Quando eu “decidi ser magra”, depois de perder os tais quilos que eram, na minha opinião, “a mais”, confesso que fiquei meio paranóica e transferi essa paranóia para as pessoas a minha volta, falando sobre carboidratos, açúcar e escadas rolantes, que foram terminantemente proibidas. Depois comecei a querer emagrecer o mundo inteiro!
Até que um dia vi uma moça gordinha subindo a escada rolante comendo um churros de doce de leite e ela parecia tão feliz! Daí, me perguntei se no fundo, no fundo, não era uma invejinha e percebi que EU preciso ser magra (sei lá porque, mas sou mais feliz assim), mas ninguém precisa parecer com nada que não queira.
No ano passado produzi um espetáculo (“Faces do Oriente”) e, na platéia, além de artistas envolvidos com Dança do Ventre, havia artistas de outras áreas, intelectuais, donas de casa, crianças, até um músico Norte Americano e um Cônsul! Depois, conversando com parte destes convidados e seus amigos, recebi elogios pela diversidade estética do espetáculo! Havia mulheres de dezoito a cinqüenta anos, de todas as cores, tamanhos e formas, profissionais e amadoras, fazendo parte de uma mesma Obra de Arte que perderia parte de seu colorido, de sua “estampa sofisticada” além de cair no lugar comum onde só entram as assim ou assado.
A escolha do assim ou do assado, somente faz sentido em uma Companhia de Dança, onde o Coreógrafo, como qualquer artista da área da Criação propriamente dita, tem liberdade e direito de definir uma estética. Tem Companhia onde somente dançam bailarinas gordinhas, ou somente nuas, negras, orientais… Algumas exigem medidas exatas, tamanho de seios, altura, outras não exigem nada disso e, no final das contas, todo mundo pode dançar!
Mas… Sempre tem um “mas” quando se fala em aparência, porque tem uma confusão com modismo, preconceito, inveja, padronização, e estas coisas vão se misturando e alguém sempre se ofende. O meu “mas” é o seguinte: Numa situação de teste, concurso, seleção, etc., havendo duas pessoas com as mesmas “qualidades curriculares”, a combinação branco/jovem/magro, no Brasil, ganha. E assim é no banco, no hospital, no comércio, e exceções a essa regra não costumam acontecer com bailarinas de Dança do Ventre. Nesse caso, bom pra umas, ruim pra outras e indiferente para as que não desejam fazer parte deste “Macro Mercado” onde tem, sim, concorrência.
Mas… E esse é um bom “mas”, A qualidade ainda prevalece! A experiência também! As aparências são levadas em conta, sim, às vezes, até enganam, mas estas que só enganam têm vida curta. E todo mundo ainda pode dançar!