A Dança do Ventre do Brasil

A Dança do Ventre veio para Brasil com os árabes, atraídos pelo comércio e, atraídos por eles, outros árabes: libaneses, sírios, iraquianos e os músicos, simplesmente, apareceram. Onde há família árabe, há festa, onde há festa, música e sendo a música árabe, dança do ventre e foi assim que tudo começou no Brasil, em São Paulo, nos anos 70/80. Por todo o Mundo, atualmente, bailarinas brasileiras trabalham e são referência, e, apesar da diversidade étnica e de estilos, há um consenso que há uma “Dança do Ventre Brasileira” e que esta tem algo de especial.

A Dança acontecia em festas e restaurantes árabes, depois em Grandes Eventos (promovidos, também, por brasileiros), surgiram bares e restaurantes com apresentações regulares e, com esta demanda, surgiu o mercado de aulas e Festivais, teve a novela “O Clone” e, com a moda, escolas, Eventos e o Mercado de Dança do Ventre atual, com Festivais Internacionais, patrocínio, etc.

E então nos perguntamos por que o Brasil? Porque o Brasil sempre teve capacidade de absorver outras Culturas, porque as mulheres brasileiras são femininas, bonitas, sensuais, porque virou moda? E então, procurando respostas, fui pro Cairo.

Eu me senti deslocada em diferentes fases da minha vida, no Magistério, no Piano, na Letras, na família “de homens” onde cresci e ser adolescente nos anos 80 não foi nada fácil. Cresci e fui ver o mundo, sozinha mesmo, já havia descoberto que as pessoas são únicas e não tinha mais o desejo adolescente de “não ser diferente da maioria”.

Assim, “deslocada”, “diferente”, me senti na Europa, com “alguma coisa fora do lugar”, a pele, o cabelo, o sorriso, a altura, tudo ou quase tudo em mim era só eu quem tinha, por onde quer que andasse na rua e, no Cairo, nos passeios pela periferia, nos ônibus, indo sozinha ao Supermercado e tendo contato com as pessoas comuns e não somente as treinadas para atender ao “gosto ocidental”, de um certo modo, me senti em casa. Nada de respostas. Fui de novo, mais um mês… Quase, quase… Nos parecemos fisicamente, no astral, no gosto pela conversa, amamos futebol, gostamos de festa.

De volta ao Brasil, a pergunta gritando dentro de mim, fui ouvir o baião, o aboio, o repente e lá estava ele: O ritmo, o molho, a África, a colonização árabe no Nordeste, a mistura, o cabelo duro e descobri (especulei, inventei, decidi, sei lá) que a mulher brasileira e a Dança do Ventre é um reencontro, uma mulher brasileira e uma egípcia se parecem mais do que uma brasileira e uma européia ou uma egípcia e uma indiana, algo muito especial e ancestral no liga.

Especulações à parte, dê uma boa olhada nas ruas do Cairo, tire os preconceitos e os lenços e você irá encontrar seu sorriso, o seu olhar, entre os rostos daquelas mulheres. Voltando ao Brasil, vá a uma quadra de escola de samba ver as egípcias sem lenço, nem preconceito, nem pudor. É tão lindo!