Sentimento, Técnica, Talento, Esforço…

Sabe o “Rebento” do Gilberto Gil? (“Rebento, a reação imediata, a cada sensação de abatimento… Rebento, o coração dizendo ‘Bata’ a cada bofetão do sofrimento… Rebento, esse trovão dentro da mata e a imensidão do som nesse momento”) na voz da Elis Regina? Já ouviu? Ali tem tudo de bom: composição, execução, arranjo e… a Elis “rebentando” afinadíssima enquanto canta e isso é o que compõe uma obra, esse molho, esse conjunto de coisas!

Clarice Lispector (leitura-experiência obrigatória para os que sentem) sem gramática e ortografia muito bem afinadas teria guardado boa parte do que sente para si. E nós? Como ela poderia contar pra nós? O que seria de Clarices, Elises e Gils sem a técnica? Eles iam ficar ali sentindo e a gente aqui, do “lado de fora”?

“Não durmo, não durmo, não durmo. Jazo cadáver acordado, sentindo… passam por mim, transtornadas, coisas que não são nada, todas que me arrependo e me culpo e não durmo” (Álvaro de Campos). Como sempre tive insônia, sempre senti isso “Jazo cadáver acordado sentindo, etc.” mas, pra dizer isso, pra sentimentos virarem palavras, foi preciso a “presença de Álvaro” e seu estilo cortante, profundo, sucinto, sua intimidade com as palavras, pra escrever o que sentiu e o que eu também senti e sinto.

E assim é na dança também. Imagine Mikhail Baryshnikov, Denise Stocklos, Fifi Abdo, Ana Botafogo, entre tantos outros, sentindo nada ou só sentindo, como teriam imprimido em nossa alma tudo o que sentimos quando os vemos dançar? Há quem diga que é o talento, ou o esforço ou ainda que “nasceu de quina pra Lua”, mas pra mim é a soma: sentimento + técnica + talento + esforço (nem sempre nesta ordem) mas estas coisas não caminham solitárias, separadas. O “Esforçado sem talento”, o “Talentoso preguiçoso”, o “Bom de técnica sem sentimento”, o “Cheio de sentimento sem muita técnica” (no caso destas pessoa existirem) somente passando o olho nesses rótulos já sentimos que “falta alguma coisa” e falta sim! Falta o “resto” e cada um tem o seu “resto” pra buscar. Além disto, tem o momento de cada coisa. Eu já elogiei alunas que achei muito boas – pra quem estava começando! – e, a partir do meu elogio o “muito boa” virou “pronta”, virou “você não precisa fazer aula” e não era nada disso, não existe artista que esteja “pronto”, especialmente na visão dele mesmo e é assim que, na minha opinião, deve mesmo ser porque a gente sempre pode melhorar e, por outro lado, claro, a gente sempre pode, também, piorar.

Aproveitando a presença da Clarice: “Renda-se como eu me rendi, mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa todo entendimento”.

Primeiros Passos

Você quer aprender a dançar a Dança do Ventre? Ainda não sabe como/onde/quando começar? Aqui vão algumas dicas pra esses primeiros passos:

A escolha da Escola:

Visite mais de uma escola que tenha horários compatíveis com os seus e, nesta visita, veja como é a Infra-estrutura da escola (salas de aula, banheiros, vestiários, espelhos, limpeza, etc) Verifique, ainda, se a escola oferece programação das aulas e currículo das professoras. Eu já vi estruturas incríveis sem conteúdo o contrário também. Não se deixe seduzir apenas pelo visual.

A escolha da Professora:

Antes de escolher sua professora, procure vê-la “em ação”. Verifique se ela está “em cartaz” e vá vê-la dançar, se não, veja se há vídeos disponíveis desta professora no mercado ou na Net, para ver se você se interessa pelo estilo e assista a uma aula antes de matricular-se (Sim, há vários estilos diferentes de bailarinas de Dança do Ventre).

Disciplina:

Evite faltas e atrasos porque, normalmente, as aulas têm seqüência e, perdendo uma, você começa a “boiar” e acaba desanimando.

Sua professora é autoridade dentro de sala de aula e disso depende o desenvolvimento de todas, inclusive o seu.

A única via eficiente de transmissão de conhecimento é a afetiva!

Não é possível aprender/ensinar sem amor! Dizendo isso, assim, parece uma coisa tão difícil, tão inalcançável, pensar em “amar a professora de Dança do Ventre”, mas eu não falo de amor de “morrer por ela”, falo do amor simples, amor comum, de dia-a-dia que desenvolvemos pelas pessoas de nosso convívio. O respeito, a entrega, o trato com boa vontade, essas coisas são sempre mútuas e, se não houver troca é porque elas não têm espaço.

O foco da aula deve ser o conhecimento e não o aluno ou o professor e, neste sentido, confie em sua sensibilidade e, ainda contando com sua sensibilidade, reflita sobre a diferença que pode haver entre uma bailarina que dá aula para completar o orçamento e uma professora de dança. São duas coisas completamente diferentes e que contam muito em sala de aula.

Postura, braços, mãos e véus… um só assunto!

Eu sempre disse em sala de aula (“meio” de brincadeira) que não precisa “Aula de véus”, que se a postura estiver correta, bem como braços e mãos, o véu vai ficar bonito em qualquer movimento. Essa semana recebi uma “informação” (repare nas aspas porque nunca se sabe…) que a bailarina egípcia Samia Gamal foi quem introduziu o véu em cena pois, até aquele momento, ele era um instrumento utilizado para estudo de braços! Pra mim, fez o maior sentido! Uma coisa está diretamente ligada à outra! Uma postura correta, bonita, bem como braços e mãos bem colocados, muitas vezes, especialmente no caso de Músicas Lentas, equivale a 50% da performance, ou seja, de grande importância. Além disso, a postura incorreta pode vir a causar dores e, em alguns casos, até mesmo problemas físicos mais graves. Aqui vão algumas dicas de estudo para melhorar nesse “assunto”:

POSTURA:

– Alongue-se pela manhã! São apenas 5 minutinhos, uma espreguiçada caprichada, feito a dos felinos já dá uma “preparada” no corpo. Estique, torça, boceje, tudo bem devagar, lembre-se que você acabou de “ligar o motor”!

– Cuide de sua postura, especialmente quando estiver “à paisana”, no dia a dia. Costas retas, quadril levemente encaixado, queixo paralelo ao chão e joelhos levemente (beeeeeeeeeeem levemente!) flexionados. Observe como você caminha, se senta, levanta, etc. Facilite seu trabalho na hora de dançar, já deixando isso “pronto” fora de sala de aula e/ou palco. Pra quem trabalha sentada, diante de computador, principalmente, vale colar um “recadinho” pra você mesma: “Alongue as costas, relaxe o rosto”, porque tendemos a “franzir a testa” enquanto digitamos.

BRAÇOS:

– Pense que a movimentação dos seus braços começa lá nas costas, na musculatura das “asas”. Com os braços ao lado do corpo, em pé, imagine um fio levantando seus braços a partir do cotovelo (sempre arredondando as linhas, nunca com “ângulos”). Erga os braços até mais ou menos a altura dos seios, as palmas das mãos, para o chão (o ombro paradinho, paradinho! Ele não sobe junto com o braço!). A partir deste momento, o fio que ergueu seus braços pelos cotovelos passa a ser puxado do chão, havendo assim, uma rotação obrigatória nos cotovelos, as mãos continuam com as palmas para baixo. Desça os braços, novamente. Enquanto isso, observe os pulsos, arredonde as linhas, depois, partindo desses princípios (força nas “asas”, linha puxando o cotovelo, linhas arredondadas) você pode brincar à vontade com os braços (alternados, paralelos, um pela frente e um pelo lado, etc). Sempre muito lento e de olho no espelho!

MÃOS:

– Encha uma banheira de bebê ou piscina ou tanque, qualquer recipiente grande com água e brinque com as mãos na água, movimentando a água o mínimo possível. Sem uma determinada força, claro, as mãos não se mexem e sem muita delicadeza, a água se movimenta demais. É um exercício para trabalhar leveza.

BAILARINAS PARA ESTUDAR:

Postura: Randa Kamel

Braços: Nagwa Fouad

Mãos: Suhair Zakie

DANÇA COM VÉU

Respeitando os princípios tratados acima, lembre-se que movimentação de véus pertence à categoria de movimentos Sinuosos, portanto, redondos, oitos e ondulações. Prontinho! Isto feito, o resto é absolutamente livre para brincar… Mostra, esconde, cobre, descobre, solta, gira… Leeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeve…

Dicas por escrito, claro, nunca substituem a presença de uma boa professora apaixonada por seu trabalho mas podem dar uma boa ajuda!

Perfeccionismo e Preguiça

Apesar de opostos, no exagero, ambos acabam nos levando ao mesmo lugar: Parar, estagnar. Aqui vão algumas dicas:

PERFECCIONISMO
“Ninguém é perfeito, mas todo mundo deveria tentar” rs… não sei onde li isso mas assinei em baixo e já andei repetindo por aí… Do mesmo modo que ninguém é “bom o tempo inteiro”, ou “vive sem falar mal dos outros” etc etc etc mas o esforço em uma direção, seja lá qual for, nos aproxima dela, sempre. Eu nunca parei de estudar, que sempre tenho “uma coisinha” pra melhorar, não considero isso um “defeito”, mas acredito que devemos, ao menos, tentar não sofrer com as coisas (os homens, as amigas, as mães, as espinhas). Temos nossas “coisas” e temos que conviver com elas. Receitinha simples: Ria de você mesma! Sempre que possível. Não supervalorize suas próprias limitações. As pessoas q “atingiram a supremacia absoluta” em qualquer área, se tornaram medíocres, limitadas, no exato momento em q chegaram a essa conclusão. Eu conheço uma meia dúzia delas, esse é um exemplo “real”… Quando for a um Workshop, repare em quem “desiste primeiro” (senta, dispersa, entorta a cara, etc…) normalmente são as q “menos levam jeito” e isto, claro, não é uma coincidência… Não é que “quem dança bem gosta de estudar” e sim, “quem gosta de estudar dança bem”… Já disse antes, vou dizer de novo, só talento ou só “ralação” levam a um lugar, a combinação de ambos, leva a lugares q nem mesmo a gente sonhou pra gente mesmo!

PREGUIÇA

Todo mundo tem (bem como perfeccionismo, mães, homens e espinhas…) então a gente precisa facilitar o caminho pra estudar… Ninguém (quase ninguém, pelo menos) tem disciplina pra “toda terça, das 7 ‘as 9 por uma malha e ir pra frente do espelho”. Então, algumas dicas:
1 – Veja vídeos de bailarinas que você gosta (especialmente egípcias)
2 – Ouça música árabe (muita, muita, muita!!!) As pessoas gostam! Bote no meio dos seus CD’s, não precisa “separar os mundos”, crie o hábito de ouvi-las (se não gosta de música árabe – agora vou pegar pesado! – procure outra atividade q não uma dança árabe!)
3 – Tenha um espelho enorme q não esteja “escondido”, q seja perto de onde você ouve música. Música tocando, você passando na frente do espelho, querendo ou não, vai acabar dançando!
4 -Faça aulas particulares! Sua professora vai te dar lição de casa e, sendo “obrigada” a gente acaba fazendo!

O que eu faço com esse cabelo?

Quem é que nunca acordou com essa dúvida? Especialmente nos casos dos “indecisos”, porque se é liso de uma vez, já amanhece pronto, às vezes o crespo também, não tem muito o que fazer mas tem cabelo que vai “mudando de idéia” conforme o dia, o tempo, e a pergunta vem à mente: “O que eu faço com esse cabelo?”

Sobre os lisos, não tenho idéia, os indecisos, uma vaga idéia, tendo a dizer “Larga esse pente pra lá e vamos ver o que acontece” mas a minha “especialidade” é com os crespos, que também são chamados de “ruim”, “duro”, “étnico”, depende de quem chama. Eu, particularmente, costumo dizer “duro” porque o meu, no caso, é duro, mesmo… Se tem cabelo duro e cabelo mole, o meu é duro e, acredite, eu ADORO! Acho lindo! Ando na rua vejo as negras com aquele duro, DURO, em caixa alta e gosto, gosto das esculturas possíveis de se fazer com cabelo crespo, de coques e rabos gigantes, flores, faixas e todas as possibilidades mas é um cabelo “atitude”, como muita gente me diz, a menina tem que ter atitude pra andar na rua com um cabelo que ocupa mais espaço que os demais mas, como na minha opinião, a menina tem que ter atitude sempre, o cabelo é o de menos.

Como todas sabem, sou bailarina e coreógrafa, nunca estudei nada sobre cabelo mas a experiência de cuidar do meu talvez possa ajudar outras “crespas” quando acordam em dúvida.

CALMANTES

Eu sempre faço alguma coisa para dar uma “acalmada” nele. Fiz relaxamentos minha vida inteira e agora meu cabelo “não gosta mais de relaxamento” tenho feito aquela escova com formol e queratina que dependendo do salão (e do desejo do salão de ganhar mais ou menos dinheiro com isso) tem muitos nomes possíveis. Procure um salão de sua confiança e deixe bem claro que quer manter os cachos. Dá uma boa tratada no cabelo e ele fica menos armado, com mais movimento, além de “render” mais (fica mais comprido!).

LAVAGEM

Não lave todos os dias! Cabelos crespos são naturalmente secos. A lavagem é o primeiro passo do banho porque você tem o tempo do banho para deixar o cabelo “de molho”.

Ao lavar, passe pouco shampoo, massageando suavemente a raiz com as pontas dos dedos em movimentos circulares, enxágüe bem, muito bem! Condicionador 1 (que é mais barato, somente para dar uma “soltada” nele) pode passar à vontade, não “esfregue” o cabelo, aplique os produtos como se estivesse fazendo carinho, desembarace com os dedos e enxágüe bem. Daí vem o Condicionador 2 (que já vale a pena investir um pouco mais) que pode ser, também, um creme mais espesso, de tratamento, daqueles de “pote baixo”. Vá separando o cabelo em mexas, passando o creme desde a raiz, aplicando delicadamente com as mãos. Após a aplicação, faça cachos com os dedos e prenda num coque “frouxo”. Agora, enquanto toma seu banho, o tempo faz o resto. Enxágue muito bem no final. Tire o excesso de água com uma toalha.

LIVE-IN

Crespa “séria” tem, pelo menos, uns 3 diferentes para esse momento! Eu uso várias marcas diferentes, normalmente um mais “cremoso”, um mais “gel” e óleo ou silicone, uso os três ao mesmo tempo, comedidamente. Vá passando o (s) creme (s) e óleo na mão e aplicando delicadamente, cacho por cacho, da região do pescoço para o topo da cabeça, fazendo cachos com os dedos, no final, pode dar uma “amassadinha” das pontas para a raiz, lembrando sempre de investir um pouco mais de tempo e creme nas pontas que costumam ser mais secas. Pente? O que é isso, mesmo? Ah! Lembrei! Pois é… Não uso. Meu cabelo é todo “feito à mão”.

Prontinho! Parece trabalhoso mas não é tanto assim, com um pouco de prática, vai ficando rapidinho. Seu cabelo irá agradecer muito por esse carinho todo, ficando mais leve, brilhante e soltinho.

Não passe “um quilo de live-in e pente” que o cabelo fica com aquela aparência de “pesado” e até mesmo “ensebado”, colado na cabeça, é um desperdício, deixe o cabelo voar, crespo é lindo! “Ruim”? Tem cabelo liso tão “ruim” por aí (mal tratado, sem corte, sem cor) e “Duro”? É, pode ser meio duro, sim mas é lindo! Cabelo duro é lindo, sim! Eu tenho, sempre tive e vocês não imaginam o quanto me elogiam por ele, até mesmo as que alisam! E, se alguém insistir no “Porque você não faz uma chapinha?” você responde (sorrindo!) “Porque meu cabelo é lindo! Duro é o seu coração!” (risos…)

O Larousse disse

O Larousse disse que são:

Humilde: Que está no chão, que não se levanta do chão, pouco elevado. 1 – Que tem ou aparenta humildade. 2 – Simples, modesto, pobre. 3 – Respeitoso, submisso. 4 – Medíocre, reles, obscuro.

Modesto: 1 – Que pensa a seu respeito ou fala de si mesmo sem orgulho, despretensioso, humilde. 2 – Moderado, desambicioso. 3 – Simples, pobre.

Orgulhoso: 1 – Que se orgulha, que apresenta um ar altivo, arrogante. 2 – Ufano, feliz, vaidoso.

Prepotente: 1 – Muito poderoso ou influente. 2 – Opressor, despótico. 3 – Que abusa do poder, tirânico.

Destas palavrinhas, as duas primeiras são comumente usadas para elogiar pessoas e as duas últimas, no sentido contrário. Contrário e oposto, como se estas palavras representassem antônimos umas das outras e não o são.

No sentido oposto do Humilde “que está no chão, pouco elevado”, não está o Prepotente “muito poderoso ou influente”, está o Altivo, que não se conforma ou se acomoda, o que tem força de vontade, iniciativa. Da mesma maneira que, na direção oposta do Prepotente “opressor, despótico” está o Justo, que tem bom senso e respeito pelas pessoas e não o Humilde “respeitoso e submisso”.

E, transitando por uma outra via que esbarra nestas características pessoais está o sucesso e a falta dele. Como já disseram, o dicionário é o único lugar onde o sucesso vem antes do trabalho. O sucesso vem do trabalho bem feito. E não é estar na moda, na mídia, não somente isso e a qualquer custo. É o reconhecimento da qualidade, por si próprio, pelo público e pelos colegas artistas, que traz trabalho e, consequentemente, dinheiro, talvez fama. O sucesso sem qualidade é uma coisa efêmera e escandalosa, é um balão de gás colorido, que murcha e despenca, silenciosamente.

Por outro lado, quando um artista se priva do reconhecimento e possível desfrute do seu sucesso está privando a todas as pessoas e não somente a si mesmo, do acesso e da celebração de sua conquista. Não desfrutando, não ensina nem divide.

Fama, dinheiro, qualidade, popularidade e aceitação, não andam juntas o caminho todo e, transpiração, tempo, paciência, força de vontade, estudo, amor e dedicação se abandonados, ainda que já se tenha conquistado o sucesso, este é mais um balão de gás.

Falando em Larousse:

Sucesso: 1 – Resultado feliz, êxito. 2 – Acontecimento, fato, caso, ocorrência.

Agora, volte para o espelho e Aconteça!!!

Eu perdi uma aluna

Uma não, duas! A primeira, ocupadíssima com sua carreira (e que carreira!) é daquelas mulheres tranqüilas que aos trinta e poucos, formada e muito bem formada, vive com a mãe (muito bem, obrigada!) daquele tipo que “não perde tempo com homens”, bonita, segura, forte, tão forte que pode se dar o luxo de demonstrar uma baita fragilidade e até ser menina mesmo com esse currículo todo.

A segunda, aquele outro extremo, relacionamento conturbado com a família, sempre tem o “grande amor da sua vida” ocupando todo tempo e espaço possível, vaidosa, ansiosa e linda, um ruído constante, pouco “tempo e espaço interno”, pouca contemplação, e um tesão, uma vontade de aprender, de fazer as coisas, de mudar sempre, daquelas que não sossega com o cabelo, e que não sai da frente do espelho enquanto o “movimento não estiver perfeito”, aquele olho atento, com vontade de gozar a vida, todos os dias, cada dia de um jeito diferente, chorar a cântaros e gargalhar aos berros.

A primeira, fez Dança do Ventre para relaxar e, quem sabe, uma vez por ano, com suas colegas, se apresentar em um teatro, levar a mãe e as amigas mais próximas, sem muito tempo para estudos extra, com uma carreira que exige que, às vezes, sua assiduidade e pontualidade na dança sejam postos em segundo plano, sem muita intimidade com a professora também. A segunda, tá na Dança pra arrasar! Pra ser bailarina, pra ser melhor que ela mesma a cada apresentação. Daquelas que não faltam (quase!) nunca, avisa quando vai faltar, nos apegamos, nos apaixonamos, por afinidade, com a dança, com a vida, por ser “extrema” como eu, viramos grandes amigas.

À medida que meu grupo foi deixando de ser um “grupo de alunas” e passando a ser uma “Companhia de Dança”, a primeira, olhou a cena e achou tudo muito “lá no alto”… Fora de seu alcance e além dos seus objetivos e desejos. A segunda, foi crescendo, crescendo e vendo a mesma cena como um lugar muito “apertado”, ela quer mais, muito mais, saiu voando pela cidade. A primeira, se desligou enviando um email (frio?) para minha assistente, a segunda, foi num “quebra-pau” (quentíssimo!) comigo mesma. Saíram… foram embora… anos depois, cada uma procurar o seu caminho confortável dentro da dança e acredito que nós três estejamos certas, as três seguindo o que acreditam e também cheguei à conclusão de que cada vez que “ganho” uma aluna, talvez alguma outra professora, do outro lado da cidade, tenha perdido e vice-versa. Neste exato momento, acho eu, uma professora ganha uma aluna que quer se divertir e distrair com a Dança do Ventre e o mercado recebe uma nova bailarina e é assim mesmo que as coisas são.

Eu sou apegada, tenho ciúmes, tenho saudades, admito, mas a vida tem me mostrado cada dia mais que tudo é cíclico, que nada dura para sempre, que os caminhos se cruzam e descruzam, que os relacionamentos são feitos de encontros e desencontros e que aquela velha canção ainda é atual: “O novo sempre vem!”

As aparências enganam?

Quando eu “decidi ser magra”, depois de perder os tais quilos que eram, na minha opinião, “a mais”, confesso que fiquei meio paranóica e transferi essa paranóia para as pessoas a minha volta, falando sobre carboidratos, açúcar e escadas rolantes, que foram terminantemente proibidas. Depois comecei a querer emagrecer o mundo inteiro!

Até que um dia vi uma moça gordinha subindo a escada rolante comendo um churros de doce de leite e ela parecia tão feliz! Daí, me perguntei se no fundo, no fundo, não era uma invejinha e percebi que EU preciso ser magra (sei lá porque, mas sou mais feliz assim), mas ninguém precisa parecer com nada que não queira.

No ano passado produzi um espetáculo (“Faces do Oriente”) e, na platéia, além de artistas envolvidos com Dança do Ventre, havia artistas de outras áreas, intelectuais, donas de casa, crianças, até um músico Norte Americano e um Cônsul! Depois, conversando com parte destes convidados e seus amigos, recebi elogios pela diversidade estética do espetáculo! Havia mulheres de dezoito a cinqüenta anos, de todas as cores, tamanhos e formas, profissionais e amadoras, fazendo parte de uma mesma Obra de Arte que perderia parte de seu colorido, de sua “estampa sofisticada” além de cair no lugar comum onde só entram as assim ou assado.

A escolha do assim ou do assado, somente faz sentido em uma Companhia de Dança, onde o Coreógrafo, como qualquer artista da área da Criação propriamente dita, tem liberdade e direito de definir uma estética. Tem Companhia onde somente dançam bailarinas gordinhas, ou somente nuas, negras, orientais… Algumas exigem medidas exatas, tamanho de seios, altura, outras não exigem nada disso e, no final das contas, todo mundo pode dançar!

Mas… Sempre tem um “mas” quando se fala em aparência, porque tem uma confusão com modismo, preconceito, inveja, padronização, e estas coisas vão se misturando e alguém sempre se ofende. O meu “mas” é o seguinte: Numa situação de teste, concurso, seleção, etc., havendo duas pessoas com as mesmas “qualidades curriculares”, a combinação branco/jovem/magro, no Brasil, ganha. E assim é no banco, no hospital, no comércio, e exceções a essa regra não costumam acontecer com bailarinas de Dança do Ventre. Nesse caso, bom pra umas, ruim pra outras e indiferente para as que não desejam fazer parte deste “Macro Mercado” onde tem, sim, concorrência.

Mas… E esse é um bom “mas”, A qualidade ainda prevalece! A experiência também! As aparências são levadas em conta, sim, às vezes, até enganam, mas estas que só enganam têm vida curta. E todo mundo ainda pode dançar!

A Dança do Ventre do Brasil

A Dança do Ventre veio para Brasil com os árabes, atraídos pelo comércio e, atraídos por eles, outros árabes: libaneses, sírios, iraquianos e os músicos, simplesmente, apareceram. Onde há família árabe, há festa, onde há festa, música e sendo a música árabe, dança do ventre e foi assim que tudo começou no Brasil, em São Paulo, nos anos 70/80. Por todo o Mundo, atualmente, bailarinas brasileiras trabalham e são referência, e, apesar da diversidade étnica e de estilos, há um consenso que há uma “Dança do Ventre Brasileira” e que esta tem algo de especial.

A Dança acontecia em festas e restaurantes árabes, depois em Grandes Eventos (promovidos, também, por brasileiros), surgiram bares e restaurantes com apresentações regulares e, com esta demanda, surgiu o mercado de aulas e Festivais, teve a novela “O Clone” e, com a moda, escolas, Eventos e o Mercado de Dança do Ventre atual, com Festivais Internacionais, patrocínio, etc.

E então nos perguntamos por que o Brasil? Porque o Brasil sempre teve capacidade de absorver outras Culturas, porque as mulheres brasileiras são femininas, bonitas, sensuais, porque virou moda? E então, procurando respostas, fui pro Cairo.

Eu me senti deslocada em diferentes fases da minha vida, no Magistério, no Piano, na Letras, na família “de homens” onde cresci e ser adolescente nos anos 80 não foi nada fácil. Cresci e fui ver o mundo, sozinha mesmo, já havia descoberto que as pessoas são únicas e não tinha mais o desejo adolescente de “não ser diferente da maioria”.

Assim, “deslocada”, “diferente”, me senti na Europa, com “alguma coisa fora do lugar”, a pele, o cabelo, o sorriso, a altura, tudo ou quase tudo em mim era só eu quem tinha, por onde quer que andasse na rua e, no Cairo, nos passeios pela periferia, nos ônibus, indo sozinha ao Supermercado e tendo contato com as pessoas comuns e não somente as treinadas para atender ao “gosto ocidental”, de um certo modo, me senti em casa. Nada de respostas. Fui de novo, mais um mês… Quase, quase… Nos parecemos fisicamente, no astral, no gosto pela conversa, amamos futebol, gostamos de festa.

De volta ao Brasil, a pergunta gritando dentro de mim, fui ouvir o baião, o aboio, o repente e lá estava ele: O ritmo, o molho, a África, a colonização árabe no Nordeste, a mistura, o cabelo duro e descobri (especulei, inventei, decidi, sei lá) que a mulher brasileira e a Dança do Ventre é um reencontro, uma mulher brasileira e uma egípcia se parecem mais do que uma brasileira e uma européia ou uma egípcia e uma indiana, algo muito especial e ancestral no liga.

Especulações à parte, dê uma boa olhada nas ruas do Cairo, tire os preconceitos e os lenços e você irá encontrar seu sorriso, o seu olhar, entre os rostos daquelas mulheres. Voltando ao Brasil, vá a uma quadra de escola de samba ver as egípcias sem lenço, nem preconceito, nem pudor. É tão lindo!

Quebrando a Banca (seus preconceitos, medos e mitos)

Quando começou essa “História” de “Concurso de Dança do Ventre” no Brasil, minha geração achava isso uma grande piada, sinceramente… Nós, simplesmente, nos recusávamos a fazer parte, achávamos bizarro, sem sentido, tínhamos horror a isso!

Talvez, também por esta razão, os “Concursos” passaram a ser “Não concursos”, viraram “Selos”, “Padrões”, etc, mas, na cabeça da menina que dança ainda há uma certa confusão com relação a isto. Percebo quando elas “voltam do Concurso-não-concurso” dizendo que “não passaram, mas fulana passou”, então, sim, concorrem! Às vezes, concorrem a nada, às vezes trabalho, prestígio, visualização, medalha, capa de revista e até dinheiro mas, quase sempre, “as melhores ganham alguma coisa”. Então, no caso, é concurso!

Agora, este formato (também, Graças a Deus!) tem mudado e as meninas têm participado de bancas nas quais, de fato, ganham uma coisa demasiado preciosa: A Avaliação de um artista que ela admira, olhos nos olhos, imediatamente após a “Banca”. Isto eu, particularmente, acho sensacional! Este é o tipo de banca que eu faço com prazer, porque estou oferecendo um “produto” que pode ser mais efetivo e, claro, dentro da área que eu realmente trabalho, que é o Sagrado Exercício do Magistério, coisa para a qual, acredito, eu vim a este Mundo.

Quando eu comecei a dançar, ao lado de feras como Layla, Nájua Sune, Shams, Fátima Fontes, se uma destas meninas, mais velhas e mais experientes que eu me dissesse “Esta maquiagem (roupa, perfume, acessório) não lhe cai bem” ou “Você precisa estudar isto ou aquilo” eu, simplesmente, acatava! Hoje em dia, somente dou dicas e conselhos quando sou paga para tanto, porque o dinheiro é uma garantia de que minha opinião interessa, de fato, à menina porque, muitas vezes “Eu quero sua opinião” quer dizer, na verdade “Eu quero um elogio seu” e também acontece o contrário! Eu digo à menina que ela “tem futuro” e ela ouve que “pode parar de estudar porque arrasa”, então, tenho guardado muitos elogios e críticas para mim mesma… Saio sentida, “devendo a mim mesma” mas… já disse isso antes, meu armário de saias justas está lotado demais!

Se eu vendesse pãezinhos, se a pessoa me pedisse meia dúzia deles, receberia meia dúzia de pãezinhos feitos com muito profissionalismo e cuidado, para esta “cliente” e é assim, exatamente, assim que eu avalio uma menina: Ela compra um produto e eu o entrego, da melhor maneira possível, sem muito “embrulho” (ou seria imbróglio?) para que o produto não seja confundido com a embalagem… Se você se ocupar da parte do “Olha você é linda, eu entendo que você está nervosa, você dança muito bem…” você “ocupa o espaço de um pãozinho no seu embrulho”, entende? Esta parte ela já ouve (da mãe, das amigas, do namorado, etc) o meu produto é outro: Avaliação

Se me permitem aqui vão três dicas para bem avaliar uma bailarina (na minha opinião, claro):

1 – Preste atenção ao que ela tem de bom, de facilidade. Ela sempre terá esta mesma facilidade e vale a pena “investir” nela, porque, provavelmente, esta será a sua “marca”, seu diferencial, seja um “quadrilzão”, um “sorrisão”, um “ouvido incrível”, etc. Apontar sua qualidade e, vale a pena explicar isso, significa “estude mais isto que é prazeroso pra você de estudar/executar, para que isto cresça, pois será sempre a parte mais fácil pra você e, sendo fácil e estando bom, pode tornar-se sublime através do estudo, ou, ‘sua única coisa, desde sempre’, se você se acomodar”.

2 – Aponte, claramente, o que você acredita que ela precisa melhorar, em todos os aspectos da dança que você perceba e ofereça (Sempre!) dicas e caminhos para esta melhora. “Não sei o que você pode fazer para melhorar” ela também já tem das pessoas às quais ela não paga. Portanto, se você perceber uma “coisa para ser melhorada que não é da sua alçada”, tenha humildade para consultar os colegas de banca ou, na falta da humildade (ou de tempo), não diga nada.

3 – Aceite as possíveis rejeições às suas críticas e observações! Lembre-se que nem sempre uma pessoa aceita receber um produto, apesar de ter pago por ele! E haverá rejeições sim! Eu recebo algumas vezes (não diretamente mas, claro, sempre tem alguma “boa alma” para trazer este tipo de comentário) e minha reação é a de sempre: Não faço absolutamente nada. Não faço absolutamente nada com relação a coisas que não me trarão benefícios profissionais e pessoais, nunca. Fofocas, intrigas, críticas grosseiras. Rio e saio para fumar porque “tomar um pito meu” é reservado às pessoas que eu amo e que pagam (de alguma forma) por isso.