tempo… ai o tempo que nunca dá!) e esculturas “preparadas” que ainda não “foram para o barro”. Somente aí, tenho “trabalho acumulado” desde já, e olha que eu tô bem longe de ter “tempo sobrando”…

Em 2005, quando fui ao Cairo pela primeira vez, Mm. Raqia me pediu pra traduzir o Workshop da Soraia e eu passei uma semana “pensando em DV em inglês” (o Cairo fervendo lá fora! Passeios, Baladas e eu, “presa em casa, estudando”), me preparando pra isso: um “trabalho não remunerado”, um “favor pessoal” que fiz com o máximo de profissionalismo que pude… Mais tarde, quando Mm. Raqia me convidou para dar aula no Egito já sabia que eu poderia dar uma boa aula em Inglês! Minha “apresentação” já havia sido feita, por mim mesma.

Percebi, nestas idas ao Cairo que aquele “árabezinho” que eu falava impressionava os egípcios e as bailarinas e me “abria portas”, então, valeria a pena investir: Contratei um professor particular aqui no Brasil em 2006 e, a partir de 2008, comecei a estudar no Cairo, anualmente… Ainda era pouco… Um dia, um taxista me falou: “três meses e você aprende direito!”. Bom… Três meses no Cairo… Preparei mala, fiz uns contatos, guardei dinheiro e lá fui eu… Mas… estourou uma Revolução e nada do que eu havia planejado seria possível em 2011… A medida que eu fui contando as histórias que via por lá para meus amigos aqui, começaram os pedidos “Escreve um livro!”. Aproveitei o tempo ocioso (que era quase todo o tempo que tinha, sozinha, amedrontada, deprimida) e este é o segundo livro que escrevi, que aguarda tempo para Publicação.

Em 2008 conheci uma moça da França que me disse que havia um “Grupo de Estudos” do meu trabalho em Paris, resumindo, em 2009 eu estava lá, dando aula pra elas… Percebi que as francesas não falam inglês (Não falam! Não é que “falam e não querem” como dizem, não falam, mesmo…) e que gostavam muito do meu trabalho… Pensei “preciso aprender francês!”. Em 2011 soube que a Dina (sim! a Dina!) havia lançado um livro em francês e reencontrei este grupo de Paris no Egito, quando me contrataram para um Show (num jantar, no Cairo). Juntei minha necessidade profissional de ler o que a Dina tinha a dizer com o amor que vi que estas parisienses tinham por mim e prometi a elas: “Na próxima vez que eu encontrar vocês, iremos conversar em francês!”. O livro? Li! É uma aula de DV, de Cultura Egípcia, e uma explicação do “porque a Dina é a Dina”, valeu cada minuto de leitura!

Matriculei-me numa escola de francês aqui no Brasil e, enquanto estudava, fui “alinhavando” uma ida para a França, pra passar um mês estudando “in loco”… Uma pessoa disse pra outra, que disse pra outra e, quando eu vi, tinha uma Turnê, com 9 cidades na Europa que duraria três meses. Fui morar numa casa de família e estudar francês, durante a Turnê. Trabalhava nos finais de semana e, durante a semana, estudava (muito!) na escola e sozinha. Quando fui para Paris dar aula, depois de 3 meses de estudo aqui e um mês na França e, conforme prometido, tanto as conversas quanto as aulas foram em francês! O que, afinal, eu conheci na França, morando lá por 3 meses? Um pouco de Cultura e Idioma. Não, não visitei lugares incríveis porque tinha outras prioridades para meu tempo e dinheiro. Opção, como tudo!

Daí, pintou um convite para o Chile… Tinha dois tradutores na minha aula, um que falava árabe e uma que falava português… Mas… Não precisei de ambos porque estudei espanhol antes de ir (apenas espanhol falado, suficiente para as aulas) e falar o idioma local ganha tempo e, principalmente, “moral”! Mas meu espanhol tá muito “mequetrefe” e, como minha contratante no Chile reiterou o convite para este ano, estou me matriculando em uma escola de espanhol JÁ! Além de ter “mais assunto” sobre DV que no ano passado, estarei falando um espanhol melhor!

Cheguei a pensar na Copa do Mundo! Afinal, 5 idiomas e “jeito pra lidar com gente” eu poderia fazer um “freela”, só que ainda não tenho tempo livre pra freelas porque estou ocupada com DV.

Então, o que fazer depois? É só aproveitar o tempo que terá livre pra continuar o que vinha fazendo antes! E, esse ano, se Deus me Der tempo, volto a estudar música, por puro capricho, porque adoro música! O dinheiro? Virá! O dinheiro vem de coisas que você faz bem feitas! E, pra fazer bem feito tem que ralar, estudar, se dedicar, investir… Não tem outro caminho!

DICAS!

– Preste atenção aos elogios, críticas e conselhos e especialize-se e aprimore-se no que você faz bem, dentro e fora da Dança do Ventre.

– Guarde dinheiro (ainda que pouquinho!) e o que gastar, gaste com coisas duráveis, de qualidade, se você se apertar, faz um “brechó” e tem um extra pra reinvestir.

– Mantenha suas amizades e seus relacionamentos de fora (Lembre-se: Esse monte de gente que é apaixonada por você, na verdade, ama a sua personagem e tudo bem! É assim que tem que ser!). Porque se você passar dez anos “Divando na balada árabe” e só, vai ficar um pouco só daqui há dez anos.

– Não se esqueça que “a sorte é o encontro do preparo com a oportunidade” então, esteja sempre preparada e a oportunidade vai aparecer!