ENTREVISTA

1 – Como você analisa a questão da Fama na Dança do Ventre?

A fama é a fama. Na Dança do Ventre, na Música, nas Artes Plásticas e é, em parte, resultado imediato do sucesso profissional, a “outra parte” é que varia muito, existem vários tipos de “fama” e, pelo que eu percebo, também nas outras artes, sua duração varia muito, de um único Evento a uma carreira inteira.

O que garante sua durabilidade é a autenticidade da “coisa” do Artista.

No “nosso meio”, temos pessoas famosíssimas que sequer pisaram em uma sala de aula! São os “formadores de opinião”, são os que “estão em todas”, os que “se fazem perceber” e temos artistas brilhantes que são bem discretos, especialmente a “Velha Guarda” que faziam parte de um “Mercado exótico e underground” e não gostaram da ideia deste mercado ter-se tornado, também, “Uma moda ditada pela novela das nove”. Algumas meninas se retiraram, elegantemente, neste momento.

2 – Você se considera famosa? Qual o preço da fama?

Sim! No meu caso, em particular, eu “sempre fui famosa”, mesmo antes de ser artista! Dizer o que “se pensa” por si só, traz pra vida da pessoa um “interesse extra” dos demais, porque a maioria das pessoas calcula melhor que eu o que vai dizer, para “evitar polêmica”. Eu fui professora de Educação Infantil, há 25 anos, nem sonhava com Dança, muito menos “do Ventre” e as pessoas, ao me conhecer, às vezes diziam “Ah! Você é a famosa Tia Jade?” e comentavam que tinham ouvido alguma coisa “polêmica” a meu respeito.

O preço? O que é que, nesta vida, não tem preço? Claro que tem! E é caro! Muito caro! Quando a menina está começando, “todo mundo” acha lindo, todo mundo dá uma força, quando esta menina se destaca das demais, esse “todo mundo” começa a minguar e quando o sucesso (e a fama) chega, esse todo mundo se divide em dois: uns amam e uns odeiam, proporcionalmente. O grupo “eu odeio” cresce junto com o “eu amo”!

Eu perdi casamentos, batizados, nascimentos, não vi as crianças da minha família crescerem, não fui às Formaturas, essa, pra mim, foi a maior perda! As pessoas que eu mais amo no mundo, em alguns momentos, não terem certeza disso porque eu estava “sei lá onde” dançando Dança do Ventre, essa é a perda pelo “trabalho”, mais que pela fama. Claro que prefiro crer que a fama seja consequência direta da minha competência mas, não sou “boba”, sei que boa parte das conversas que incluem meu nome começam com “A Jade disse…” e não com “A Jade dançou…”.

E, quando a fama me traz alguma consequência muito chata (tais fofocas infundadas envolvendo meu nome) eu digo “Pois é, eu e a passamos por esse tipo de problema!” porque humor ainda é a minha melhor arma pra lidar com meu Ego! Egos não tem o menor senso de humor! É um excelente antídoto!

Na Europa, inventaram que eu era uma “egípcia que finge ser brasileira porque soa mais sexy”. Eu acho uma delícia de fofoca! Me sinto o próprio Keith Richards! Acho graça, muito mais do que me envaideço, conto pros meus irmãos, rimos disso!

3- Você traz em sua dança um componente de sensualidade bem marcante. Como você desenvolve esse tema com suas alunas? Vc acredita que toda mulher é sensual ou é algo que pode ser aprendido?

“Toda mulher é sensual” é a mesma coisa de dizer que “Todo homem é viril”… Nada é possível de se generalizar, muito menos atributos que são facultativos, como a sensualidade, num país tão “afetado pelo excesso de sexo” como o nosso… Não, nem toda mulher é sensual, muito menos tem o desejo de sê-lo. Boa parte delas têm reações histéricas ao excesso de “pele à mostra”. Sobre sala de aula… Bom… daí, vem uma das vantagens da “Fama”: a pessoa que não tem interesse (ou que tem recalques) com relação à sensualidade estão na turma do “Eu odeio” e não vem à minha aula, sorte nossa (minha e delas!). Para as minhas alunas eu digo o seguinte: Uma mulher que tem a virilha cabeluda, comporta-se como tal, a mulher de mochila e tênis não se comporta da mesma forma quando está de longo e maquiagem, portanto, é sim, uma coisa que pode ser trabalhada, de fora pra dentro e de dentro pra fora ao mesmo tempo, contanto que seu desejo seja real. Até o presente momento, não me deparei com nada que “não se possa ensinar” mas, volto para a autenticidade, a mulher sensual pode criar uma personagem sensual sim, a mulher que não é sensual em si, não tem interesse nisso, que nega, que tem vergonha, não. Vai do ponto onde está, diretamente para o vulgar, o vulgar é a sensualidade forjada, de mentira, é pro outro. Sensualidade só pro lado de fora é quase pornô!

4 – Como você vê o mercado brasileiro da DV na atualidade? Se você tivesse o poder de mudar algo nesta realidade, o que mudaria?

Quando a Dança do Ventre passou a ser mais “técnica” e o papo (furado?) do “basta sentimento” esgarçou sua forma (porque a dança foi ficando mais “profissional” e midiática), aconteceram coisas muito loucas: algumas meninas desistiram (esse foi também o momento do nascimento desse “Mercado Atual”, rejeitado por algumas meninas da “Velha Guarda”) e algumas (muitas) das que ficaram começaram a trabalhar nos circunlóquios da Dança do Ventre. Primeiro, tivemos anos de Supervalorização do Folclore. Todo mundo “tinha que saber” gawazee, melleah, sumbot, núbio, etc, e a Dança Oriental (do Ventre, mesmo!) foi deixada de lado. O momento seguinte foi o da Fusão, belly samba, belly metal, belly funk, tango, afro e sabe-se Deus o que mais, Oriental… nada… depois, entramos na fase “quero ser bailarina clássica” e chegamos aqui, numa dança que está, na minha opinião, castrada e esquartejada… Braços e pernas que trabalham muito, separados do corpo e um quadril esquecido, que andava “ocupado demais com o tônus para que o arabesque funcionasse bem”.

Se eu pudesse mudar alguma coisa nesse mercado… Nem saberia por onde começar, mas mudaria o critério das Avaliações, priorizando duas coisas apenas: Estilo Árabe e técnica Oriental. Acredito que a bailarina possa colocar o que bem entende na Dança, contanto que não tire algumas coisas e, pra mim, Dança do Ventre sem Quadril é jazz… É bonito? Pelo sucesso que faz, muita gente deve achar bonito, né? Mas… não é Do Ventre, para ser Do Ventre, tem que ter oitos, ondulações, shimmies… o de sempre, aquelas coisas difíceis de tão simples, das quais tentamos desistir nos últimos anos.

Tem uma coisa bizarra que acontece no mercado nesse momento que é falar de “Estilo Egípcio” como se fosse uma coisa desvinculada da Dança do Ventre! Imagine uma pessoa que dá aula de Samba “estilo Brasileiro” ou, ainda pior, uma moça que faz aula de samba mas diz que “prefere o estilo tibetano” (peguei o Tibet por pegar, pra evitar saias justas mais do que as que já lotam meu armário filosófico!). A Dança do Ventre está para o Egito como o samba está para o Brasil! Agora, se uma pessoa me diz que é “Professora de Samba” e não quer saber e tem raiva de quem sabe sobre Cultura brasileira… Na minha opinião, será “na trave”, será quase samba, será samba tibetano e, samba tibetano não é samba. É nisso que acredito, é onde invisto meu tempo e dinheiro, é a verdade do meu trabalho. Eu já estava aqui quando “tinha que arrasar no folclore” ou na fusão e não fui à parte alguma, seria, exatamente, por isso que fiquei tão famosa nos últimos anos? Arrisco dizer que pode ser!

5 – Além de dançar, você também trabalha com pintura, escultura, poesia… Qual o papel de outras expressões artísticas para a bailarina?

A expressão artística é uma coisa de ser “Artista”. A diferença da artista pra não artista é que a primeira é bailarina e a segunda é uma pessoa que dança. Para mim, uma só forma de arte nunca foi suficiente, porque eu “sinto demais”, então eu preciso compor coisas “fora do espelho” e, minha experiência nas outras artes coloca meu pé no chão, me coloca em lugares onde sou “anônima”, onde estou numa posição mais passiva, aprendo sobre ensinar e aprender, aprendo a criar, trabalho meus sentimentos, expresso as coisas que a Dança não dá conta de expressar e uso tudo isso em sala de aula (sim! esculpimos, pintamos, desenhamos, cantamos E dançamos). Eu ainda não tive tempo de expor nada, minhas “Obras” são, por enquanto “só minhas”, tem essa coisa gostosa de “criar pela criação”, um espaço que eu não tenho na Dança do Ventre, tem uma “Equipe” que trabalha comigo, meus professores e orientadores, que alimentam a professora e aluna que há em mim, que me dão assunto porque, se “aula de dança do ventre” ensinasse alguém a dançar, nossa vida seria muito mais fácil! Aula de Dança ensina PASSOS, a dançar, aprendemos com a vida, com os nossos amores, com as nossas verdades, com as coisas que vimos, que sonhamos, que lemos e, claro, sob orientação de nossas deliciosas professoras!

6 – Uma das muitas viagens internacionais que você fez, rendeu um livro ainda a ser lançado. Você poderia falar um pouco sobre isso?

O livro! O tal do livro! Tem gente que acha que “já foi”, tem gente que acha até que “já leu” (juro!) mas o livro ainda não foi lançado. Está aguardando uma Editora.

Foi escrito no Cairo, entre janeiro e abril de 2011, no auge da “Primavera Árabe”, durante a queda do Presidente Osni Mobarak, no poder havia mais de 30 anos. O livro não é, exatamente, sobre “Política” (a propósito, eu não teria condições de escrever Análises Políticas do Oriente Médio!), mas este quadro é o Cenário dos acontecimentos que narro no livro. Conto minhas aventuras num País de pernas para o ar e o que é possível se ver e fazer estando naquela situação.

Passei apuros (quase prisão, quase deportação, quase fome) e, depois, sobrevivendo a tudo isso, me encontrei num estado de profunda celebração da vida, que era a coisa mais “urgente a se manter” naquele momento. Conheci um novo Cairo, um novo Brasil e, principalmente, uma “Nova Jade” neste processo e fui registrando tudo. É uma coletânea de contos e crônicas, contando as histórias que iam rolando, vista pelos meus olhos.

Acabou sendo, também, um livro muito didático, já que tive que explicar inúmeras peculiaridades da Cultura Local, onde situaram-se as histórias e expressões que, não sendo em árabe se esvaziam de sentido. Os personagens (todos reais, à exceção de um único conto que é fictício), foram revisitados em 2012, quando retornei ao Cairo e pude ver o que aquele momento histórico havia transformado em suas vidas.

A narrativa? Minha, em primeira pessoa, sem muitas correções, do meu jeito: com muita paixão, sinceridade e humor, que são características que permeiam todas as formas de Arte com as quais me envolvi no decorrer da vida. Coisas, sem as quais, talvez eu fosse muito mais famosa, talvez não atraísse nenhum ódio, entretanto, não seria eu.

7 – Você gosta de ser famosa?

Sim! Gosto, sim! A maior parte do tempo é muito bom, receber tanto amor das pessoas, algumas que sequer me viram dançar, mas “conhecem minha fama”, traz respeito por parte dos colegas, me coloca em Hotéis 5 Estrelas, põe frutas no meu camarim, são muito mais vantagens do que desvantagens.

Graças a Deus, eu consegui construir uma relação muito saudável com a minha personagem e ela só anda comigo quando tenho que trabalhar. O restante do tempo, passo, em maioria, ao lado das pessoas que me conhecem muito antes da fama ou, ainda, as que, como eu, lidam com bom humor com tudo isso. Ainda sou a mesma menina de periferia, que vive grudada na família e dorme agarrada num bicho de pano. Esta sou eu, quando este “Momento El Jabel” passar, serei, ainda a mesma Jade de sempre! A “Brasileira Balady” que sempre fui!

Quebrando a Banca (seus preconceitos, medos e mitos)

Quando começou essa “História” de “Concurso de Dança do Ventre” no Brasil, minha geração achava isso uma grande piada, sinceramente… Nós, simplesmente, nos recusávamos a fazer parte, achávamos bizarro, sem sentido, tínhamos horror a isso!

Talvez, também por esta razão, os “Concursos” passaram a ser “Não concursos”, viraram “Selos”, “Padrões”, etc, mas, na cabeça da menina que dança ainda há uma certa confusão com relação a isto. Percebo quando elas “voltam do Concurso-não-concurso” dizendo que “não passaram, mas fulana passou”, então, sim, concorrem! Às vezes, concorrem a nada, às vezes trabalho, prestígio, visualização, medalha, capa de revista e até dinheiro mas, quase sempre, “as melhores ganham alguma coisa”. Então, no caso, é concurso!

Agora, este formato (também, Graças a Deus!) tem mudado e as meninas têm participado de bancas nas quais, de fato, ganham uma coisa demasiado preciosa: A Avaliação de um artista que ela admira, olhos nos olhos, imediatamente após a “Banca”. Isto eu, particularmente, acho sensacional! Este é o tipo de banca que eu faço com prazer, porque estou oferecendo um “produto” que pode ser mais efetivo e, claro, dentro da área que eu realmente trabalho, que é o Sagrado Exercício do Magistério, coisa para a qual, acredito, eu vim a este Mundo.

Quando eu comecei a dançar, ao lado de feras como Layla, Nájua Sune, Shams, Fátima Fontes, se uma destas meninas, mais velhas e mais experientes que eu me dissesse “Esta maquiagem (roupa, perfume, acessório) não lhe cai bem” ou “Você precisa estudar isto ou aquilo” eu, simplesmente, acatava! Hoje em dia, somente dou dicas e conselhos quando sou paga para tanto, porque o dinheiro é uma garantia de que minha opinião interessa, de fato, à menina porque, muitas vezes “Eu quero sua opinião” quer dizer, na verdade “Eu quero um elogio seu” e também acontece o contrário! Eu digo à menina que ela “tem futuro” e ela ouve que “pode parar de estudar porque arrasa”, então, tenho guardado muitos elogios e críticas para mim mesma… Saio sentida, “devendo a mim mesma” mas… já disse isso antes, meu armário de saias justas está lotado demais!

Se eu vendesse pãezinhos, se a pessoa me pedisse meia dúzia deles, receberia meia dúzia de pãezinhos feitos com muito profissionalismo e cuidado, para esta “cliente” e é assim, exatamente, assim que eu avalio uma menina: Ela compra um produto e eu o entrego, da melhor maneira possível, sem muito “embrulho” (ou seria imbróglio?) para que o produto não seja confundido com a embalagem… Se você se ocupar da parte do “Olha você é linda, eu entendo que você está nervosa, você dança muito bem…” você “ocupa o espaço de um pãozinho no seu embrulho”, entende? Esta parte ela já ouve (da mãe, das amigas, do namorado, etc) o meu produto é outro: Avaliação

Se me permitem aqui vão três dicas para bem avaliar uma bailarina (na minha opinião, claro):

1 – Preste atenção ao que ela tem de bom, de facilidade. Ela sempre terá esta mesma facilidade e vale a pena “investir” nela, porque, provavelmente, esta será a sua “marca”, seu diferencial, seja um “quadrilzão”, um “sorrisão”, um “ouvido incrível”, etc. Apontar sua qualidade e, vale a pena explicar isso, significa “estude mais isto que é prazeroso pra você de estudar/executar, para que isto cresça, pois será sempre a parte mais fácil pra você e, sendo fácil e estando bom, pode tornar-se sublime através do estudo, ou, ‘sua única coisa, desde sempre’, se você se acomodar”.

2 – Aponte, claramente, o que você acredita que ela precisa melhorar, em todos os aspectos da dança que você perceba e ofereça (Sempre!) dicas e caminhos para esta melhora. “Não sei o que você pode fazer para melhorar” ela também já tem das pessoas às quais ela não paga. Portanto, se você perceber uma “coisa para ser melhorada que não é da sua alçada”, tenha humildade para consultar os colegas de banca ou, na falta da humildade (ou de tempo), não diga nada.

3 – Aceite as possíveis rejeições às suas críticas e observações! Lembre-se que nem sempre uma pessoa aceita receber um produto, apesar de ter pago por ele! E haverá rejeições sim! Eu recebo algumas vezes (não diretamente mas, claro, sempre tem alguma “boa alma” para trazer este tipo de comentário) e minha reação é a de sempre: Não faço absolutamente nada. Não faço absolutamente nada com relação a coisas que não me trarão benefícios profissionais e pessoais, nunca. Fofocas, intrigas, críticas grosseiras. Rio e saio para fumar porque “tomar um pito meu” é reservado às pessoas que eu amo e que pagam (de alguma forma) por isso.

Professora, já ta na hora?

E agora, bailarina? Você, aluna, quer mudar de nível, você professora, não sabe bem o que e como fazer…

Quem decide isso é a professora e não a aluna! Às vezes, acontece de uma menina sentir-se “injustiçada” e até mesmo, as colegas podem está-la apoiando “contra a professora” e a professora “perde a aluna”. Também se perde aluna por excesso e falta de disciplina, excesso e falta de apoio, excesso e falta de carinho, etc etc etc… Então, a aluna “perdida” seria perdida de qualquer maneira. Não tem pra onde correr!

Existe em São Paulo – e, arrisco dizer que se espalhou pelo Brasil – basicamente, duas grandes Escolas. Quando digo Escola, não me refiro à estrutura física “espelho, tenda no teto, camelo no canto” porque isso tem muito, muito mais que duas, digo escola como “pensamento”, como orientação, Norte. Estas são a Khan El Khalili e Luxor e respectivos descendentes. Eu “pertenço a Escola Khan El Khalili”, foi La que aprendi e onde passei boa parte da minha carreira de Professora. Comecei em outro lugar, numa escola de Ballet, com 5 bailarinas clássicas na aula, mas isso é outra história…

A Primeira, a Khan, em princípio, deu total liberdade para as professoras ensinarem como e o que bem entendessem e a escolha de nível era, praticamente, feita pela aluna, de acordo com o seu horário e disponibilidade. Eu dei aulas (muitas!) além das minhas próprias turmas na Khan e vi alunas avançadas em turmas Iniciantes e vice-versa (o vice-versa, claro, muito mais!). A Luxor quando surgiu, já surgiu com método, treinamento, tem um trabalho mais padronizado e tem meninas, do mesmo jeito, iniciantes em Avançados e vice-versa, nem um dos dois “métodos mais comuns” é eficiente no sentido de “Definição do que é Nível”. A DV está engatinhando nesse sentido… A DV é a única dança “Étnica” de estilo absolutamente livre, todas as outras têm “pré-requisitos e normas” já definidas, a DV, ainda não e, na minha opinião, estamos muito, mas muito longe disso… E tem, ainda, um “desequilíbrio entre Campo e Academia”. Explico: Umas dançam muito outras escrevem muito… Falta ajuste aí, também aí.

Eu não tenho Iniciantes (por uma razão muito simples, tenho muito mais procura de profissionais, então, tenho três Avançados e dois Intermediários) e nas minhas turmas Intermediárias eu tenho professoras e tenho Intermediárias no Avançado que estão lá por conta do Horário. Todas elas, no meu caso, sabem o seu nível na minha opinião pessoal por conta da minha postura com relação a elas, mas tenho (sempre tem!) uma ou outra “Diva auto-proclamada” e isso, na minha opinião, não é da minha conta. Enquanto sua “Divinisse” não atrapalhar o aprendizado das outras, deixa ela e a sua loucura pra lá que elas duas (a menina e a loucura) se viram. Se a menina começar a ficar boa de verdade, eu chamo no canto e dou um toque. Se a menina continuar “estática divando no mesmo nível” ela vai sair, sozinha, sentido-se “injustiçada”. E tudo bem!

Um professor que não é autoridade (vale lembrar que autoridade vem de Autoria!) dentro de uma sala de aula tem a mesma função do camelo no canto… Serve para “compor o clima” porque, ensinar, sem estar no comando e, de lá do comando, aprendendo com as alunas, na minha opinião, não funciona.

Em grupos muito grandes (acima de 20 meninas) também fica muito difícil “resolver isso” porque é possível, num grupo deste tamanho, “fingir ou forjar” isso e aquilo, num grupo menor, a professora tem mais controle. O que difere, pra mim, uma Intermediária de uma Avançada é o que eu espero e exijo dela, em todos os sentidos! Uma Intermediária tem até um pouco mais de “moleza” no sentido da Disciplina, de uma bailarina/professora eu já não tolero, porque meu trabalho é prepará-la para o trabalho que ela já executa e o nosso, sem muita (muita mesmo!) disciplina não vai pra frente, de jeito nenhum, então, não vou deixar pra um “Contratante” fazer o meu trabalho!

O que temos de melhor e pior são sempre duas faces da mesma moeda e o Melhor-Pior na DV é esta “Democracia”, este “Vale-Tudo” porque, daí, vira tudo opinião (lá vou eu falar de opinião!). Eu lido com isso do meu jeito… Meu jeito? “Bate-Assopra”! Eu sou uma mãe das minhas alunas, sempre fui (transferi essa energia da Maternidade pra elas) e tenho um apego louco com minhas alunas, algumas mais outras menos, mas tenho uma forma de amor-cuidado por todas, encho elas de beijinhos mas já passei cada sabão que eu teria pavor de receber. Se precisar eu boto pra fora… Na “minha casa” não tem festa, exceto quando é Festa, em letra maiúscula, daí elas “vão até o chão”, é catártico, porque no nosso dia a dia, a menina começa, por exemplo, a furar, toma “toco”, falar demais “toco”, causar com o grupo “toco” mas o que me garante a manutenção destas meninas, com tanto “toco” é que o “Produto” que ofereço é muito bom, bem preparado, tenho, mais de 25 anos (ui!) de magistério, sei e amo ensinar, tenho a tal da Autoria que me permite ter Autoridade em sala de aula e o nível do meu trabalho é que tem que contar, o meu trabalho tem que ser Avançado…

Agora, se a menina não aguenta (tem um monte que vem, faz uma aula e… sai correndo!) ela migra pra um “sistema mais aberto e divertido”… Eu costumo dizer “Você quer se divertir? Vá a um parque de diversões porque isso aqui não é, necessariamente, divertido! Não estou aqui para proporcionar ‘alegrias’ e sim ‘realizações”. Muita gente já disse que “com esta postura” eu iria “quebrar” mas, ao contrário disso, não só não quebrei como “metade” desse mercado carrega meu nome! Umas amam, outras nem tanto, tem muitos boatos sobre meus métodos “nada ortodoxos” de ensinar mas eu tenho algumas joias que me cercam (meninas de uma preciosidade rara, bela) que me dão segurança de estar no caminho certo…

O que eu acho dos outros métodos? O que eu acho da “progressão continuada” adotada em algumas escolas? Acho legal! Acho legal que tenha! Eu já achei, no passado, que “Concursos de Dança do Ventre” ou ainda Homens dançando eram “Sinais do Apocalipse”, passados vinte e poucos anos, estas duas coisas estão estabelecidas, praticamente, como “norma” no Mundo Inteiro, então a experiência (que nem sempre é tão libertadora assim) já me ensinou que eu fazendo parte ou não das coisas, elas, simplesmente, estão aí! O que vale, no final, é o brilho da menina, o desejo dela ser bailarina e, claro, um pouco de “sorte”, uma ou outra pessoa incrível no caminho (eu tive várias!) pra ir te botando no chão, caso seu Ego vire “presidente dos seus atos” porque eu já vi menina fazer “tudo certo e dar errado” e vice-versa porque estamos num Mercado em Movimento! Sendo assim, melhor deixar os julgamentos para o Tempo, que sempre decide as coisas melhor do que nós!

O que vou fazer depois?

Ops! Pergunta errada! A pergunta certa é “O que fazer durante/enquanto dança?”. Quando temos vinte e poucos anos pensamos: “Depois que eu me casar e tiver filhos eu paro!” ou “Depois eu penso!” e nem uma coisa nem a outra funciona, a primeira, porque não temos bola de cristal pra saber SE vai casar, SE vai ter filhos e quem será esse marido aí? Um príncipe num carrão branco (porque cavalo hoje em dia, não dá!) que irá te laçar num palco qualquer, te dar uma casa, um bebê e um emprego? E “pensar depois” já será depois!

Como a minha experiência é “só o que tenho”, vou falar dela:

Como eu disse na matéria anterior (que é um bom “gancho” pra essa aqui!) dos 23 anos que estou envolvida com DV, “vivo de DV” há apenas 7, sempre tive atividades paralelas e passei a trabalhar somente com DV quando não tinha mais agenda para outros trabalhos, porém, nunca parei de estudar, nem de produzir. E foi meu outro trabalho que “montou meu guarda-roupa e me mandou pro Egito” pela primeira vez.

No lançamento da minha capa da Shimmie, aproveitei para fazer um Vernissage (Telas a óleo e esculturas) e as duas telas que vendi pagaram o vinho chiquérrimo que servi no Vernissage e ainda sobrou um “cachê” para mim! Pinto desde 2000, esculpo desde 2010 e escrevo desde que aprendi a escrever. Tenho dois livros escritos, prontos para publicar, entretanto, por falta de tempo, devido ao meu trabalho, ainda não os lancei, além das telas inacabadas (tempo… ai o tempo que nunca dá!) e esculturas “preparadas” que ainda não “foram para o barro”. Somente aí, tenho “trabalho acumulado” desde já, e olha que eu tô bem longe de ter “tempo sobrando”…

Em 2005, quando fui ao Cairo pela primeira vez, Mm. Raqia me pediu pra traduzir o Workshop da Soraia e eu passei uma semana “pensando em DV em inglês” (o Cairo fervendo lá fora! Passeios, Baladas e eu, “presa em casa, estudando”), me preparando pra isso: um “trabalho não remunerado”, um “favor pessoal” que fiz com o máximo de profissionalismo que pude… Mais tarde, quando Mm. Raqia me convidou para dar aula no Egito já sabia que eu poderia dar uma boa aula em Inglês! Minha “apresentação” já havia sido feita, por mim mesma.

Percebi, nestas idas ao Cairo que aquele “árabezinho” que eu falava impressionava os egípcios e as bailarinas e me “abria portas”, então, valeria a pena investir: Contratei um professor particular aqui no Brasil em 2006 e, a partir de 2008, comecei a estudar no Cairo, anualmente… Ainda era pouco… Um dia, um taxista me falou: “três meses e você aprende direito!”. Bom… Três meses no Cairo… Preparei mala, fiz uns contatos, guardei dinheiro e lá fui eu… Mas… estourou uma Revolução e nada do que eu havia planejado seria possível em 2011… A medida que eu fui contando as histórias que via por lá para meus amigos aqui, começaram os pedidos “Escreve um livro!”. Aproveitei o tempo ocioso (que era quase todo o tempo que tinha, sozinha, amedrontada, deprimida) e este é o segundo livro que escrevi, que aguarda tempo para Publicação.

Em 2008 conheci uma moça da França que me disse que havia um “Grupo de Estudos” do meu trabalho em Paris, resumindo, em 2009 eu estava lá, dando aula pra elas… Percebi que as francesas não falam inglês (Não falam! Não é que “falam e não querem” como dizem, não falam, mesmo…) e que gostavam muito do meu trabalho… Pensei “preciso aprender francês!”. Em 2011 soube que a Dina (sim! a Dina!) havia lançado um livro em francês e reencontrei este grupo de Paris no Egito, quando me contrataram para um Show (num jantar, no Cairo). Juntei minha necessidade profissional de ler o que a Dina tinha a dizer com o amor que vi que estas parisienses tinham por mim e prometi a elas: “Na próxima vez que eu encontrar vocês, iremos conversar em francês!”. O livro? Li! É uma aula de DV, de Cultura Egípcia, e uma explicação do “porque a Dina é a Dina”, valeu cada minuto de leitura!

Matriculei-me numa escola de francês aqui no Brasil e, enquanto estudava, fui “alinhavando” uma ida para a França, pra passar um mês estudando “in loco”… Uma pessoa disse pra outra, que disse pra outra e, quando eu vi, tinha uma Turnê, com 9 cidades na Europa que duraria três meses. Fui morar numa casa de família e estudar francês, durante a Turnê. Trabalhava nos finais de semana e, durante a semana, estudava (muito!) na escola e sozinha. Quando fui para Paris dar aula, depois de 3 meses de estudo aqui e um mês na França e, conforme prometido, tanto as conversas quanto as aulas foram em francês! O que, afinal, eu conheci na França, morando lá por 3 meses? Um pouco de Cultura e Idioma. Não, não visitei lugares incríveis porque tinha outras prioridades para meu tempo e dinheiro. Opção, como tudo!

Daí, pintou um convite para o Chile… Tinha dois tradutores na minha aula, um que falava árabe e uma que falava português… Mas… Não precisei de ambos porque estudei espanhol antes de ir (apenas espanhol falado, suficiente para as aulas) e falar o idioma local ganha tempo e, principalmente, “moral”! Mas meu espanhol tá muito “mequetrefe” e, como minha contratante no Chile reiterou o convite para este ano, estou me matriculando em uma escola de espanhol JÁ! Além de ter “mais assunto” sobre DV que no ano passado, estarei falando um espanhol melhor!

Cheguei a pensar na Copa do Mundo! Afinal, 5 idiomas e “jeito pra lidar com gente” eu poderia fazer um “freela”, só que ainda não tenho tempo livre pra freelas porque estou ocupada com DV.

Então, o que fazer depois? É só aproveitar o tempo que terá livre pra continuar o que vinha fazendo antes! E, esse ano, se Deus me Der tempo, volto a estudar música, por puro capricho, porque adoro música! O dinheiro? Virá! O dinheiro vem de coisas que você faz bem feitas! E, pra fazer bem feito tem que ralar, estudar, se dedicar, investir… Não tem outro caminho!

DICAS!

– Preste atenção aos elogios, críticas e conselhos e especialize-se e aprimore-se no que você faz bem, dentro e fora da Dança do Ventre.

– Guarde dinheiro (ainda que pouquinho!) e o que gastar, gaste com coisas duráveis, de qualidade, se você se apertar, faz um “brechó” e tem um extra pra reinvestir.

– Mantenha suas amizades e seus relacionamentos de fora (Lembre-se: Esse monte de gente que é apaixonada por você, na verdade, ama a sua personagem e tudo bem! É assim que tem que ser!). Porque se você passar dez anos “Divando na balada árabe” e só, vai ficar um pouco só daqui há dez anos.

– Não se esqueça que “a sorte é o encontro do preparo com a oportunidade” então, esteja sempre preparada e a oportunidade vai aparecer!

No começo foi assim

Quando a gente tem 20 anos, saindo da adolescência, se sente ficando velho pela primeira vez. Eu senti. Depois de novo aos quase 30, depois com uns trinta e cinco e, por incrível que possa parecer, passa. E esse sentimento, esta sensação de urgência, muitas vezes é o que nos move. Foi assim que comecei a dançar. Porque “já estava” com 21 anos e precisava fazer alguma coisa para cuidar do corpo. E foi neste exato momento que encontrei uma amiga minha tinha ido à Khan El Khalili (Casa de Chá, em São Paulo) e, numa conversa sobre isso, sobre estarmos precisando ter um carro, um emprego, um namoro sério que surgiu essa questão de cuidar do corpo. E ela disse “Jade, eu achei esse lugar a sua cara!.. Eu vi que lá tem aula de Dança do Ventre!” e me deu um cartão.

Eu tinha acabado de arrumar um “bom emprego” e folgava às quintas. Na minha primeira folga, com o cartãozinho na mão fui até lá.

Tinha uma aula que começava às duas e eu podia experimentar! Como eu era meio “hippie”, a roupa que estava usando (saia comprida e blusinha) era adequada para a aula.

Entrei pela primeira vez no Harém da Khan El Khalili e fiquei aguardando a professora.

A professora: Layla. Treze tatuagens no corpo, cabelo vermelho merthiolate, blusa de onça, micro saia e cuturno. Olhos grandes e verdes e voz de veludo.

Me lembro, claro como se fosse hoje, da primeira música que ouvi. Era “Wa eh yanni”, do Omar Diab. Era a música do aquecimento.

Na minha turma, mulheres exóticas, tipos que eu nunca tinha visto fora da TV, na distante periferia onde nasci e fui criada, na Zona Leste de São Paulo.

O cheiro de insenso, a Layla, aquela música… Parecia um sonho e, ao mesmo tempo, uma coisa que sempre havia estado em minha vida, uma confortável e inédita sensação de “pertencimento” de estar em um lugar que era adequado pra mim, que combinava com as minhas roupas, com o meu cabelo, com as coisas que eu julgava belas. Eu não sabia o nome daquilo, mas era o “Mundo Árabe” entrando de maneira sutil e definitiva na minha vida.

Naquele dia comprei fitas K7 (Henkesh, Omar Diab, George Abdo e Najua Karam). Ao chegar, antes de entrar em casa (embaixo de casa era a Imobiliária do meu pai) pedi para o meu pai comprar um espelho pra mim! Subi com o espelho na mão “Mãe, me ajuda aqui!” afastei uns móveis, botei o espelho na parede, um tapete no chão e nunca mais saí de lá.

Não tinha nenhuma intenção de me profissionalizar, sequer pensava nisso, mas a dança me dava muito prazer, vi naquele espelho uma beleza que eu não tinha visto antes.

A Layla me disse, lá pela terceira ou quarta aula: “Você será uma bailarina brilhante! Queira ou não, é uma coisa que tá em você, na sua vida! Você tem que estudar bailarinas egípcias, seu estilo é egípcio e não tem nada a ver com o que a gente faz aqui!” Eu não sei bem se acreditei ou não, sinceramente mas sou um tipo de aluna que, se eu confio na professora eu faço o que ela manda e ponto. Me levou na casa da Samira (Samia) e no Omar (Naboulsi) e comprei vídeos pra estudar: Fifi Abdo, Mona Saaid e alguns vídeos que eram “moda” na época.

Estudava todos os dias, ainda estudo muito. Porque gosto, mais do que porque preciso, estudo tudo que posso, arte, idiomas, política, esculpo, pinto, escrevo, porque gosto. E vou dizer exatamente o que foi que aconteceu: De tanto me dedicar aprendi e, de aprender meu telefone começou a tocar. E, 19 anos depois estou aqui, contando essa história absolutamente real.

El Tarab…

Nada que diz respeito ao Mundo Árabe é possível de ser colocado em um envelope, lacrado e etiquetado. Política, Religião e Tradição se entrelaçam o tempo todo. Dentro da Tradição, existe a Cultura e, dentro da Cultura, a Arte, ainda entrelaçada com estas “outras coisas”, assim são a música e a dança árabe: Tudo depende… É Tarab? Depende… E este é um bom jeito de começar a ensinar, explicando que não será possível aprender uma coisa só. “Só Tarab” ou “Só Religião”, não, não dá…

Existem alguns cantores e compositores que trabalharam somente dentro deste “ambiente”, como é o Caso da Oum Kalthoum. Tudo que Oum Kalthoum canta é, obrigatoriamente, Tarab, por ser ELA cantando, então, qualquer música que tenha sido cantada pela Oum Kalthoum é Tarab? Não, não é. Se for feito um “remix” de uma música, tirando dela características originais de arranjo e composição, bem como somando outras, pode ser que permaneça sendo Tarab ou não.

O que não é Tarab? Esta é fácil!: Folclore, fusion, shaabi, moderno, Ocidental. O que é Tarab? É um Universo, é uma Sensação, é um “Elevar-se”, é um Portal, um portal que não pode ser visto de longe, é uma fonte, uma fonte que não aceita cantis, uma fonte onde somente é possível mergulhar ou admirar de longe, muito longe.

Há alguns bons anos, uma bailarina dançar um “Tarab” seria a mesma coisa que a Carla Peres fazer uma performance com uma música do Paulinho da Viola. Não agradaria nem aos fãs de Paulinho, nem de Carla Peres, seria o cruzamento de dois Universos, até então, Paralelos. Até que Suhair Zakie decidiu incluir músicas da Oum Kalthoum em seu Show e, como é comum às grandes estrelas como a Suhair, passou a ser permitido. Assim é a Dança do Ventre: Uma estrela autoriza e todas nós, “mortais”, podemos experimentar, como foi o caso da Fifi Abdo com Shishas e insensos, como foi a Dina, com relação aos figurinos, Madame Suhair Zakie, para nossa sorte disse “Sim, pode!” e, agora, pode.

Depois de algumas discussões sobre o Contexto Histórico destas composições (discussões sobre História e Geo-Política no Oriente Médio, bem como língua árabe), em sala de aula, podemos seguir alguns passos para, absolutamente nuas, mergulharmos nesta Fonte e, quem sabe, experimentar este mistério que é o Tarab…

A LETRA

Eu e, por consequência, as bailarinas com quem trabalho (de quem sou professora ou orientadora), no caso de músicas cantadas, partimos da letra. Conhecendo algum “Vocabulário Romântico” em árabe já é possível ter uma ideia do que se trata a letra, este conhecimento, somado à uma mão do nosso “Senhor Google” e Voilà! É possível ter uma ideia do que se trata a canção. Com a letra na mão (ou seria no coração?) partimos para coisas mais técnicas.

ESTRUTURA DE COMPOSIÇÃO DE MÚSICAS TARAB

Existe uma Estrutura “mais ou menos fixa” nas composições que é a seguinte:

– História

– Detalhes da História

– Lamento

– Solução/Resignação

Esta forma (exceto pela primeira e quarta partes) não é, necessariamente, linear. Às vezes, há a história, detalhes, lamento, mais detalhes, repetição da história, etc…

Existe, por convenção, nas composições Tarab, a supervalorização do Virtuosismo e do Improviso, portanto, no momento da execução, uma composição que tinha, originalmente 20 minutos, passa a ter 40, 50, porque “o clima” ou “o momento” impulsionaram músicos a estender um Taksim ou um Mawal. Mais uma vez, “Depende”.

Já temos a letra “dissecada”, separados os “Quatro Momentos”, portanto, já podemos pensar em técnica.

Quais são os instrumentos que fazem os “Taksims” (Improvisos)? Como estes instrumentos devem ser interpretados ? Qual a diferença entre um “Violino Lamento” e um “Violino contando a história”? E, a medida que conhecemos melhor a música, a dança vai se formando dentro de nós.

TÉCNICA RECOMENDADA

Técnica recomendada seria a mesma coisa que “Gramática recomendada”. Se a pessoa que escreve não tiver uma “boa ideia”, não há gramática que dê jeito! O que é a expressão a final? Etimologicamente falando, é a “ação de demonstrar uma coisa implícita” se falarmos de sentimento, o que é a expressão na Dança do Ventre? É a ação de demonstrar um sentimento, certo? Então, se o sentimento for “não tenho ideia do que estou fazendo”, esta será a expressão, da mesma forma que, se o sentimento for “é uma delícia dançar”, isto será o que “está na cara”. Então, a técnica é uma coisa que se usa para expressar uma ideia (qualquer técnica, qualquer ideia)…

Uma menina pode dizer à outra “Eu gosto dele, sabe… mas tipo… sei lá, me faz tipo meio mal… eu queria sair com o cara mas… daí depois eu fico, tipo esperando que, sei lá, ele venha atrás de mim… sei lá… eu…”, e a Clarice Lispector disse “Gostaria de poder continuar a vê-lo, mas sem precisar tão desesperadamente disso!”. O sentimento das duas é o mesmo, mas a Clarice tem “Técnica para Expressá-lo”, a outra menina, não. Então, posso afirmar que não há sentimento que fique belo em sua revelação, sem que haja técnica para revelá-lo.

E, já que falamos em etimologia, o que é “revelar”? É “velar uma vez mais” para que a coisa possa ser vista, como se você tivesse a sua frente uma maçã invisível que, coberta com um véu, através do véu, fosse possível ver, sutilmente, que ali há uma maçã! A “Revelação” implica em um tempo e um desejo do interlocutor, de ver o que está sob o véu, é uma coisa diferente de “mostrar”, mostrar é uma coisa para se fazer “em sala de aula”, “isso aqui se faz assim!”, para o público (o Publico!!! Eles sim, eles é que contam!) fazemos “revelações” e não “demonstrações”. Isso é Dança do Ventre! É desafio, exposição, revelação, é Tarab, sou eu, você e todos os ventres do Mundo. Ensinar? Tenha a confiança de suas alunas, se entregue a elas e aperte, aperte, aperte, que sai!

Aluna? Professora? Ou seríamos, todas, os dois?

Tem duas frases que explicam muito do que eu sinto sobre o Magistério: “Só aprende quem ensina e só ensina quem aprende” (autoria desconhecida) e “A única via eficiente de transmissão de conhecimento é a afetiva” (esta, de minha autoria). Ou seja, pra ser uma professora “razoável”, 1 – Tem que continuar aprendendo e 2 – Tem que ter amor pelas meninas. Partindo destes dois pontos é que vem todo o resto!

Quando a menina está pronta pra dar aulas?

– Quando tiver (muita!) gente pendindo “Me ensina!”

– Quando ela tiver um conhecimento “Amplo” sobre DV (até mesmo sobre os assuntos que não domina com propriedade, para que possa reconhecer e indicar quem o domine, de acordo com os questionamentos que surgirão de suas alunas).

– Quando “Mamãe dizer que pode”. Isso, pra quem tiver uma “mamãe”.

Entretanto… O que leva uma menina a querer “virar professora” costuma ser um outro – paupérrimo! – argumento: “Levantar uma graninha pra ajudar a bancar a Dança do Ventre”. Já pensou se a moda pega? O sujeito que faz medicina, por estar gastando muito com sua formação “resolve virar médico”? E esse é um ponto do texto que alguém vai dizer “Ah, mas não tem nada a ver!” Pois é… tem sim! Pra mim, tem! Se eu fosse médica, administraria minha carreira, exatamente, como administro: Com profissionalismo e seriedade, me mantendo atual, sem abrir mão das “técnicas tradicionais” que acumulei no decorrer da minha experiência…

Vou brincar com a analogia do médico: A bailarina que tem “Naima Akef Centrismo” é como um médico que deseja trabalhar com Lobotomia e Sanguessugas em 2013. Simples assim! Tem que saber quem é a Naima, conhecer a técnica dela, estudar, adaptar o que ela fazia ao seu corpo e ao seu tempo. E mando outra frase de efeito: “O artista que não é de seu tempo não está em tempo algum!” (não me lembro onde ouvi) e um trecho de uma música da Oum Kalthoum que a Suhair Zaki cita em uma entrevista: “Se você quer voltar aos velhos tempos, pergunte a eles se ele podem voltar!” (e essa é muito boa!).

Então, aquela aula “Sente a música e segue aí!” é a “nossa Sanguessuga”, já foi! Foi legal! Ensinou muita gente mas… Foi há muito tempo, agora, é uma outra coisa! A aluna joga um negócio que você cita no Google e na semana seguinte traz mais informações do que as que você mesma tem… E daí? E daí que, se “na casa dela, sem gastar um real” ela tem “o mesmo que você”, você perde uma aluna e ela está certa e seguir seu rumo! Se”o seu rumo” for um devaneio da aluna, melhor ainda pra você! Você ganha em perder!

Uma vez, no exterior, dei uma aula (polêmica…) teórica sobre Oum Kalthoum e uma aluna disse à contratante que “tudo que eu havia dado na aula ela poderia encontrar na Internet” e eu disse “Peça a ela, por gentileza, mandar os links que eu devolvo o dinheiro dela e da turma inteira!”. Bom… Europa, foi literal! Ela disse, mesmo, à menina e esta, nos dias que se seguiram, me escreveu, pedindo desculpas. E a sua aula? É sua? O que você chama de “pesquisa”? Vale refletir…

Eu acho que nasci para o Magistério! A primeira coisa que eu quis ser na vida foi professora! Nesta minha “fase bailarina” eu dou aula de dança, quando esta passar, darei aula de outra coisa mas eu, particularmente, preciso ensinar, se não eu explodo, eu acumulo demais, não cabe em mim, eu tenho que passar, é um dom, mesmo, ao qual sou muito grata! E, mesmo acreditando nisso, quando me convidaram pra dar aula pela primeira vez (o que eu achei ótimo porque, se Dança do Ventre é caro hoje, vocês não imaginam o que era esse “caro” há 20 anos atrás!) e eu liguei para minha (eterna, única, insubstituível) professora, a Layla que me disse: “É cedo pra você, Jade!” eu insisti! “Mas a moça quer!” e ela “O que é seu nesse mundo é só seu e te aguarda!” eu perguntei “Quanto tempo eu preciso mais de aula?” e ela disse “Um ano! Peça pra ela te ligar de novo daqui há um ano!”. Eu, confesso, meio frustrada, sem botar muita fé, liguei pra moça e disse exatamente o que a Layla mandou dizer. Um ano depois, a moça me ligou de novo e foi como eu consegui meu “primeiro emprego na Dança do Ventre”. Com mais de 6, 7 anos de Magistério mais a “bênção” da Layla. Fui lá: confiante, com uma professora que eu amava e que me amava também para me orientar neste início. Eu comecei assim!

E como foi que eu banquei a Dança até “o dinheiro começar a entrar”? Trabalhando, ué! Do jeito que as pessoas da minha classe fazem para aprender as coisas… Trabalhando, economizando, tendo prioridades…

Eu vivo de Dança do Ventre há apenas 6, dos 22 anos que eu danço. Por que? Porque, como conta minha mãe, a primeira coisa que eu disse na vida foi “Eu não quero!” e pra poder dizer tantos “Eu não quero” (não vou, não faço, não gosto…) que eu disse – e continuo dizendo! – na minha carreira, eu precisava de uma fonte de renda porque, com o Sapato furado você tende a “topar” muito mais do que com a sapateira em dia (e aqui, caberia uma “piscadinha”!).

Já crescidinha, durante o exercício de minhas diversas profissões, queria ser musicista, estudei piano, canto, queria ser regente… Só que a sociedade está “andando” pro que você gosta ou deixa de gostar de fazer! Ela te paga pra fazer o que você faz bem! E é por isso que eu sou bailarina! Porque danço direitinho! Olha que simples! A música? O que sei sobre música (foram 7 longos anos de conservatório pra “nunca ter pisado num palco pra tocar”!) é o que nutre minha personagem, é o que “assina” a minha dança, então, não houve o “tempo perdido” e eu continuo envolvida com música, canto uns bolerões em família, “tiro uma onda”, virou diversão, atividade “extra”. Agora, se eu dou aula de música? Não, claro que não, por razões muito simples: O que sei não é suficiente, tem gente muito melhor que eu pra ensinar isso, porque não tenho “Campo” e porque não faria aula de música comigo mesma!

E lá vou eu falar de opinião de novo! Esta é SÓ a minha opinião! Acho que a menina tem que se questionar, sabe? E, de onde tirar o dinheiro que se gasta com Dança do Ventre? Do seu bolso, oras bolas! De pessoas que desejam aprender um negócio que você ainda não está pronta é que não deve ser!

A Garota da Capa

E então a Rhazi me ligou e disse “Quer ser capa da Shimmie?” e eu, no primeiro suspiro durante o processo todo fiz minha primeira descoberta: Não, não sabemos o que queremos, não! Porque eu fiquei numa felicidade tão imensa e era uma coisa que eu, simplesmente, não havia reparado: Sim! Eu queria ser capa da Shimmie!!!

E vieram as Celebrações! Na sexta-feira, 7 de junho pp, no Núcleo Ju Marconato em Araraquara. A Ju é linda e dança Dança do Ventre muito bem. Então, nos perguntamos “tá, o que mais?” e, tendo visto o nascimento de algumas estrelas, me pergunto sempre o que mais e a resposta é uma só: Autenticidade. Quando um artista faz o que acredita (porque leu, inventou, decidiu, aprendeu, não importa!) a coisa vai! Mas tem que ser de verdade! Crer numa coisa é uma atitude com relação à coisa e não um sentimento! A Bíblia diz que a fé sem obras é vã e a fé sem preces é vã! Crer, até mesmo em Deus que ouve seu coração é uma coisa que tem que te levar em algum lugar! Assim, a menina que “acredita numa coisa”, vai nela à fundo e eu não estou falando nem do Google nem de PNL! Estou falando de ralação, de investimento de tempo e dinheiro, de horas sem TV. Autenticidade com investimento alto! Aí vai!

Certa vez, uma menina veio fazer uma aula particular comigo e disse “Meu ‘problema’ é a Fulana! Na minha cidade, só querem saber da Fulana! O estilo da Fulana bla bla bla…”. Depois de deixá-la desabafar, olhei para o relógio e disse “Olha, ela nunca foi minha aluna, mas se estivesse aqui, eu apostaria minha perna direita como não estaria falando de você há 20 minutos!”. E essa foi a primeira vez que eu ouvi o nome “Juliana Marconato”. E uma única noite com ela me fez entender o que essa moça tem “de mais”.

Muitos beijos, abraços, declarações de amor, em um lugar belíssimo, com comidinhas quentinhas e cerveja gelada! Sorrisos e gentilezas aos montes, entre todos nós. Simplesmente, perfeito! Impecável e de bom gosto!

E, já que eu estava assim, tão “em alta”, decidi me arriscar um pouquinho, só pra dar uma “Reclimada” no meu modo Garota da Capa e, aproveitando o lançamento da Revista no meu estúdio, fiz um Vernissage pela primeira vez, apresentando gravuras, telas e esculturas, que produzo desde 2001 e nunca havia exposto! Acho que eu precisava que gostassem de mim de outro jeito e queria correr o risco de não gostarem! Lição 2? Ai, como eu queria que gostassem!!! Vinho, música, frutas secas, meus melhores amigos, alunas, convidados muito mais que VIP´s (daqueles que não vão a parte alguma!) e (ufa!) eles gostaram!

Gostaram tanto que, além de elogios e delicadezas no Livro de Visitas, vendi duas telas! Primeira colherada de sucesso nas Artes Plásticas! Sucesso é quando querem comprar uma ideia sua! Para minha sorte, ambas foram adquiridas por amigas muito queridas e foi um grande alívio saber onde elas vão morar!

Domingo, 9 Noites no Harém, no Sagrado Harém da Khan El Khalili! O Jorge (Sabongi) me recebe de braços abertos, olhos azuis arregalados e um sorriso que recheava a cara: “Jadiskão! (pois é… ele me chama assim!) E aí, Superstar?!” e me dá aquele (aquele!) abraço! Adorou minha entrevista, adorou a foto de capa, diz que dá vontade de ler mais, diz “o volume 001 do seu livro é do Habibi!” e eu penso (Lição 3 a caminho!) “É… é a aprovação do Jorge… é legal, né…” (rs…).

E tudo isso, desde a porta da minha casa a caminho de Araraquara, na companhia das gatinhas da Shimmie Rhazi, Dani e Josi e este é um parágrafo à parte! Que delícia! Que deleite! Mulheres inteligentes, cheias de humor e de estilo, educadas, discretas, um arraso! Do telefonema da Rhazi ao abraço de despedida das meninas no Jardim da Khan El Khalili foi, literalmente, só alegria! E uma alegria que não é pra “quebrar o galho”, uma intimidade que não é pra “troca de favores”, são coisas espontâneas, naturais, que brotam entre pessoas que têm espaço para receber, desejo de doar, é um bálsamo nesse mundo oco em que vivemos agora! E me lembrei de uma coisa fácil de deixar de lado, mas, sem a qual esse mundo se torna insuportável: As pessoas são boas! A maioria delas é, sim!

E, ao contrário do que poderia parecer, o último final de semana, para mim, foi uma lição de humildade! Descobri que todas (ou quase todas) nós quer, exatamente, as mesmas coisas, todo mundo quer ser amado, aprovado, viver cercado de pessoas boas e todo menina quer, um dia, ser a Garota da Capa!

Visual – Tradição, mito e modismo

O visual da bailarina árabe é e sempre foi moda. Nos anos 50, era aquela estética “pin-up” (cabelo curto, enrolado pra dentro, carinha de menina e beicinho). Assim faziam Samia Gamal e Marilyn Monroe. Nos 70, cabelão “fofo”, feito no bob, sobrancelha quase depilada e delineador carregado – assim eram Aza Sharef e Catherine Deneuve. Nos 80, era o horror! Cabelo pigmaleão, tudo bufante, tudo fofo, tudo sintético; assim eram a Fifi Abdo e o resto do planeta (engraçado como moda “feia” anda mais rápido e mais longe, não?). Nos 90, uma confusão! Um pouco de vontade de voltar para os 70, somada a um “chute” do que seriam os 2000… tudo era “meio New Wave”. Assim era a Dina e também o resto do mundo.
Ou seja, o “visual tradicional” é mais um mito. Nunca existiu! E a moda é o que sempre foi: vai quem quer! Nós artistas? Bom… no nosso caso, “vai quem quer ter sucesso”, porque “enfiar o seu desejo goela abaixo do seu público” é que não vai funcionar, mesmo! Eu vejo pela rua pessoas vestidas de “sei lá o quê” e acho legal! Que legal que a pessoa veste o que quer, mas só vai até aí… até o “Que legal!” e ponto.
A estética atual é quase Drag Queen! Eu percebi isso há alguns anos, vendo um Carnaval Gay na TV. Parecia um Festival de Dança do Ventre! De repente a ficha caiu! É a estética do “ou tem ou compra” (cabelo, bunda, peito, pele etc.). Assim somos eu, a Beyonce, a Dina, a Madonna. É uma escolha estética. É um direito ao uso do próprio corpo.
Eu gosto! Eu gosto muito! Eu acho que se uma mulher como eu não puder fazer o que bem entende com o corpo, sendo livre, artista, polêmica, feminista e feminina, que será das “mulheres comuns”? Hoje em dia, somos atendidos por médicas e advogadas que têm silicone, megahair, tatuagem, piercing… é moda! Ainda e de novo… é moda!
Quando a Dina veio ao Brasil, em 2005, ficou muito impressionada com a qualidade das alunas aqui e fez dois comentários: “se as brasileiras aprendessem árabe, não teria pra ninguém!” e “por que vocês usam roupas dos anos 90?”. Eu, muito atenta e sempre “louca pela Dina”, parei pra pensar sobre isso e, em mim, suas palavras causaram um “impacto” muito grande. Nestes nove anos eu “reinventei minha personagem” e aprendi árabe direito (hoje falo com fluência, graças a Deus!) e, a partir desta reinvenção, tive mais sucesso e, consequentemente, passei a ganhar melhor.
Então, eu não engordo, não uso roupas “noventistas” (franjas, mangas, coroas, coisas passando pelo corpo, coisas “fofas”, em geral), e gasto uma porcentagem bem alta do que ganho com meu cabelo, pele e alimentação, pois percebo que isso é bom para mim! Então, a estética boa para mim é essa que vocês estão vendo: peitão, pernão, cabelão, roupa colada no corpo e, claro, continuo estudando e aprendendo todos os dias, porque esta “reforma”, se tivesse sido feita “só do lado de fora”, teria tido o efeito contrário, eu teria “piorado”, teria “perdido a essência” e sabe-se lá mais o que teriam dito. Quando uma menina decide mudar, tem que mudar de dentro pra fora!
E tem também a questão da idade! Se uma menina de 20 anos engordar, dirão “Fulana está gorda!”; se eu engordar, dirão “A Jade está velha!”, e eu sou muito mimada por esse mercado! Minha autoestima não toleraria uma “rejeição” dessas e iria influenciar em meu trabalho.
Eu não só “concorro” com meninas 20 anos mais novas que eu, como também, com meninas que cobram metade do que eu peço (ou menos, ou nada; algumas até pagam, que eu sei!) e não sou a pessoa “mais diplomática do mundo”, muito pelo contrário. Esta minha “autenticidade” me custa bem caro! Então, a mim, que sou ruim de política, de jeitinho, de diplomacia, e exijo mais que a média, tanto de alunas quanto de contratantes, me resta estar sempre no meu melhor estado! O seu melhor estado é aquele que te faz sentir confortável com você mesma, com a roupa que você deseja vestir, executando a técnica que você escolheu. Então, há que se “buscar este estado” e mantê-lo! Tem gente “do lado de fora” que não entende bem isso, que me vê dizer “não” para algumas guloseimas, comentar “Hoje eu não como, porque à noite tenho Show!”, e brinco, digo, “Olha, segunda-feira, você estará de pé às 7h! Eu durmo até as duas! Você tem ‘bônus’, seguros, ticket. Eu não! Uma juíza não pode ter tatuagens nas mãos. Eu tenho. Ela pode pesar 120 kg. Eu não!”. É meu trabalho, meu trabalho exige e pronto. Tanto quanto exige que eu dê aulas de 6 horas, depois de voar por três, tendo acordado às 5 horas da manhã, tudo isso de bom humor, maquiada, com a aula na ponta da língua! Eu concorro (e muito) comigo mesma! O show de amanhã tem que ser muito melhor que o de ontem! Na técnica, na essência, na estética, em tudo que pode ou não ser avaliado, especialmente, por mim!
O que eu acho de bailarina gordinha, de cabeça raspada, de dread, roupas dos anos 90 etc? Eu acho que todos nós temos direito de escolher a “cara da nossa bailarina” e ir atrás disso, porque esse papo (furado – já falei muito disso ultimamente!) de Sentimento OU Técnica, como se fossem coisas opostas, como Beleza OU Técnica é só isso mesmo, papo furado! Porque “o cara que paga a conta” está “andando” (gerúndio que mantém o nível deste texto!) pros seus sentimentos ou aulas ou genética, ele quer TUDO e é esse tudo que eu quero oferecer! Tem gente que me ama, tem quem odeia também, mas a turma do “ama” é a que me importa. É para eles, somente para estes e para os que “vêm abertos” que eu trabalho, que eu danço, que eu escrevo.
E, principalmente, pra você que, mesmo com um ou outro engasgo, chegou até o final deste texto e, quem sabe, querendo, possa também se reconstruir (primeiro dentro!) e gozar no final!