Tem duas frases que explicam muito do que eu sinto sobre o Magistério: “Só aprende quem ensina e só ensina quem aprende” (autoria desconhecida) e “A única via eficiente de transmissão de conhecimento é a afetiva” (esta, de minha autoria). Ou seja, pra ser uma professora “razoável”, 1 – Tem que continuar aprendendo e 2 – Tem que ter amor pelas meninas. Partindo destes dois pontos é que vem todo o resto!
Quando a menina está pronta pra dar aulas?
– Quando tiver (muita!) gente pendindo “Me ensina!”
– Quando ela tiver um conhecimento “Amplo” sobre DV (até mesmo sobre os assuntos que não domina com propriedade, para que possa reconhecer e indicar quem o domine, de acordo com os questionamentos que surgirão de suas alunas).
– Quando “Mamãe dizer que pode”. Isso, pra quem tiver uma “mamãe”.
Entretanto… O que leva uma menina a querer “virar professora” costuma ser um outro – paupérrimo! – argumento: “Levantar uma graninha pra ajudar a bancar a Dança do Ventre”. Já pensou se a moda pega? O sujeito que faz medicina, por estar gastando muito com sua formação “resolve virar médico”? E esse é um ponto do texto que alguém vai dizer “Ah, mas não tem nada a ver!” Pois é… tem sim! Pra mim, tem! Se eu fosse médica, administraria minha carreira, exatamente, como administro: Com profissionalismo e seriedade, me mantendo atual, sem abrir mão das “técnicas tradicionais” que acumulei no decorrer da minha experiência…
Vou brincar com a analogia do médico: A bailarina que tem “Naima Akef Centrismo” é como um médico que deseja trabalhar com Lobotomia e Sanguessugas em 2013. Simples assim! Tem que saber quem é a Naima, conhecer a técnica dela, estudar, adaptar o que ela fazia ao seu corpo e ao seu tempo. E mando outra frase de efeito: “O artista que não é de seu tempo não está em tempo algum!” (não me lembro onde ouvi) e um trecho de uma música da Oum Kalthoum que a Suhair Zaki cita em uma entrevista: “Se você quer voltar aos velhos tempos, pergunte a eles se ele podem voltar!” (e essa é muito boa!).
Então, aquela aula “Sente a música e segue aí!” é a “nossa Sanguessuga”, já foi! Foi legal! Ensinou muita gente mas… Foi há muito tempo, agora, é uma outra coisa! A aluna joga um negócio que você cita no Google e na semana seguinte traz mais informações do que as que você mesma tem… E daí? E daí que, se “na casa dela, sem gastar um real” ela tem “o mesmo que você”, você perde uma aluna e ela está certa e seguir seu rumo! Se”o seu rumo” for um devaneio da aluna, melhor ainda pra você! Você ganha em perder!
Uma vez, no exterior, dei uma aula (polêmica…) teórica sobre Oum Kalthoum e uma aluna disse à contratante que “tudo que eu havia dado na aula ela poderia encontrar na Internet” e eu disse “Peça a ela, por gentileza, mandar os links que eu devolvo o dinheiro dela e da turma inteira!”. Bom… Europa, foi literal! Ela disse, mesmo, à menina e esta, nos dias que se seguiram, me escreveu, pedindo desculpas. E a sua aula? É sua? O que você chama de “pesquisa”? Vale refletir…
Eu acho que nasci para o Magistério! A primeira coisa que eu quis ser na vida foi professora! Nesta minha “fase bailarina” eu dou aula de dança, quando esta passar, darei aula de outra coisa mas eu, particularmente, preciso ensinar, se não eu explodo, eu acumulo demais, não cabe em mim, eu tenho que passar, é um dom, mesmo, ao qual sou muito grata! E, mesmo acreditando nisso, quando me convidaram pra dar aula pela primeira vez (o que eu achei ótimo porque, se Dança do Ventre é caro hoje, vocês não imaginam o que era esse “caro” há 20 anos atrás!) e eu liguei para minha (eterna, única, insubstituível) professora, a Layla que me disse: “É cedo pra você, Jade!” eu insisti! “Mas a moça quer!” e ela “O que é seu nesse mundo é só seu e te aguarda!” eu perguntei “Quanto tempo eu preciso mais de aula?” e ela disse “Um ano! Peça pra ela te ligar de novo daqui há um ano!”. Eu, confesso, meio frustrada, sem botar muita fé, liguei pra moça e disse exatamente o que a Layla mandou dizer. Um ano depois, a moça me ligou de novo e foi como eu consegui meu “primeiro emprego na Dança do Ventre”. Com mais de 6, 7 anos de Magistério mais a “bênção” da Layla. Fui lá: confiante, com uma professora que eu amava e que me amava também para me orientar neste início. Eu comecei assim!
E como foi que eu banquei a Dança até “o dinheiro começar a entrar”? Trabalhando, ué! Do jeito que as pessoas da minha classe fazem para aprender as coisas… Trabalhando, economizando, tendo prioridades…
Eu vivo de Dança do Ventre há apenas 6, dos 22 anos que eu danço. Por que? Porque, como conta minha mãe, a primeira coisa que eu disse na vida foi “Eu não quero!” e pra poder dizer tantos “Eu não quero” (não vou, não faço, não gosto…) que eu disse – e continuo dizendo! – na minha carreira, eu precisava de uma fonte de renda porque, com o Sapato furado você tende a “topar” muito mais do que com a sapateira em dia (e aqui, caberia uma “piscadinha”!).
Já crescidinha, durante o exercício de minhas diversas profissões, queria ser musicista, estudei piano, canto, queria ser regente… Só que a sociedade está “andando” pro que você gosta ou deixa de gostar de fazer! Ela te paga pra fazer o que você faz bem! E é por isso que eu sou bailarina! Porque danço direitinho! Olha que simples! A música? O que sei sobre música (foram 7 longos anos de conservatório pra “nunca ter pisado num palco pra tocar”!) é o que nutre minha personagem, é o que “assina” a minha dança, então, não houve o “tempo perdido” e eu continuo envolvida com música, canto uns bolerões em família, “tiro uma onda”, virou diversão, atividade “extra”. Agora, se eu dou aula de música? Não, claro que não, por razões muito simples: O que sei não é suficiente, tem gente muito melhor que eu pra ensinar isso, porque não tenho “Campo” e porque não faria aula de música comigo mesma!
E lá vou eu falar de opinião de novo! Esta é SÓ a minha opinião! Acho que a menina tem que se questionar, sabe? E, de onde tirar o dinheiro que se gasta com Dança do Ventre? Do seu bolso, oras bolas! De pessoas que desejam aprender um negócio que você ainda não está pronta é que não deve ser!