O que eu faço com esse cabelo?

Quem é que nunca acordou com essa dúvida? Especialmente nos casos dos “indecisos”, porque se é liso de uma vez, já amanhece pronto, às vezes o crespo também, não tem muito o que fazer mas tem cabelo que vai “mudando de idéia” conforme o dia, o tempo, e a pergunta vem à mente: “O que eu faço com esse cabelo?”

Sobre os lisos, não tenho idéia, os indecisos, uma vaga idéia, tendo a dizer “Larga esse pente pra lá e vamos ver o que acontece” mas a minha “especialidade” é com os crespos, que também são chamados de “ruim”, “duro”, “étnico”, depende de quem chama. Eu, particularmente, costumo dizer “duro” porque o meu, no caso, é duro, mesmo… Se tem cabelo duro e cabelo mole, o meu é duro e, acredite, eu ADORO! Acho lindo! Ando na rua vejo as negras com aquele duro, DURO, em caixa alta e gosto, gosto das esculturas possíveis de se fazer com cabelo crespo, de coques e rabos gigantes, flores, faixas e todas as possibilidades mas é um cabelo “atitude”, como muita gente me diz, a menina tem que ter atitude pra andar na rua com um cabelo que ocupa mais espaço que os demais mas, como na minha opinião, a menina tem que ter atitude sempre, o cabelo é o de menos.

Como todas sabem, sou bailarina e coreógrafa, nunca estudei nada sobre cabelo mas a experiência de cuidar do meu talvez possa ajudar outras “crespas” quando acordam em dúvida.

CALMANTES

Eu sempre faço alguma coisa para dar uma “acalmada” nele. Fiz relaxamentos minha vida inteira e agora meu cabelo “não gosta mais de relaxamento” tenho feito aquela escova com formol e queratina que dependendo do salão (e do desejo do salão de ganhar mais ou menos dinheiro com isso) tem muitos nomes possíveis. Procure um salão de sua confiança e deixe bem claro que quer manter os cachos. Dá uma boa tratada no cabelo e ele fica menos armado, com mais movimento, além de “render” mais (fica mais comprido!).

LAVAGEM

Não lave todos os dias! Cabelos crespos são naturalmente secos. A lavagem é o primeiro passo do banho porque você tem o tempo do banho para deixar o cabelo “de molho”.

Ao lavar, passe pouco shampoo, massageando suavemente a raiz com as pontas dos dedos em movimentos circulares, enxágüe bem, muito bem! Condicionador 1 (que é mais barato, somente para dar uma “soltada” nele) pode passar à vontade, não “esfregue” o cabelo, aplique os produtos como se estivesse fazendo carinho, desembarace com os dedos e enxágüe bem. Daí vem o Condicionador 2 (que já vale a pena investir um pouco mais) que pode ser, também, um creme mais espesso, de tratamento, daqueles de “pote baixo”. Vá separando o cabelo em mexas, passando o creme desde a raiz, aplicando delicadamente com as mãos. Após a aplicação, faça cachos com os dedos e prenda num coque “frouxo”. Agora, enquanto toma seu banho, o tempo faz o resto. Enxágue muito bem no final. Tire o excesso de água com uma toalha.

LIVE-IN

Crespa “séria” tem, pelo menos, uns 3 diferentes para esse momento! Eu uso várias marcas diferentes, normalmente um mais “cremoso”, um mais “gel” e óleo ou silicone, uso os três ao mesmo tempo, comedidamente. Vá passando o (s) creme (s) e óleo na mão e aplicando delicadamente, cacho por cacho, da região do pescoço para o topo da cabeça, fazendo cachos com os dedos, no final, pode dar uma “amassadinha” das pontas para a raiz, lembrando sempre de investir um pouco mais de tempo e creme nas pontas que costumam ser mais secas. Pente? O que é isso, mesmo? Ah! Lembrei! Pois é… Não uso. Meu cabelo é todo “feito à mão”.

Prontinho! Parece trabalhoso mas não é tanto assim, com um pouco de prática, vai ficando rapidinho. Seu cabelo irá agradecer muito por esse carinho todo, ficando mais leve, brilhante e soltinho.

Não passe “um quilo de live-in e pente” que o cabelo fica com aquela aparência de “pesado” e até mesmo “ensebado”, colado na cabeça, é um desperdício, deixe o cabelo voar, crespo é lindo! “Ruim”? Tem cabelo liso tão “ruim” por aí (mal tratado, sem corte, sem cor) e “Duro”? É, pode ser meio duro, sim mas é lindo! Cabelo duro é lindo, sim! Eu tenho, sempre tive e vocês não imaginam o quanto me elogiam por ele, até mesmo as que alisam! E, se alguém insistir no “Porque você não faz uma chapinha?” você responde (sorrindo!) “Porque meu cabelo é lindo! Duro é o seu coração!” (risos…)

As aparências enganam?

Quando eu “decidi ser magra”, depois de perder os tais quilos que eram, na minha opinião, “a mais”, confesso que fiquei meio paranóica e transferi essa paranóia para as pessoas a minha volta, falando sobre carboidratos, açúcar e escadas rolantes, que foram terminantemente proibidas. Depois comecei a querer emagrecer o mundo inteiro!

Até que um dia vi uma moça gordinha subindo a escada rolante comendo um churros de doce de leite e ela parecia tão feliz! Daí, me perguntei se no fundo, no fundo, não era uma invejinha e percebi que EU preciso ser magra (sei lá porque, mas sou mais feliz assim), mas ninguém precisa parecer com nada que não queira.

No ano passado produzi um espetáculo (“Faces do Oriente”) e, na platéia, além de artistas envolvidos com Dança do Ventre, havia artistas de outras áreas, intelectuais, donas de casa, crianças, até um músico Norte Americano e um Cônsul! Depois, conversando com parte destes convidados e seus amigos, recebi elogios pela diversidade estética do espetáculo! Havia mulheres de dezoito a cinqüenta anos, de todas as cores, tamanhos e formas, profissionais e amadoras, fazendo parte de uma mesma Obra de Arte que perderia parte de seu colorido, de sua “estampa sofisticada” além de cair no lugar comum onde só entram as assim ou assado.

A escolha do assim ou do assado, somente faz sentido em uma Companhia de Dança, onde o Coreógrafo, como qualquer artista da área da Criação propriamente dita, tem liberdade e direito de definir uma estética. Tem Companhia onde somente dançam bailarinas gordinhas, ou somente nuas, negras, orientais… Algumas exigem medidas exatas, tamanho de seios, altura, outras não exigem nada disso e, no final das contas, todo mundo pode dançar!

Mas… Sempre tem um “mas” quando se fala em aparência, porque tem uma confusão com modismo, preconceito, inveja, padronização, e estas coisas vão se misturando e alguém sempre se ofende. O meu “mas” é o seguinte: Numa situação de teste, concurso, seleção, etc., havendo duas pessoas com as mesmas “qualidades curriculares”, a combinação branco/jovem/magro, no Brasil, ganha. E assim é no banco, no hospital, no comércio, e exceções a essa regra não costumam acontecer com bailarinas de Dança do Ventre. Nesse caso, bom pra umas, ruim pra outras e indiferente para as que não desejam fazer parte deste “Macro Mercado” onde tem, sim, concorrência.

Mas… E esse é um bom “mas”, A qualidade ainda prevalece! A experiência também! As aparências são levadas em conta, sim, às vezes, até enganam, mas estas que só enganam têm vida curta. E todo mundo ainda pode dançar!